Operação paramilitar seria paga com petróleo venezuelano e dinheiro do país bloqueado no exterior pelos Estados Unidos
O contrato assinado entre o deputado opositor Juan Guaidó, seu assessor Sergio Vergara, o empresário venezuelano Juan José Rendón e a empresa militar privada Silvercorp foi divulgado pelas autoridades venezuelanas durante o último fim de semana. Assinado no dia 16 de outubro de 2019, ele previa os detalhes da chamada Operação Gedeón, que pretendia derrubar o governo de Nicolás Maduro.
Além de sequestrar o presidente Maduro e levá-lo aos Estados Unidos para instaurar uma Junta Patriótica Restauradora – objetivos que já eram públicos – o documento de 41 páginas também previa uma série de violações à Constituição venezuelana e ao direito público internacional.
O ofício teria validade de 495 dias, podendo sofrer um adendo de até 90 dias, e garantia o pagamento de US$ 212 milhões. O Brasil de Fato elenca a seguir cinco crimes planejados pelos golpistas.
1. Criação de novas estruturas militares com participação dos EUA
A primeira etapa da Operação Gedeón deveria durar 45 dias e previa um gasto de US$ 50 milhões com transporte, combustível e viagens. A "administração venezuelana", a cargo de Guaidó, deveria arcar com 20% do valor.
Guaidó seria nomeado comandante-chefe do comitê diretivo da operação; Sergio Vergara, como supervisor do projeto; Juan José Rendón, como chefe estrategista; e ainda seria designado um comandante militar para acompanhar as operações in loco.
O CEO da Silvercorp, Jordan Goudreau, e seus subordinados deveriam ajudar a criar uma Unidade Nacional de Ativos, que reuniria as tropas das Forças de Ações Especiais e do Diretório Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM).
2. Troca de favores
Segundo as cláusulas do contrato e gravações de ligações telefônicas entre Guaidó e Goudreau, o ex-militar e proprietário da Silvercorp se compromete a conseguir investidores privados em Washington que fariam um empréstimo para financiar o plano.
Mais tarde, o pagamento seria feito com barris de petróleo venezuelano e com o dinheiro congelado em contas no exterior pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, com uma taxa de juros de 55%. Guaidó ainda oferece preferência para futuros negócios com a Venezuela.
3. Recompensas aos militares estadunidenses
De imediato os contratantes deveriam pagar um adiantamento de US$ 1,5 milhão em até cinco dias, valor não reembolsável pela Silvercorp.
Segundo o próprio JJ Rendón, foram adiantados US$ 50 mil e o restante deveria ter sido articulado por Jordan Goudreau com investidores estadunidenses que apoiariam a Operação.
Depois de alcançado o objetivo central de derrubada do governo de Nicolás Maduro e instalação da Junta conformada por Guaidó, a Silvercorp receberia uma bonificação de US$ 10 milhões.
Os funcionários da Silvercorp teriam livre acesso ao território venezuelano, podendo apresentar apenas um documento de identificação.
Além disso, a "administração de Guaidó" se comprometeu a assumir todos os custos processuais caso a empresa estadunidense sofresse processos. Caso algum militar estadunidense fosse ferido em combate, Guaidó deveria custear toda a atenção médica, ou pagar uma pensão de US$ 450 mil ao familiar mais próximo em caso de falecimento.
4. Licença para matar
Os militares da Silvercorp atuariam em conjunto com a Força Armada venezuelana, mas de forma autônoma, podendo atacar pessoas e lugares considerados "hostis" ao novo regime. A lista inclui o presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Diosdado Cabello, o gabinete de ministros do atual governo e comandantes das Forças Armadas Bolivarianas.
Os militares da Silvercorp também deveriam destruir edifícios, qualquer avião não tripulado, inabilitar linhas de comunicação e "objetivos econômicos" do chavismo. Para isso, tinham a permissão total de porte de armas e uso de minas explosivas.
Também estavam autorizados pelo contrato a atacar civis associados ao governo Maduro e a utilizar os uniformes militares oficiais.
5. Brechas para operação militar estadunidense
No dia 20 de janeiro de 2020, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, participou da 3ª Conferência Hemisférica contra o Terrorismo, realizada em Bogotá. A atividade reuniu líderes de extrema direita de vários países do chamado Grupo de Lima, entre eles, o deputado Juan Guaidó.
Uma das conclusões da conferência era de que a Venezuela era uma base na América Latina de grupos considerados terroristas pela administração Trump, entre eles: o partido político libanês Hezbollah, o partido político colombiano Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc) e o a guerrilha colombiana Exército de Liberação Nacional (ELN).
No contrato assinado por Guaidó e Silvercorp, os militares estadunidenses teriam autorização para capturar "apoiadores" das três organizações que estivessem em território venezuelano. Essa cláusula, junto à ativação de mecanismos do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) abrem possibilidade de intervenção estrangeira no território venezuelano sob justificativa de combate ao "terrorismo".
Edição: Rodrigo Chagas
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