MARCOS AGUINIS, na sua obra A saga do Marrano (Ed. Palíndromo Ltda), humanista como poucas que conheço, fez a descrição de uma cirurgia de amputação da perna de um religioso, por volta do século XVII, que todo médico de hoje deveria ler e que a nós, leigos em Medicina, impressiona vivamente, certamente bem mais que a eles, que são do ramo.
Procedimentos, conceitos, remédios da época e conselhos médicos como as queimaduras se curam melhor com cebolas picadas, não faltam no todo dos escritos. A descrição dos negros leprosos, segregados em um bairro chileno, é apocalíptica, ao mesmo tempo que sublime.
Os escritos versam, no todo, sobre a perseguição dos católicos, na época da Inquisição espanhola, na Europa e aqui no Novo Mundo, com destaque para o Perú.
São primorosos tais escritos, que misturam dados históricos com fantasia, de maneira que prendem o leitor com muita maestria.
Outra passagem marcante da impressionante obra é a perseguição de um porco por um carniceiro, até a degola e destrinchamento do animal, tema sensível e que impressiona pela crueza da descrição.
Para os que lutam pela causa animal, obviamente, é muito chocante e, por que não dizer, revoltante?
Na época que vivemos - quando se fala tanto em nazismo, fascismo, genocídio e temas afins - é importantíssimo que se rememore o tema da Inquisição, o holocausto dos séculos XVI e XVII, pois a crueldade atingiu, muito mais que aos judeus, aos íncolas das Américas, tema que a obra também aborda, de modo bastante competente. O martírio que atingiu os negros arrancados da África para os horrores da escravidão nas Américas também foi um tema recorrente nas abordagens humanistas do escritor, o qual lembrou, com propriedade, que não houve um frei Bartolomé da Las Casas a gritar contra as injustiças que os atingiram, como se fez em defesa dos índios.
O livro cita, até Nossa Senhora, a Antiga, patrona dos graus acadêmicos.
Os operadores do Direito também podem tomar tento aos inconvenientes da delação, tema que o livro aborda com insistência e, por estar tão em voga, avaliar se deve, ou não, valer como prova, independentemente de outros adminículos.
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