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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Dinheiro e poder se chocam com a Justiça no caso do pedófilo amigo de Trump





Bilionário norte-americano abusou em sua mansão de dezenas de meninas protegido por um círculo de amizades de elite que olharam para o outro lado










Sandro Pozzi



Nova York 14 JUL 2019 - 21:05 BRT
Fotografia de Jeffrey Epstein no registro de delinquentes sexuais. REUTERS


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Jeffrey Epstein, preso em 6 de julho, é um pedófilo em série que conseguiu ficar de fora da lista do Me Too. Como um predador sexual que abusou durante anos de dezenas de meninas ficou impune apesar da montanha de evidências que existia contra ele? A resposta: com muito dinheiro, muito poder e muita ajuda.

A mansão que o empresário tem no 9 East 71st Street de Nova York – uma das maiores de Manhattan – é o epicentro da trama. Lá, de acordo com o auto de prisão, é onde Epstein pressionou várias meninas para que lhe dessem favores sexuais em troca de dinheiro. Uma delas é Jennifer Araoz. Na ação que apresentou nessa semana, a vítima conta que a sala para massagens era a “favorita” do acusado. Era decorada com anjos e nuvens para que parecesse o Céu. Também menciona várias pinturas de mulheres nuas nas paredes.

A imprensa local descreve a mansão – que o bilionário comprou do empresário Leslie Wexner, chefe do conglomerado que controla, entre outras, a empresa de lingerie Victoria’s Secret – como uma fortaleza, equipada com sistemas de segurança que lembram um filme de James Bond. Isso não evitou que o FBI entrasse à força na casa procurando novas evidências após sua prisão. Em um cofre encontraram um CD com centenas de fotos de suas vítimas, algumas completamente nuas.

Na casa também há fotos de figuras influentes como Bill Clinton, Woody Allen e o príncipe saudita Mohammad bin Salman. Epstein deu um jantar ao ex-presidente democrata em que compareceram, além de Wexner e Donald Trump, milionários como Mort Zuckerman e o cofundador da Google Sergey Brin. Epstein, de 66 anos, costumava alardear a “coleção” de amigos famosos que tinha.

A Promotoria de Nova York estima sua fortuna em 500 milhões de dólares (1,9 bilhão de reais) e renda de 10 milhões por ano (37 milhões de reais). A origem de sua riqueza é um mistério. O bilionário era um garoto da classe trabalhadora – seu pai era funcionários de parques – nascido em Coney Island que desejava ser rico. Dando aulas de matemática a garotos do abastado bairro de Upper East Side descobriu que podia fazer muito mais dinheiro em Wall Street.

Começou sua carreira no banco de investimento Bear Stearns, que não existe mais. Após seis anos lá, ganhou independência e criou seu fundo para gerir o patrimônio de famílias com mais de 1 bilhão de dólares (4 bilhões de reais) em ativos. Ele se apresentava como o arquiteto das finanças pessoais de seus clientes, mais do que um simples assessor. Queria que entendessem o poder que seu dinheiro possuía.

Wexner foi um de seus primeiros clientes. A estimativa é que geria 15 bilhões de dólares (56 bilhões de reais) em ativos. Com esse cartão de apresentação, convidava seus amigos a sua ilha no Caribe e ao seu rancho no Novo México e oferecia generosamente seu avião, conhecido como Lolita Express, aos seus contatos. “Deve existir muita gente importante suando frio” disse Julie Brown, autora da investigação do Miami Herald que ressuscitou o caso de Epstein, esquecido há 11 anos.
Prostituição

Epstein foi investigado em 2005 por abusar de uma menina de 14 anos em sua casa em Palm Beach. Em 2006, foi preso acusado por quatro casos de atividades sexuais ilícitas com menores. Ao apresentar as acusações, a Promotoria de Nova York acusou Epstein de ter explorado menores “particularmente vulneráveis”. Muitas das meninas tinham dificuldades econômicas e o fato de que aceitassem dinheiro por sexo as transformava em prostitutas. Fato que a poderosa equipe de advogados do acusado usou para questionar a credibilidade das vítimas.

O caso foi encerrado em 2008, quando o à época promotor federal de Miami, Alexander Acosta, negociou com Epstein para que se declarasse culpado de ter prostituído uma menor, o que o permitiu evitar as acusações federais que poderiam significar prisão perpétua. O bilionário foi incluído no registro de criminosos sexuais e passou 13 meses na prisão, de onde podia sair 12 horas por dia seis dias por semana.

A recente investigação do Miami Herald revelou os sórdidos detalhes do pacto e causou polêmica pela sentença indulgente. Além disso, o à época promotor Acosta – que até sexta-feira era secretário de Emprego da Administração Trump – escondeu das vítimas que o acordo impediria que fossem feitas acusações federais. A controvérsia forçou a demissão de Acosta na sexta, mas não é o único membro do Governo dos Estados Unidos ligado a Epstein. O promotor geral, William Barr, foi conselheiro para o Kirkand & Ellis, o escritório de advocacia que negociou o acordo.

Após o julgamento, o bilionário deveria se apresentar, como criminoso sexual, à polícia a cada 90 dias. Nunca o fez. O promotor que agora é responsável pela ação contra Harvey Weinstein chegou até a pedir que seu nível fosse rebaixado na lista de predadores sexuais. Assim conseguiu permanecer intocável. Dessa vez, entretanto, tudo indica que terá que lidar com a justiça real. A Promotoria pede que sua libertação seja recusada até o julgamento, após a revelação que pagou 350.000 dólares (1,3 milhão de reais) a seus cúmplices quando o Miami Herald publicou as reportagens questionando o pacto secreto para comprar seu silêncio no caso em que precisaram depor.

A decoração interior de sua mansão, entre muitas outras excentricidades, inclui justamente um mural de uma prisão, em que o próprio Epstein aparece retratado no centro ao lado de alguns guardas. É lá que querem vê-lo vítimas como Araoz, que esperam que os que permitiram que a trama operasse impunemente até agora também caiam.
Os poderosos que cercavam o financista

Uma das vítimas de Jeffrey Epstein é Virginia Giuffre. Ela trabalhou no clube de golfe do presidente Donald Trump em Mar-a-Lago quando foi contratada por Ghislaine Maxwell, a pessoa mais próxima do acusado, para fazer-lhe massagens. O nome de Trump aparece em seu caderno ligado a uma dúzia de números, de acordo com as imagens que o portal Gawker revelou em 2015. Incluindo Alec Baldwin e Ralph Lauren, entre outros.

Giuffre passou a maior parte do tempo morando na mansão de Jeffrey Epstein, onde sua única função era ser abusada sexualmente pelo bilionário, Maxwell e seus amigos. Em sua denúncia citou Alan Derhowitz e o príncipe Andrew da Inglaterra. Afirma que foi abusada quando tinha 17 anos e na ação também diz que as autoridades tinham vídeos e fotos dela fazendo sexo com “poderosos amigos” do acusado.

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