Pesquisa do aerossol nasal EXO-CD24 está em fase preliminar. Netanyahu elogiou os resultados prévios a seu aliado brasileiro e outros governantesBolsonaro e Netanyahu em Israel em uma imagem de setembro de 2019.RONEN ZVULUN
JUAN CARLOS SANZ
Jerusalém - 17 FEV 2021 - 18:36
O presidente Jair Bolsonaro anunciou que pediria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aprove com urgência um spray israelense para tratar os sintomas respiratórios da covid-19 “com quase 100% de eficácia”. Na verdade, o aerossol EXO-CD24 ainda não nasceu nos laboratórios do hospital Ichilov de Tel Aviv, onde apenas deu passos preliminares, ainda que promissores. Na primeira das três fases do estudo, 29 dos 30 pacientes analisados se recuperaram de sintomas “moderados e graves” em um prazo de três a cinco dias. A imprensa israelense anunciou imediatamente a boa nova, mas nenhuma das grandes revistas científicas, que aplicam uma revisão exaustiva feita por especialistas, publicou o estudo até agora. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não hesitou em chamá-lo de “medicamento milagroso”.
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No vibrante ecossistema de inovação científica e tecnológica de Israel as descobertas são precoces e propagandeadas aos quatro ventos, mesmo que depois não sejam concludentes. Assim avança a pesquisa —com grande financiamento público e privado— sem medo ao fracasso por resultados efêmeros. E graças também a previsões otimistas, como as de Netanyahu, que persegue a reeleição no mês que vem pela quarta vez em dois anos. “Se (o EXO-CD24) funcionar, será algo enorme, simplesmente enorme, em escala global. Desejo que tenha sucesso”, prognosticou o médico Nadir Arber, diretor da pesquisa que o desenvolve. “Essa coisinha (o spray) pode mudar o destino da humanidade. É algo impressionante”, frisou no dia 8 de fevereiro.
Poucas horas depois, em um pronunciamento conjunto com o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, Netanyahu segurou uma amostra do spray, que chamou de “medicamento milagroso”. “Se você está infectado pelo coronavírus, gravemente doente e com problemas pulmonares, pegue isso, inale e começará a sentir-se melhor”, recomendou o chefe do Governo de Atenas.
Três dias depois, Bolsonaro, tachado de negacionista da pandemia, anunciou nas redes sociais que iria ligar para Netanyahu para eventualmente importar o spray ao Brasil. “Você está em estado grave? Toma, poxa. Ou vai esperar ser intubado? Quem fica somente com as vacinas é um idiota, porque é preciso ter várias opções”, enfatizou o presidente durante uma live na última quinta-feira. Antes já havia promovido o uso de outros medicamentos, como a cloroquina, cuja eficácia contra a covid- não foi comprovada.
A ligação foi feita na sexta-feira. “Falamos do medicamento israelense que, até agora, está obtendo grande sucesso no tratamento de casos graves”, disse o presidente. Na segunda, Bolsonaro adiantou que, após conversar com seu “bom amigo” Netanyahu, “enviará uma solicitação de análise à Anvisa” para avaliar uma possível aprovação de uso emergencial do EXO-CD24. O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia, com mais de 240.000 mortes (o que o coloca atrás somente dos Estados Unidos) e quase 10 milhões de contágios.
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O EXO-CD24 serve para moderar a espiral inflamatória produzida pelo próprio sistema imunológico dos doentes e para prevenir a chamada tempestade de citocinas, potencialmente letal. “O medicamento é inalado uma vez por dia durante alguns minutos, por cinco dias, e é dirigido diretamente aos pulmões”, declarou o doutor Nadir Arber ao portal digital Times of Israel. “Os resultados da primeira fase são excelentes”, afirmou por sua vez Roni Gamzu, diretor do hospital Ichilov e ex-coordenador nacional da pandemia em Israel.
A informação disponível sobre o spray “milagroso”, entretanto, continua sendo incompleta. O laboratório do hospital de Tel Aviv ainda não publicou resultados oficiais de sua pesquisa e se ignora, por exemplo, se foi administrado um placebo a um grupo de controle durante o teste.
Há aproximadamente um ano, a imprensa israelense publicou a iminente obtenção de uma vacina contra o coronavírus desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Biológica. O centro, ligado ao Ministério da Defesa e ao Gabinete do primeiro-ministro, ainda continua trabalhando em sua busca. O primeiro voluntário do teste em andamento foi inoculado neste mês com um placebo.
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