(...) o coração terno que tem. Toda ela é maternidade. Aos próprios animais estende a simpatia. (...)
- Nunca lhe falaram de um terceiro filho que tiveram, e ela amava muito?
— Creio que não; não me lembra.
— Um cão, um pequeno cão de nada.
Foi ainda no meu tempo.
Um amigo do padrinho levou-lho um dia, com poucos meses de existência, e ambos entraram a gostar dele.
Não lhe conto o que a madrinha fazia por ele, desde as sopinhas de leite até aos capotinhos de lã, e o resto; ainda que me sobrasse tempo, não acharia crédito em seus ouvidos.
Não é que fosse extravagante nem excessivo; era natural, mas tão igual sempre, tão verdadeiro e cuidadoso que era como se o bicho fosse gente.
O bicho viveu os seus dez ou onze anos da raça; a doença achou enfermeira, e a morte teve lágrimas.
Quando entrar no jardim, à esquerda, ao pé do muro, olhe, foi aí que o enterraram; e já me não lembrava, a madrinha é que mo apontou ontem.
- MACHADO DE ASSIS - Memorial de Aires
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