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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Por que o Brasil não tem o que comemorar no dia do Meio Ambiente


O dia 5 de junho é marcado, no mundo todo, como o Dia do Meio Ambiente, criado pela ONU para chamar a atenção à questão ambiental. O Brasil, país dotado de belas paisagens, rios, mares e florestas, poderia estar comemorando. Mas de acordo com Clóvis Borges, diretor da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem, o país não tem o que comemorar. “A agenda pobre em inovações e compromissos com a conservação é um retrato do momento vivido em nosso país”, diz. Confira abaixo artigo que Borges escreveu para o Dia do Meio Ambiente.

(Bruno Calixto)

Até onde vai a nossa soberba?

Clóvis Borges

Nossa sociedade está à frente de um desafio jamais enfrentado: o crescimento populacional aliado a demandas de consumo cada vez maiores. Este fenômeno está impedindo a racionalização do uso dos recursos naturais do planeta. Nas atuais regras do jogo, o incremento de novas tecnologias não é suficiente para impedir nosso avanço na contramão, sinalizado por consistentes indicadores de insustentabilidade. E quanto mais tempo durar nossa paralisia, mais complexas passam a ser as fórmulas de um enfrentamento compatível.


Não é difícil obter um consenso teórico junto à maioria das pessoas sobre a necessidade de uma ruptura nos princípios que desconsideram as limitações do que a natureza pode nos prover. Portanto, demandamos urgentemente de mudanças inteligentes que busquem a compatibilização entre o que é possível explorar e o que é fundamental conservar e proteger. Um desafio, porém, que não pode ser mantido por discursos vazios e iniciativas enganosas – marcas registradas do que se observa na atualidade.

A agenda pobre em inovações e compromissos concretos com a conservação oferecidos pela propaganda pública é um retrato do momento vivido em nosso país, em que a janela das oportunidades de crescimento econômico não reflete avanços na agenda de cuidados com o Patrimônio Natural. O contexto ainda é estranho ou inoportuno. Gera intensas reações contrárias, mesmo com a existência de uma realidade de forte consistência técnica e comprovável com cifras que indicam os prejuízos de empreendimentos que extrapolam limites.

É necessário reconhecer uma realidade que sustenta a inibição sistemática da evolução da agenda conservacionista, um complemento fundamental do real desenvolvimento. Hoje, sustentamos na prática que este tema é bem vindo, mas como algo que, justamente, não atrapalhe o tal “desenvolvimento”. A visão obtusa continua sendo onipotente. Promove a mudança de Leis, facilita o que deveria ser executado de maneira mais consciente e impede a estruturação adequada de órgãos ambientais e de seus programas específicos, que mínguam sem qualquer condição de impôr-se frente ao modelo que ainda mantemos. E não são apenas os governos que sustentam esta situação, mas boa parte da sociedade, amparada na retórica do crescimento econômico como base única e imperiosa para seguirmos em frente.

As seguidas gestões do Governo Federal frustraram até mesmo as mais contidas expectativas que considerassem o tema da Conservação da Biodiversidade parte integrante de uma agenda de prioridades. As reiteradas exposições públicas e promessas formais que assumiram um compromisso de desempenho “sem precedentes” neste campo, mais uma vez encalham, de maneira lamentável e recorrente, presas às pautas de desenvolvimento convencional.

Os fatos reforçam posições negativistas de que possibilidades de avanços neste campo não passam de promessas no vazio, dentro da demagogia desenvolvimentista vigente. Ou, para outros, representam o romantismo de conservacionistas que se recusam a admitir que ‘as coisas são assim mesmo’ e que os prejuízos ambientais são parte inerente e indissociável dos negócios, do progresso e do desenvolvimento. E a inconsistência de nossos atos justifica-se pelos resultados obtidos hoje, independentemente das consequências que já amealhamos há tempos, inclusive.

O tempo se esvai e, com ele, as chances de alguma movimentação mais consistente que imponha à sociedade brasileira uma ruptura com a conivência lasciva que não nos traz qualquer perspectiva de cumprir um papel mais diferenciado em relação às mudanças que o mundo demanda e precisará, obrigatoriamente, realizar.

Triste não estarmos comemorando avanços nesta Semana do Meio Ambiente. Este é um dos grandes negócios que o Brasil não poderia perder.

Fonte: ÉPOCA

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