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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A esquerda abraça a ciência e a direita apega-se ao obscurantismo?


A derrota de Napoleão trouxe uma onda de obscurantismo. 
"A matemática era a algema do pensamento humano", dizia Lamartine, "respiro, e ela se rompe." 
A luta entre uma combativa esquerda anticlerical e pró-científica, que em seus raros momentos de vitória havia erigido a maioria das instituições que permitiam aos cientistas franceses funcionar, e uma direita anticientífica, que tudo fez para eliminá-las, continua desde então. 
Com isto não queremos dizer que, na França ou em outros países, os cientistas fossem particularmente revolucionários. Alguns deles o eram, como o jovem Evariste Galois, que se lançou às barricadas em 1830, sendo perseguido como rebelde e morto em um duelo provocado por fanfarrões políticos, com a idade de 21 anos, em 1832. 
Gerações de matemáticos se têm alimentado das profundas ideias que ele escreveu febrilmente durante aquela que sabia ser sua última noite de vida. 
Por outro lado, alguns foram francamente reacionários, como o legitimista Cauchy, embora por razões óbvias a tradição da Escola Politécnica, de que era o orgulho, fosse militantemente antimonarquista. 
Provavelmente, a maioria dos cientistas pertenciam à esquerda moderada durante o período pós-napoleônico, e alguns, especialmente nas novas nações ou nas comunidades até então apolíticas, foram forçados a aceitar importantes cargos políticos, notadamente os historiadores, os linguistas e outros cientistas com óbvias ligações com movimentos nacionais.

Palacky se tornou o principal porta-voz dos tchecos em 1848, os sete professores universitários de Gõttingen que assinaram uma carta de protesto em 1837 se transformaram em figuras nacionais, e o Parlamento de Frankfurt, durante a Revolução Alemã de 1848, era notoriamente uma assembleia de professores universitários e de altos servidores civis. 
Por outro lado, em comparação com os artistas e filósofos, os cientistas especialmente os cientistas naturais - demonstravam um grau muito baixo de consciência política, a menos que seus estudos ou experiências exigissem outra coisa. 
Fora dos países católicos, por exemplo, demonstravam uma capacidade notável para combinar a ciência com uma tranquila ortodoxia religiosa que surpreende o estudioso da era pós-darwiniana.

ERIC J. HOBSBAWN - A era das revoluções.

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