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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Florianópolis na VEJA

Seria muito bom que, junto com adventícios desencantados com Florianópolis, alguns marginais que integram o governo também resolvessem sair daqui. Afinal, o mau exemplo frutifica, mormente se a imunidade/impunidade ofertada/assegurada a gente proeminente da administração pública e até do Judiciário é ostensiva e debochada.

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Florianópolis, a ilha da magia, perde seu encanto

Os ataques que assustam a capital de Santa Catarina são sintoma de um processo mais complexo: a dolorosa transformação da cidade em metrópole

Gabriel Castro, de Florianópolis

Suspeitos presos neste sábado (16), em Santa Catarina - Petra Mafalda/Mafalda Press/Folhapress

A partir da década de 1990, Florianópolis se firmou como uma espécie de ímã para a classe média das grandes cidades, cansada dos problemas das metrópoles. Os atrativos que seduziam paulistas, gaúchos e argentinos eram claros: uma paisagem deslumbrante, a tranquilidade nas ruas, um trânsito sem grandes problemas e um custo de vida bem inferior ao das grandes capitais. Hoje, as praias estão bonitas como sempre. Mas violência urbana assusta, o trânsito irrita e o custo de vida desanima boa parte dos moradores da ilha - inclusive os forasteiros.


A série de ataques a ônibus em Santa Catarina, da qual a capital tem sido um dos principais cenários, parece ser um rito de passagem que confirma essa transformação. "As pessoas dizem que existiu uma Florianópolis antes dos ataques e vai existir outra depois dos ataques", afirma o médico Fabrizio Liberato, morador da capital desde os sete anos de idade.

O crescimento populacional da capital catarinense se deu bem mais rápido do que a média: em 1940, a cidade tinha 25.000 habitantes. Quarenta anos depois, o número saltou pra 150.000. Hoje, são cerca de 450.000 habitantes - considerada a região metropolitana, o total ultrapassa 1 milhão.

A Florianópolis de 2013, em que ônibus dependem de escolta policial para circular, não chegou a esse ponto de um dia para o outro: aos poucos, o crescimento demográfico levou alguns pontos da infra-estrutura urbana a um estado de saturação. Os engarrafamentos em pontos nevrálgicos da cidade são diários. Na alta temporada, interrupções no abastecimento de água e luz atingem a capital. O custo de vida de janeiro registrou a maior alta mensal desde o começo de 2011. Entre 2000 e 2010, o índice de homicídios em Florianópolis cresceu 122% - no mesmo período, São Paulo e Rio de Janeiro registraram quedas expressivas.


As queixas dos moradores são semelhantes. Lidiane Coradelli, que trabalha em um laboratório da capital catarinense, mora na cidade há 18 anos, desde que chegou do interior do Paraná com a família. Ela reclama do custo de vida, especialmente na temporada turística: "O preço é 50% maior no verão do que no inverno". Para fugir dos altos preços, Lidiane frequentemente faz compras fora da ilha. 

Da violência, ela não tem para onde fugir: "Não dá para ir a lugar nenhum à noite", afirma. Quando conversou com o site de VEJA, Lidiane havia ido checar se seu carro não havia sido furtado - um quarteirão acima, minutos antes, um veículo fora levado por ladrões. O crime ocorreu no meio da tarde, na movimentada avenida Beira-Mar Norte. Apesar dos problemas, Lidiane nem pensa em deixar Florianópolis. Mas há quem busque alternativas.

Êxodo - O Jorge Fernando da Rosa prepara sua mudança para Criciúma, no interior catarinense. Vindo de Porto Alegre, o bancário chegou a Florianópolis há doze anos, em busca de qualidade de vida. Mas, nos últimos anos, ele viu o crescimento rápido tirar parte das vantagems de Florianópolis. Um dos ônibus queimados em Florianópolis foi atacado em frente à casa do bancário, no bairro dos Ingleses. No ataque, um homem teve 90% do corpo queimado.

Jorge diz que, entre seus amigos, não é o único a fazer o movimento migratório inverso: "Muita gente já está saindo também. O famoso paraíso não é mais aquele", diz o gaúcho. Para ele, o crescimento rápido trouxe transtornos demais à cidade: "Hoje ela é uma capital com mais problemas do que outras maiores".

A comerciante Denize de Liz, natural de Lajes, no interior do estado, também se sente mais insegura hoje do que em 1993, quando chegou a Florianópolis. "Hoje está bem mais difícil. A gente evita sair em determinados horários", afirma.

O governo estadual e a prefeitura reagiram com palavras fortes diante do cenário de caos que se instalou momentaneamente na capital, com os ataques a ônibus e consequentes problemas na cirulação das linhas. O governador Raimundo Colombo assegurou que a "espinha dorsal" dos criminosos foi quebrada. O prefeito César Souza Júnior disse que não tolerará "baderneiros". Pode ser verdade. Mas o simples fato de os governantes precisarem recorrer a esses termos mostra que a ilha da magia perdeu parte do encanto.


Fonte: VEJA

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