04.11.2020
Uma notícia que o ocidente ignora: 70 anos da derrota dos EUA para a China e Coreia do Norte
por Kim Petersen [*]
Aqui está a notícia de um importante aniversário ignorado no Ocidente e pela mídia corporativa. Este ano, 2020, é o 70º aniversário do exército de Voluntários do Povo Chinês (VPC) ter entrado na República Popular Democrática da Coreia (RPDC) para ajudar no que os chineses chamam "A guerra para resistir à agressão dos EUA e ajudar a Coreia".
O Diário do Povo descreve-o assim:
"A guerra, que aconteceu há 70 anos, foi imposta ao povo chinês pela invasão do imperialismo. Depois de os EUA terem ignorado repetidamente os avisos do governo chinês e de descaradamente iniciarem uma guerra contra a Coreia, atacando mesmo o território da República Popular da China (RPC), o Partido Comunista da China (PCC) e o governo chinês tomaram resolutamente a decisão histórica de resistir à agressão dos EUA, ajudar a Coreia e proteger a sua pátria, assumindo a missão de salvaguardar a paz com coragem indomável."
"Depois de as forças das Nações Unidas terem invadido a RPDC em Outubro de 1950, avançando rapidamente em direcção ao rio Yalu, que faz fronteira com a China, os VCP cruzaram o Yalu e juntaram-se ao povo e ao exército da RPDC. Dois anos e nove meses depois, o VCP e a RPDC "conquistaram uma grande vitória".
O autor americano Bruce Riedel referiu-se-lhe como "a catástrofe do Yalu".
Em 31 de dezembro de 1950, os americanos já tinham sido levados 120 milhas [193 km] de volta ao sul do paralelo 38 e ainda estavam recuando. Seul caiu nas mãos dos exércitos de Peng Dehuai [o comandante directo dos VCP] no início de 1951. Foi de longe o pior desastre militar que as Forças Armadas dos EUA sofreram em todo o século XX.
Foi uma vitória militar para os camponeses chineses e os combatentes da RPDC, mas como deixou claro o Diário do Povo, isso não foi assumido com triunfalismo militar.
"O povo chinês ama e preza a paz. Considera a salvaguarda da paz mundial e a oposição à hegemonia e à política de poder como sua responsabilidade sagrada. Opõe-se firmemente a que se recorra à ameaça da força militar para resolver disputas internacionais e interferir nos assuntos internos de outros países sob o nome da chamada democracia, liberdade e direitos humanos".
O presidente do CPC, Xi Jinping, tinha-o dito anteriormente, em 28 de Março de 2014:
"A nação chinesa, com 5 000 anos de civilização, sempre acalentou a paz. A busca pela paz, amizade e harmonia é parte integrante do carácter chinês que está profundamente enraizado no seu povo". [1]
Como salientou o Diário do Povo:
"A vitória da Guerra para Resistir à Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia prova que uma nação, que está desperta e ousa lutar por sua glória, independência e segurança, é invencível".
Será isto verdade em todos os casos? O tamanho relativo das nações combatentes e o nível de desenvolvimento militar e tecnológico provavelmente desempenham um grande papel. No entanto, existem vários exemplos que apoiam aquela afirmação.
Por exemplo, considere-se que o empobrecido Iémen (população 28,5 milhões) não apenas resistiu firmemente à invasão de 2015 pela Arábia Saudita (população de 33,7 milhões) rica em petróleo, apoiada pelos EUA mas também infligiu alguns graves danos estratégicos ao invasor. E os EUA ainda estão atolados no Afeganistão depois de 20 anos. Após a derrota vietnamita dos imperialistas franceses, que foram auxiliados pelos EUA, os militares norte-americanos sucederam-lhes, com o apoio militar de aliados como a Austrália e a Coreia do Sul. O resultado militar final mostrou pessoal dos EUA fugindo em helicópteros dos telhados de Saigão.
A RPDC nunca atacou os EUA. Foram apenas os EUA, quando intervieram na guerra civil coreana, que atacaram a RPDC. Durante a guerra EUA-ONU-China-Coreia, os EUA destruíram plantações, reservas de alimentos e a rede de energia quando atacaram a RPDC [2] - acções destinadas a causar escassez de alimentos. Foi uma guerra em que os EUA usaram armas biológicas e químicas. [3] Os comandantes militares dos EUA chegaram mesmo a solicitar permissão para usar armas nucleares. [4] Os EUA causaram enorme destruição durante a guerra na península, uma guerra que vários afirmam ter sido iniciada pelos EUA e a República da Coreia (RdC). [5] Houve várias incursões de tropas da RdC no Norte que precederam a invasão pela RPDC que começou em 25 de Junho de 1950. [6]
O especialista em questões coreanas Bruce Cummings escreveu: "são os americanos que carregam a maior parte da responsabilidade pelo paralelo 38". [7] A RPDC e a China culpam os EUA pela guerra - uma culpabilização logicamente inatacável. Porque se os EUA não tivessem insistido em dividir a península coreana, o casus belli de reunir as duas Coreias não teria existido, consequentemente, a situação de segurança precária de hoje teria sido evitada. [8-9]
Consequências para a China da Guerra para Resistir à Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia
Hoje, embora cercada de sanções económicas esmagadoras, a RPDC é independente e totalmente capaz de impedir qualquer ataque. Seria tolice atacar um oponente com armas nucleares. A RPDC, por sua vez, prometeu não usar primeiro armas nucleares.
Na frente China-EUA, os EUA anulam o seu compromisso de reconhecer uma única China, fornecendo armamento militar à província separatista de Formosa (Taiwan). A Guerra para Resistir à Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia afectou profundamente os planos do presidente Mao Zedong e das forças comunistas de libertar Formosa do Kuomintang (KMT) e reincorporá-la à pátria chinesa. [10]
Tal como aconteceu com a divisão da península coreana, os EUA foram cúmplices na separação de Formosa da China continental,
O Generalíssimo do KMT [Chiang Kai-shek também conhecido como Jiang Jieshi], a sua corte e seus soldados fugiram para a ilha de Formosa. Haviam preparado sua entrada dois anos antes, aterrorizando a população com calúnias até a submissão - um massacre que tirou a vida a cerca de 28 mil pessoas. Antes da fuga dos nacionalistas para a ilha, o governo dos Estados Unidos não tinha dúvidas de que Formosa fazia parte da China. Posteriormente, a incerteza começou a invadir as mentes dos funcionários de Washington. A crise foi resolvida de uma maneira notavelmente simples: os EUA concordaram com Chiang Kai-shek que a maneira adequada de ver a situação não era que Formosa pertencia à China, mas que Formosa era a China. [11]
A China cresce economicamente enquanto os EUA lutam contra um crescimento negativo. Embora agora militarmente poderosa, a China está comprometida com uma existência pacífica.
O resultado expectável é que, com os EUA em declínio, um dia os seus parentes de Formosa retornarão com orgulho à China ressurgente e unificada
Notas
1 - Xi Jinping, "China's Commitment to Peaceful Development" in The Governance of China (Beijing: Foreign Languages Press, 2014).
2 - Nhial Esso, What You Don't Know about North Korea Could Fill a Book (Intransitive Publishers International, 2013): 63%.
3 - Ver (23 June 2001). Korean International War Crimes Tribunal: Report on U.S. Crimes in Korea 1945-2000, (Korean Truth Commission).
4 - Bruce Cummings, "Korea: forgotten nuclear threats", Le Monde diplomatique, December 2004.
5 - Ver Ho Jong Ho, Kang Sok Hui, and Pak Thae Ho, The US Imperialists Started the Korean War (Foreign Languages Publishing House, 1993).
6 - Ver Won Myong Uk and Kim Hak Chol, Distortion of US Provocation of Korean War (Pyongyang : Foreign Languages Publishing House, 2003).
7 - Bruce Cumings, Korea's Place in the Sun: A Modern History (New York: W.W. Norton & Co., 2005): 186.
8 - Carole Cameron Shaw, The Foreign Destruction of Korean Independence (Seoul: Seoul National University Press, 2007).
9 - Nhial, 11-22%.
10 - Lin Cheng-yi, "The legacy of the Korean War: Impact on U.S.-Taiwan relations," Journal of Northeast Asian Studies, Winter92(11) Issue 4, p40.
11 - William Blum, Killing Hope (Zed Books, 2003): 23.
Livros para descarregar (clique com o botão direito do rato e faça Save As...):
Report of the International Scientific Commission for the Investigation of the Facts Concerning Bacterial Warfare in Korea and China , Pequim, 1952, 764 p., 235 MB
Kim Chol Man, El origen del problema coreano , Ediciones en Lenguas Extranjeras, Pyong Yang, 2018, 58 p., 857 kB
[*] Foi co-editor do boletim informativo Dissident Voice. Email: kimohp@gmail.com; Twitter: @kimpetersen
O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/55786.htm
Este artigo encontra-se em https://resistir.info
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