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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Segunda Guerra Mundial: Espanha participou da matança de soviéticos e judeus


Imprensa




Edição 1981 de 23 a 29 de junho de 2013
Euler de França Belém

Os historiadores debatem, às vezes com fúria, as razões de os republicanos terem perdido a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) para o generalíssimo Francisco Franco. Os motivos são vários e não há espaço para discuti-los neste texto. Mas é possível sugerir que os aliados de Franco, os alemães e os italianos, foram mais “competentes” do que os aliados dos socialistas e comunistas. A Alemanha de Adolf Hitler testou armas, aviões e homens na Espanha. A União Soviética de Stálin deu apoio aos republicanos, mas, pouco a pouco, numa paranoia sem fim, retirou-o — deixando socialistas, comunistas e anarquistas sem amparo. Até as reservas em ouro da Espanha Stálin tomou e não devolveu. Há quem diga que os stalinistas estavam mais interessados em matar trotskistas e, mesmo, anarquistas e socialistas independentes do que franquistas. Como recompensa pela colaboração decisiva, Franco enviou 50 mil homens para lutar com os alemães no front soviético. O pesquisador Jorge Martínez Reverte documenta a história no livro “A Divisão Azul — Rússia, 1941-1944” (RBA, 512 páginas), que saiu na Espanha na semana passada. Comento-o a partir de resenha de Julián Casanova e de texto de Reverte, ambos publicados no jornal “El País”, no sábado, 5. Depois da guerra, Franco tentou tirar o corpo fora — insinuando que a Espanha tinha sido relativamente neutra.


Em 1941, “enganando” Stálin, então seu aliado, Hitler articula a Operação Barba-Roxa. A Espanha fascista, comandada pelo ditador Franco, decidiu participar da campanha de ataque à União Soviética. Enviou 50 mil homens e 5 mil morreram na guerra. Em 22 de junho de 1941, no Hotel Ritz de Madri, três chefões do governo franquista — Ramón Serrano Suñer, ministro de Assuntos Exteriores, Dionisio Ridruejo e Manuel Mora Figueiroa, do alto escalão falangista — decidiram que a Espanha não poderia ficar de fora do ataque para varrer a URSS do mapa. Em troca, o governo espanhol receberia o controle de Gibraltar, o Marrocos francês e o Oranesado. “Um império”, diz Reverte.


Radical de direita, Serrano Suñer vociferou: “A Rússia é culpada”. A primeira leva tinha voluntários, falangistas e oficiais experientes da Guerra Civil . Todos professavam ardente ódio à Rússia bolchevique, aos judeus e aos maçons — seguindo a ideologia nazista. O general Agustín Muñoz Grandes é o primeiro comandante das tropas. Em Munique, os espanhóis aprenderam a usar armas alemãs e juraram fidelidade a Hitler — “até a morte”. Foram para a Rússia vestidos em uniformes alemães.


No caminho para Moscou, atravessaram a Lituânia e entraram no território da Bielorrússia. Os soldados seguiram a pé, pois os cavalos eram poucos. Os animais que morriam viravam alimentos. Os espanhóis começaram a se relacionar com nazistas e judeus. Perceberam, sem nada fazer, que os nazistas matavam judeus pelos motivos mais fúteis. Os únicos judeus que recebiam alimentação eram os que trabalhavam — os demais passavam (e morriam de) fome. Os “filhos” de Franco participavam de enforcamentos e fuzilamentos de supostos partisans. “Morriam cem partisans para cada alemão”, conta Reverte. Todo judeu era visto como partisan.


As matanças de judeus em câmaras de gás são mais citadas, porque mais escandalosas. Mas, como afirma Reverte, milhares de judeus foram assassinados friamente por nazistas e seus aliados, como parte da “operação limpeza” preconizada pela política racista dos alemães. Os italianos disseram não, pelo menos em parte, à liquidação de judeus, eslavos e ciganos. Os espanhóis, pelo contrário, foram à Rússia para liquidar todos aqueles que eram apresentados como “inimigos da Alemanha”. Ouviam o tempo todo, dos alemães e de seus chefes militares, que os judeus e os bolcheviques eram inimigos.


Os espanhóis se envolveram em combates ferozes. “Lutaram, quase sempre, com grande valor contra um inimigo que defendia sua pátria, e o fizeram em condições extremas — a 40º graus abaixo de zero”, relata Reverte. A ação mais consistente se deu no outono de 1942. “Os voluntários participaram diretamente do assédio a Leningrado. Cercaram a cidade e tiveram papel de protagonistas na morte — por fome, frio ou metralha dos canhões — de mais de 1,4 milhão de civis (idosos, jovens, crianças, homens, mulheres).”


O julgamento de Nuremberg condenou vários criminosos de guerra, notadamente nazistas alemães. Um dos processos era contra militares da Wehrmacht. “Dos 14 acusados, três haviam sido chefes diretos dos espanhóis da divisão 250ª: o marechal Wilhelm von Leeb, chefe do grupo de exércitos do norte; o general Georg von Kügler, chefe do 18º Exército, e o general Karl von Roques.” Eles foram “declarados culpados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade”. “Todos os comandantes que foram condenados pertenciam à Wehrmacht, ao exército profissional alemão — não à SS.” Eles executaram, “com aplicação, as ordens recebidas, seguindo as instruções do comando supremo” — Hitler e cúpula do nazismo.


Reverte escreve que, “gostem ou não [os conservadores espanhóis], os voluntários católicos e falangistas fizeram parte da guerra [de extermínio]. Eles juraram obedecer [e obedeceram]. Detiveram supostos partisans, executaram suspeitos, entregaram aos alemães os prisioneiros para que fossem interrogados de forma severa [torturados]. E contemplaram com passividade como seus camaradas alemães disparavam nos prisioneiros que caíam exaustos [e não conseguiam marchar ou trabalhar]. Calaram sobre assassinatos de judeus. E observaram, fascinados, os bombardeios dos aviões Stuka sobre Leningrado e sua população civil”. Noutras palavras, embora tendam a atribuir os crimes “apenas” aos cruéis alemães, os espanhóis tiveram ampla responsabilidade sobre a morte de judeus e outros povos da União Soviética (na época, ao contrário do que sugere Reverte e “El País”, não se pode falar somente em Rússia, que era apenas uma das repúblicas soviéticas).


Os espanhóis saíram da guerra em 1944, “quando os últimos, os irredutíveis pró-nazistas, são obrigados a voltar. Seu coronel, Antonio García Navarro, cobrou um fim heroico” aos militares espanhóis: “Sabem o que pede a Legião? Pede para que morram” (lutando). Claro que todos optaram pela sobrevivência e fugiram da fúria dos soviéticos. “Muitos militares ascenderam. Alguns soldados conseguiram empregos” ou continuaram nas forças armadas.

Na resenha “Por que foram tão longe?”, Julían Casanova conta que o pai de Reverte, Jesús Martínez Tessier, esteve no front soviético. Assinala que muitos dos militares, despreparados, eram operários e camponeses pobres. Receberam a informação de que seriam bem recompensados.

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