Relendo a famosa (pioneira) obra de PAULO JOZÉ MIGUEL DE BRITO, intitulada Memória Política sobre a Capitania de Santa Catharina, escrita em 1816 e publicada em 1829, a qual nossos historiadores citam repetidamente, atentei para algumas coisas interessantes, contrastantes com os valores atuais, que levam em conta a importância ambiental de qualquer simples olho d'água, de uma minúscula abelha, de um "repugnante" morcego, de um "fedido" gambá, de uma singela lagartixa, de uma "insignificante" minhoca, etc...
A motivação para a releitura da obra mencionada acima foi aquele desastre ambiental ocorrido na nossa Lagoa da Conceição, o estado sempre preocupante do Rio do Bras, o tratamento dado 'as águas da Bahia Norte, que tantas diatribes ensejam - inclusive de minha parte - contra os gestores públicos, da administração direta e indireta (Casan).
Pois bem: a minha dúvida era sobre a consideração dada pelos mais antigos aos nossos cursos e corpos d´água.
Vejamos o que escreveu o aludido Paulo J. M. de Brito sobre os rios da Ilha:
Na Ilha de Santa Catharina ha os rios de Ratones, o Vermelho, o do Tavares, que não merecem particular atenção; assim como ha outros ainda menos dignos d'ella, aos quaes no paiz chamão vulgarmente córregos.
Lagôas - A unica Iagôa consideraveI que há em toda a Capitania, he aquella geralmente conhecida pelo nome de Laguna.
( p. 33).
O que se pode inferir, de imediato, das considerações do escritor sob comento é que, o que hoje consideramos da maior relevância, ele achou desprezíveis (os rios). Quanto às Lagoas da Conceição e do Peri, sequer as referiu nominalmente, tamanha a insignificância a elas atribuída.
Sobre Canasvieiras, como já comentei em postagens anteriores, confirma aquele português que o verdadeiro nome do nosso distrito, então provável vila, era Canavieiras (ps. 5, 14).
O nome da fortaleza mais conhecida da Ilha de SC, informou que sua construção foi iniciada em 1739 foi grafado como Inhato-merim.
Quanto à fortaleza da Ponta Grossa diz que começou a ser erigida no ano seguinte.
Outro assunto que há alguns dias comentei, reportando-me a uma postagem de Carlos Damião, foi a denominação do distrito de Enseada do Brito, que o historiador e museólogo Peninha entende mais adequado dizer-se Enseada de Brito.
Pois bem, o Brito escritor, referindo-se ao Brito fundador de Laguna (a vila), não comunga da tese de Peninha:
Das Memorias antigas que já citei, consta que o fundador da ViIla da Laguna Domingos de Brito fora também para Santa Catharina, pelo mesmo tempo em que foi Velho Monteiro; que aquelle se estabeleceu la na terra firme na enseada a que deo o seu nome e que ainda hoje se chama do Brito; mas que descontente do local foi para o sul, e se estabeleceo na Laguna.
( p. 18, nota de rodapé 1)
Na página 43, da mesma obra, o escritor voltou a referir a Enseada do Brito.
O nosso porto, hoje totalmente inexpressivo e desconsiderado pelos administradores, foi muito valorizado pelo escritor suso-aludido, senão vejamos:
A vantajosa posição geographica da Ilha de Santa Catharina, o seu exceIlente porto, muito frequentado pelos navios que hiâo da Europa para o rio da Prata e Mar Pacifico, e outras razoes politicas determinarão em fim o Senhor D. João V. em 1738 a formar com a Ilha e terra firme adjacente huma Capitanía ou governo separado, independente da de S. Paulo, a que haviam pertencido até aquelIa epocha.
(p. 20)
Tem mais: a decisão pelo estabelecimento do governo na Ilha de SC, foi do primeiro governador, Brigadeiro José da Silva Paes:
Propoz em primeiro lugar que a residencia do governo fosse e devesse ser na Ilha, e não na terra firme
(p. 21)
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Obs.: a grafia dos trechos transcritos é a da Língua Portuguesa da época da impressão da obra
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