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quinta-feira, 16 de abril de 2020

Mas bandida é só a China!!!

O exemplo mais notório de como os governos se curvam diante do dinheiro foi a Primeira Guerra do Ópio, travada entre a Grã-Bretanha e a China (1840-1842). Na primeira metade do século XIX, a Companhia das Índias Orientais e vários homens de negócio britânicos fizeram fortuna exportando drogas, principalmente ópio, para a China. Milhões de chineses ficaram viciados, o que debilitou o país do ponto de vista tanto econômico quanto social. 
No fim dos anos 1830, o governo chinês proibiu o tráfico de drogas, mas os comerciantes britânicos simplesmente ignoraram a lei. 
As autoridades chinesas começaram a confiscar e destruir os carregamentos de droga.
Os cartéis de droga tinham relação com Westminster e na Downing Street - na verdade, muitos membros do parlamento tinham ações nas empresas de droga -, de modo que eles pressionaram o governo para agir.
Em 1840, a Grã-Bretanha declarou guerra à China em nome do "livre comércio". Foi uma vitória fácil. A China, excessivamente confiante, não foi páreo para as novas superarmas dos britânicos - navios a vapor, artilharia pesada, foguetes e fuzis de disparo rápido. 
Segundo o Tratado de paz que se seguiu, a China concordou em não restringir as  atividades dos comerciantes de drogas britânicos e em compensá-los pelos danos causados pela polícia chinesa. Além disso, a Grã-Bretanha exigiu e obteve o controle de HOng Kong, que eles passaram a usar como uma base segura para o tráfico de drogas (Hong Kong continuou nas mãos dos britânicos até 1997). 
No fim do século XIX, cerca de 40 milhões de chineses, um décino da população do país, eram viciados em ópio.
YUVAL NOAH HARARI - Sapiens (uma breve história da humanidade) -  L& PM Editores/P. Alegre-RS/2019, ps. 436/437.

Houve ainda uma segunda Guerra do ópio: em 1856, o Reino Unido, ajudado pela França, aproveitou o incidente com um barco em Cantão para nova investida, iniciando a Segunda Guerra do Ópio.

Em 1860, britânicos e franceses ocupam Pequim.

Derrotada, a China foi obrigada a fazer novas concessões.

A Inglaterra, como é sabido, mas pouco divulgado, auferia lucros exorbitantes da ordem de R$ 11 milhões com o tráfico de ópio para a cidade chinesa de Lintim.
Ao passo que o volume de comércio de outros produtos não ultrapassava a cifra de R$ 6 milhões. Em Cantão, o comércio estrangeiro oficial não chegava a US$ 7 milhões, mas o comércio paralelo em Lintim atingia a quantia de US$ 17 milhões.
Com este comércio ilegal, empresas inglesas, como foi o caso da Jardine & Matheson, contribuíram para proporcionar uma balança comercial superavitária para a Inglaterra, mesmo que, para tal, fosse necessário o uso de navios armados a fim de manter o contrabando litorâneo. Tudo isso acontecia com a aprovação declarada, e documentalmente registrada, do parlamento inglês, que por inúmeras vezes manifestou os inconvenientes da interrupção de um negócio tão rentável.
A extraordinária difusão do consumo do ópio na Inglaterra do século XIX, ilustrada literariamente na popular figura do detetive cocainômano Sherlock Holmes, foi um sintoma da crise do colonialismo inglês. Nas palavras de Karl Marx (O capital), a idiotice opiácea de boa parte da população inglesa era uma vingança da Índia contra o colonizador inglês.
Foi o que levou a própria Inglaterra a promover, em 1909, uma conferência internacional, em Shangai, com a participação de treze países (a Opium Commission). O resultado foi a Convenção Internacional do Ópio, assinada em Haia em 1912, visando ao controle da produção de drogas narcóticas. Em 1914, os EUA adotaram o Harrison Narcotic Act, proibindo o uso da cocaína e heroína fora de controle médico. Severas penas contra o consumo foram adotadas em convenções internacionais das décadas de 1920 e 1930. Desde o início, a repressão privilegiou o consumidor.
Com a nova explosão de consumo, uma nova mudança se opera, e, em abril de 1986, o presidente Reagan assina uma Diretiva de Segurança Nacional, definindo o narcotráfico como “ameaça para a segurança nacional”, autorizando as forças armadas dos EUA a participarem da “guerra contra as drogas”.
Em 1989, o presidente Bush, numa nova diretiva, ampliou a anterior, com “novas regras de participação” que autorizavam as forças especiais a “acompanhar as forças locais de países hospedeiros no patrulhamento antinarcóticos”. No mesmo ano, cursos “para combater guerrilheiros e narcotraficantes” tiveram início na Escola das Américas de Fort Benning, antigamente sediada no Panamá, vestibular de todos os ditadores latino-americanos.


Como dito, o feitiço virou contra o feiticeiro: NATHANIEL PHILBRICK - No coração do mar (A história real que inspirou o Moby Dick de Melville) - Edit. Schwarcz Ltda (Cia das Letras)/SDP/2000, p. 39 e seguintes, relatou o consumo de ópio pelas mulheres de Nantucket, durante a prolongada ausência dos maridos, nas atividades de caça às baleias.
Claro que, para os inescrupulosos capitalistas ingleses, melhor que também os seus compatriotas lhes aumentassem os lucros.

-=-=-==-

Hoje, as séries da Netflix  focam nos traficantes sulamericanos (principalmente colombianos), da América Central (México), mas na bandidagem inglesa dos tempos referidos não se toca. 
E, para desespero dos europeus e principalmente dos EUA, notórios aliados, o ópio está a viciar legiões de cidadãos, trazido o vício também do Vietnam, pelos soldados ocidentais. 

Outra guerra que ninguém ousa deflagrar é contra os laboratórios ocidentais que produzem drogas incontáveis, de efeitos funestos, rotuladas como remédio contra insônia e coisas do gênero, cujas implicações colaterais são desastrosas, conforme as próprias bulas. 
E quem são os acionistas de tais laboratórios senão as mesmas elites ocidentais? 
Não desconheço que entre os chineses, obviamente, também existem capitalistas (e são muitos) igualmente inescrupulosos, mas  afigura-se injusto rotular-se a China (onde impera o capitalismo de Estado), exclusivamente, como responsável pelas mazelas da humanidade, como se faz presentemente.  

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