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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Casos de covid-19 escancaram exploração de trabalhadores em frigoríficos alemães



Abatedouros da Alemanha registram centenas de casos de coronavírus em trabalhadores estrangeiros, entre eles muitos romenos e búlgaros. Casos levantam discussão sobre péssimas condições de alojamento e de proteção social



Sede do frigorífico Westfleisch, que registrou mais de 200 casos de covid-19 entre funcionários


O homem de uns 50 anos, cabelo preto ralo, se encontra diante do edifício de tijolos de dois andares onde mora em Rosendahl, um lugarejo da região de Münsterland, no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália. Ele não quer dizer seu nome, só revela que vem de Sibiu, na Romênia. O prédio maltratado está fechado "por causa do coronavírus", explica.

Falando quase nenhum alemão ou inglês, ele parece não entender o que quer dizer "quarentena", ou seja, ficar dentro de casa. Até está usando uma proteção facial de papel, mas pendurada no pescoço, deixando a boca e o nariz de fora. Juntamente com seus compatriotas, ele trabalha na recém-fechada Westfleisch, um grande frigorífico na cidade vizinha de Coesfeld.

As autoridades ordenaram o fechamento reagindo à pressão pública, depois de se divulgar que testes de coronavírus de empregados estrangeiros tinham dado positivo. Até esta segunda-feira (11/05), o total dos infectados era 205, muitos dos quais romenos, búlgaros e poloneses.

O empregado residente em Rosendahl não sabe ou não quer dizer exatamente quantos outros romenos vivem no prédio: ele calcula 12 ou mais. Nenhum letreiro ou representante das autoridades indica que o local se encontre de quarentena. Na caixa de correio na entrada estão vários nomes romenos, registrados com caneta hidrográfica na placa de metal.

Enquanto a DW conversa com o homem de Sibiu, um de seus compatriotas passa, levando consigo uma caixa de ovos, entre outros artigos. O supermercado fica a curta distância a pé.

Ninguém se sente realmente responsável pela proteção dos trabalhadores estrangeiros, acusa Anne-Monika Spallek, porta-voz do Partido Verde no município de Coesfeld. A problemática é "empurrada de um lado para o outros entre as comunidades, o município e o estado da Renânia do Norte-Vestfália.

Ela atribui o fato aos contratos temporários que a Westfleisch fecha com subempresas que empregam os trabalhadores do Sul da Europa. As repartições de saúde da Alemanha só interferem se alguém fica doente. Spallek critica o grande abatedouro, que emprega 1.200 operários, por ter jogado para subempresas a responsabilidade de alojar os estrangeiros, e duvida que estas sempre sigam as determinações legais, incluindo as medidas de desinfecção para acomodações conjuntas.

O decreto relativo ao assunto prevê dormitórios individuais, e que os infectados sejam isolados o mais cedo possível. Empregados de quarentena, como o romeno de Rosendahl, têm que ser abastecidos com alimentos e outros gêneros de primeira necessidade, explica a política verde.

"Chega de escravidão moderna"

Pouco após essa conversa, funcionários dos departamentos de Ordem Pública, de Imigração e de Saúde chegam, de vestes protetoras, ao prédio onde moram os trabalhadores romenos, os quais aparentemente só agora estavam sendo submetidos a testes do coronavírus. Mais tarde o município de Coesfeld anuncia que foram tiradas 930 amostras dos empregados da Westfleisch.

Pastor Kossen denuncia "escravidão moderna"

"Um pouquinho tarde", critica um dos vizinhos a chegada dos funcionários públicos. Do outro lado da calçada, uma senhora expressa pena pelos operários estrangeiros do matadouro: "É gente muito pobre, que é alojada em locais miseráveis e explorada." Um idoso de bicicleta afirma que muitos moradores não compram mais nos supermercados vizinhos, por medo de encontrarem os romenos contaminados.

A 15 minutos de carro dali, munido de um cartaz onde se lê "Chega de escravidão moderna", o pastor Peter Peter Kossen e um acompanhante protestam diante da entrada do abatedouro Westfleisch. Segundo o teólogo de 51 anos, o desastre "já era previsível há semanas".

Muitos dos trabalhadores estrangeiros são colocados "em alojamentos coletivos lotados e cheios de mofo, e em locais caindo aos pedaços", não há como manter as regras de distanciamento, denuncia. O mesmo se aplica aos "ônibus superlotados em que os empregados são transportados até a fábrica de carne".

Logo atrás do pastor, a cancela para o terreno da fábrica se abre e se fecha. Embora as autoridades tenham interditado o funcionamento, caminhões e alguns empregados deixam regularmente o local. No website da Westfleisch se lê que funcionários contaminados e seus contatos estão em quarentena doméstica, e que a direção se encontra em comunicação constante com eles.

Antes das revelações sobre os testes de coronavírus na fábrica de carne na Vestfália, haviam sido detectados 109 casos em outro estabelecimento do estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha. E depois da Westfleisch, constataram-se pelo menos 22 contágios num abatedouro próximo a Bochum.

O escândalo tem consequências para Coesfeld, pois, enquanto a partir desta segunda-feira as regras de isolamento devido à covid-19 foram relaxadas no restante da Renânia do Norte-Vestfália, naquele município elas serão mantidas, pelo menos até 18 de maio.

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