Contratos apontados em inquérito somam mais de R$ 15 milhões. Uma das empresas é a Masan, que abasteceu esquema de Sergio Cabral
Ana Clara Costa
26/05/2020 - 17:23 / Atualizado em 26/05/2020 - 17:33MP investiga suspeitas de irregularidades em operação na Maré e Rio 2016 Foto: Jarbas Oliveira
Seis oficiais do Exército e da Marinha são investigados pelo Ministério Público Militar por suspeitas de fraude em licitação, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro, usando duas empresas contratadas para prestar serviços durante a segunda fase da Operação São Francisco, mais conhecida como operação de ocupação das forças de pacificação do Complexo da Maré, em 2015, e aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. As investigações tiveram início em 2016, pelo Ministério Público Federal, mas em 2019 foram transferidas para a justiça militar, que teve sua competência ampliada em razão da lei 13.491, de 2017.
O inquérito apurou irregularidades nos contratos resultantes de quatro pregões feitos entre 2013 e 2016 pelo Comando Militar do Leste, a Escola de Instrução do Exército e a Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador com as empresas FC Lavanderia e Masan, contratadas para prestar serviço de lavagem de fardas de oficiais que participavam da operação na Maré e da segurança dos jogos.
Segundo a investigação, à qual ÉPOCA teve acesso, a empresa de lavanderias não tinha os requisitos técnicos mínimos para atender a demanda, e a Masan era especializada em fornecimento de alimentos, não lavagem e limpeza. Segundo os investigadores, um dos indícios de irregularidades foi o fato de a lavagem de roupas fornecida pela FC na segunda fase da Operação no Complexo da Maré ter custado 170% a mais que a primeira fase, sendo que o mesmo efetivo havia sido empregado em ambas as etapas. Segundo o Portal da Transparência, os contratos dos quatro pregões em investigação superam R$ 15 milhões. No total, a Masan e a FC Lavanderias receberam R$ 34 milhões de reais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica nos últimos dez anos, ainda de acordo com com o portal.
Os oficiais investigados integravam áreas responsáveis por compras nas Forças Armadas. São os majores Julio Cesar Mattoso de Souza e Juliano César Neves Gonçalves, o tenente coronel Angelo Dutra, o coronel Atila Fortes de Andrade, o capitão de mar Carlos da Silva Peixoto e o suboficial Péricles Macedo de Souza -- este último, alvo de outras investigações envolvendo irregularidades. Também são investigados todos os sócios da FC Lavanderia e da Masan.
A Masan, que agora opera sob o nome de Agile Corp, passou a ser investigada no Rio de Janeiro após o desmembramento da operação Lava-Jato que apurou irregularidades nos contratos dos governos de Sergio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Marco Antonio de Luca, um dos donos da empresa, chegou a ser preso em julho de 2017, quando foi deflagrada a Operação Ratatouille, autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, e que investigava desvios em contratos do governo Cabral com empresas fornecedoras de merendas para escolas e refeições para presídios. Foi solto em dezembro do mesmo ano, após ter habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Outros cinco membros da família de Luca também foram presos naquele período, e também soltos. Segundo o Ministério Público, um cartel de fornecedores de alimentos liderado por de Luca pagou R$ 12,5 milhões em propina aos Cabral para obter contratos no total de R$ 8 bilhões com o governo do Rio entre 2007 e 2016.
Além das ligações ilícitas, de Luca e Cabral também eram amigos. O empresário chegou a participar da noitada promovida pelo ex-governador no hotel La Paiva, em Paris, em 2009, eternizada como a "farra dos guardanapos". Ele também era vizinho do ex-governador no condomínio em que tinha casa, em Mangaratiba, na região dos Lagos.
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