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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Sobre o destino de crianças negras, indígenas e trabalho infantil

- Apesar da isenção de taxas sobre crias de peito e da meia taxa sobre as crias de pé, a proporção delas era pequena nos tumbeiros e se pode supor que, às vezes, se praticava a fraude de passar adultos por crianças. O preço pago pelas crias não era compensador para os traficantes, que faziam negócios entre Brasil e África. Segundo narrativa de um negreiro europeu, os próprios vendedores africanos, no Daomé, costumavam tirar das cativas as criancinhas de peito e matá-las para evitar seu embarque. Cf. Klein, Herbert S. The Middle Passage: Comparative Studies in the Atlantic Slave Trade, p. 35-37; La traite des noirs au Siècle desLumières. Op. cit., p. 75-76; Goulart, Maurício. Op. cit., p. 204-208.

- São numerosas as referências ao trabalho de crianças escravas, desde muito cedo. A este respeito, tem valor especial o depoimento da ex-escrava Maria Benedita da Rocha, prestado em junho de 1981, no Morro do Salgueiro, no Rio de Janeiro. Então já com mais de cem anos, conservava boa memória dos seus dezoito anos de escravidão, encerrados com a Abolição. Maria Benedita (ou Maria Chatinha, como era conhecida) foi escrava do Barão Salgado da Rocha numa fazenda de café em Tremembé, São Paulo, aproximadamente a partir de 1870. No depoimento, prestado ao Padre Luciano Penido, contou que “as negrinhas, meninas” saíam pela manhã levando uma cesta para apanhar algodão, com o qual se fazia roupa para os escravos. A menina que não trouxesse a cesta cheia quando tocava a buzina, à hora do almoço, era castigada com uma surra. 

Ver Maestri Filho, Mário José. Entrevista histórica. Ciência e Cultura, v. 37, n. 5, p. 828-834.

As fábricas têxteis de São Paulo, que se firmaram na década dos 1870, já empregavam somente trabalhadores livres, em sua maioria mulheres e crianças.

Por longo tempo, pelo século XIX adentro, manter-se-ia, na Amazônia e em outras regiões do país, a prática do tráfico de índios, sobretudo de crianças, raptadas por tribos rivais e vendidas aos traficantes ou simplesmente vendidas pelos próprios pais, em troca de ferramentas, de alimentos ou de qualquer bugigangas.

A cessão de crianças índias pelos próprios pais – em troca de um machado, de açúcar ou de cachaça, com o engodo de que depois seriam trazidas de volta – era habitual em Minas Gerais, na região do Rio Jequitinhonha, conforme registrou Saint-Hilaire. Os pequenos índios, assim obtidos, eram a seguir vendidos pelos traficantes nas povoações, por 15 a 20$000. Sob o estímulo do escambo, os botocudos guerreavam entre si para ter crianças que pudessem vender aos brancos.

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Excertos da obra de JACOB GORENDER - O escravismo colonial 

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