Alguns amigos do meu blog e do Facebook devem estranhar meu hábito de ficar postando temas musicais.
Com efeito, sou apaixonado por música e, para meu consolo, estou bem acompanhado, por ninguém menos que o mais famoso bardo da literatura inglesa, senão vejamos:
- Vede como procede uma manada selvagem e impetuosa, ou um alegre bando de potros não domados: loucos saltos dão sem parar, mugindo e relinchando, como os leva a fazer o quente sangue.
Mas se o som de um clarim, acaso, escutam, ou se lhes fere as ouças (*) qualquer música, notareis como estacam de repente, expressão de doçura a refletir-se-lhes no olhar selvagem, pela doce força, tão somente, da música.
Por isso disse o poeta que Orfeu tinha o poder de atrair com seu canto as próprias pedras, as árvores e as ondas, visto como não há nada insensível, cruel e duro que não possa a música, com o tempo, mudar a natureza.
O homem que música em si mesmo não traz, nem se comove ante a harmonia de agradável toada, é inclinado a traições, tão só, e a roubos, e a todo estratagema, de sentidos obtusos como a noite e sentimentos tão escuros quanto o Érebro.
De um homem assim desconfiai sempre.
Texto de SHAKESPEARE - O mercador de Veneza.
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(*) Ouças - Ouvidos. O tradutor usou o vocábulo, na obra mencionada, em mais de uma ocasião. Foi a primeira vez que vi usarem tal expressão.
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