A Rede de Observatórios da Segurança monitora há mais de dois anos todas as ações de policiamento através de notícias de imprensa, relatos de redes sociais e postagens de blogs e contas oficiais das polícias nas redes sociais. O relatório “Raio X das ações de policiamento”, publicado na semana passada, apresenta um cenário desolador: nos cinco estados analisados, os 20.243 registros de ações de policiamento revelam que as polícias seguem investindo quase que exclusivamente em operações policiais em detrimento de ações de inteligência com foco na apreensão de armas e munições.
Na última coluna, tratei de como as polícias brasileiras só têm piorado nesses últimos anos, aprofundando as ações violentas em detrimento de atuações mais precisas, baseadas em investigações. O que sustenta essa lógica que produz morte e não avanços na área da segurança pública? A guerra às drogas é o grande pretexto que mantém as polícias atuando de maneira descoordenada, com violência, preocupada com o varejo do tráfico de drogas, enquanto aqueles que se ocupam do atacado seguem em paz em apartamentos de alto padrão nos bairros mais ricos do Brasil.
O relatório da Rede de Observatórios demonstrou que, nos últimos dois anos, o combate ao tráfico de drogas foi a principal motivação das ações de policiamento. Quase 23% das mais de 20 mil ações são motivadas por essa guerra vencida. Por mais que no último ano as ações tenham reduzido em comparação ao ano anterior, impressiona a manutenção da lógica de policiamento, voltadas à repressão do tráfico de drogas nas favelas e comunidades, com violência e sem investigação. Uma política que não tem produzido mudanças na segurança pública etem custos bilionários todos os anos
O fato é que boa parte das drogas que hoje são proibidas no Brasil e em outros países do mundo são menos danosas ao usuário e aos que se relacionam com ele do que as substâncias legalizadas e fartamente consumidas.Membros do Independent Scientific Committee on Drugs analisaram o uso de drogas lícitas e ilícitas sob múltiplos critérios e demonstraram que o álcool é a substância que produz o maior dano quando somados os danos ao usuário e aos outros.
O racismo entranhado em nossa sociedade sempre encontra novas formas de se apresentar, deixando um rastro de morte a cada ano que passa. Em 2006 foi aprovada a atual lei de drogas do Brasil. De 2009 até 2019, foram mortos 333.330 jovens com idades entre 15 a 29 anos e 77% de todas as vítimas de mortes violentas ocorridas em 2019 eram negras. Boa parte dessas mortes poderiam ser evitadas se adotássemos postura diferente em relação à proibição das drogas. Seja pela bala da polícia que atinge negros de forma desproporcional
E sempre haverá políticos que, na tentativa de angariar votos de setores conservadores da sociedade, seguirão reforçando o discurso da guerra às drogas. Ser visto como o governador que está dando respostas ao problema das drogas, mesmo fazendo uso da violência, é especialmente importante em ano de reeleição. ARede de Observatórios apontou um aumento do número de operações no segundo trimestre de 2022, às vésperas do início da campanha eleitoral. Segundo o governador Cláudio Castro, “se eu fosse me basear por pesquisas, faria mais três operações como a da Vila Cruzeiro, uma por semana”. E ele tem feito.
ESeC), no Rio de Janeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário