Bicharraca e Mejillón Suicida desenvolveram desenhos provocativos que confrontam as regras heterossexuais
AVISO: reportagem contém imagens de nudez
Você vestiria uma camiseta estampada com um clitóris, uma cinta-pau ou uma próstata para jantar com sua família, seus sogros ou em uma entrevista de trabalho? Pensando na resposta da grande maioria das pessoas, as feministas Bicharraca e Mejillón Suicida iniciaram uma campanha “desobediente” para naturalizar figuras sexuais reprimidas na sociedade machista.
Pertencentes ao mundo da arte gráfica e do ativismo das redes sociais, as artistas criaram desenhos provocativos para divulgar no tumblr e twitter – as únicas plataformas aonde ainda não foram denunciadas por “comportamento inapropriado”. Depois de muitos compartilhamentos e comentários, debates e reflexões, as figuras saíram da tela para o tecido branco.
São três os modelos das camisetas: o mapa do clitóris – o grande desconhecido em uma sociedade tão sexualizada; a exploração da próstata – fonte invasiva de prazer pouco utilizada pelos homens; e a cinta-pau – que supõe o fim do pênis como origem da diferença sexual.
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A escolha dos elementos foi proposital. Eles confrontam, diretamente e de maneiras diferentes, as regras heterossexuais e machistas vigentes na nossa sociedade que dizem que “sexo é apenas sexo quando um pênis entra numa buceta”. O clitóris e a próstata mostram que a penetração não é o único caminho para o orgasmo e a cinta-pau suprime a considera principal diferença entre o homem e a mulher.
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É por esta razão que as figuras são tão emblemáticas e chocantes para a maioria das pessoas. Mas, aos olhos das ativistas, elas representam apenas um tabu que deve ser rompido em prol do prazer e da liberdade.
“A sociedade nos machuca com suas representações de sexualidade; nos diz como devemos gozar e com que fim; nos impõe construções emocionais longe da exploração e do prazer; julga, condena e ataca aqueles que desobedecem a norma; desconhece e não informa sobre nosso corpo”, explicam as feministas aoOpera Mundi. “A grande maioria das pessoas não tem ideia de como é um clitóris, consideram que é apenas um orifício evacuador!”, lamentam.
(Ativistas se inspiraram em companheiras feministas e estrangeiras, como Pussy Riot, na campanha; ao lado, camiseta com figura da próstata)
Longe de provocar ou escandalizar o público, as artistas desejam sensibilizar e abrir um espaço para o questionamento. “Não pensamos que exista absolutamente nada repulsivo em nenhuma das imagens que utilizamos; o corpo não é repulsivo”, alertam elas. “Enquanto existam pessoas que vejam essas figuras como repulsivas, continuaremos em combate”.
É esse o princípio que ambas trouxeram do coletivo Sangre Menstrual, no qual a Bicharraca tem participação ativa. Por meio de intervenções e protestos, o grupo de Madri e Valencia reivindica a naturalidade e visibilidade da menstruação em uma sociedade que a rechaça e recrimina.
O logo de Bicharraca – uma calcinha em forma de cueca manchada de sangue - é uma homenagem ao coletivo e acabou se tornando estampa da campanha “desobediente”, por brincar com a ambiguidade sexual e tentar trabalhar a “naturalização da menstruação entre os homens”.
O objetivo com as camisetas é “difundir mensagens de libertação sexual, que acabe sendo natural, por exemplo, vestir uma camiseta com um clitóris nas reuniões familiares e em qualquer lugar aberto ao público”.
Conheça mais sobre o clítoris:
E, até o momento, a recepção do público foi bastante positiva na opinião das artistas. Além de conquistar o apoio de outras feministas, elas conseguiram introduzir esses desenhos na “mente de muitas pessoas colonizadas pelo patriarcado que nos seguem (nas redes sociais) e que nem nos conheciam antes”.
As camisetas estão sendo comercializadas no site da Bicharraca e em pequenas feiras. As ativistas não encontraram nenhum estabelecimento comercial disposto a vendê-las por serem “muito atrevidas”. “Eles dizem que não querem ofender ninguém”, conta Mejjilón Suicida.
O trabalho de Bicharraca e Mejillón Suicida nos faz perguntar como em um cotidiano repleto de referências visuais explícitas a sexo, ainda não sabemos explorar nossos próprios corpos e pouco sabemos sobre o prazer. As artistas, como feministas que são, oferecem uma resposta e também uma solução: é possível viver com respeito, liberdade, solidariedade e prazer.
Confira os logos das camisetas abaixo:
Clitóris-power
Cinta-pau-power
Logo Bicharraca
Próstata-power
Fonte: OPERA MUNDI
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