Involuntariamente, tornei-me na família uma espécie de personagem impossível e suspeito, seja como for, alguém que não merece confiança.
A quem poderia eu ser útil de alguma maneira?
É por isto que antes de mais nada, sou levado a crer, seja vantajoso, e melhor resolução a tomar, e o mais razoável, que eu vá embora e me mantenha a uma distância conveniente, que eu faça como se não existisse.
O que para os pássaros é a muda, a época em que trocam de plumagem, a adversidade ou o infortúnio, os tempos difíceis, são para nós, seres humanos.
Podemos permanecer neste tempo de muda, podemos também deixá-lo como que renovados, mas de qualquer forma isto não se faz em público, é pouco divertido, e por isto convém eclipsar-se.
Pois seja.
Agora, por mais que reconquistar a confiança de toda uma família, talvez não totalmente desprovida de preconceitos e outras qualidades igualmente honoráveis e elegantes, seja de uma dificuldade mais ou menos desesperadora, eu ainda tenho algumas esperanças de que pouco a pouco, lenta e seguramente, a cordial compreensão seja restabelecida com uns e outros.
- VINCENT VAN GOGH - Cartas a Theo.
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