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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pobres Russos.

O famoso anarquista russo BAKUNIN deve estar a se revirar, incessantemente, no túmulo.
Ele, que era totalmente contra o Estado e as religiões, pregou, entre outros princípios revolucionários:


- Negação da existência de um deus real, extra-mundial, pessoal e, portanto de qualquer revelação e de qualquer intervenção divina nos negócios do mundo e da humanidade. Abolição do serviço do culto da divindade.

- Subsitutindo o culto de deus pelo respeito e o amor da humanidade, declaramos a razão humana como critério único da verdade; a consciência humana como base da justiça; a liberdade individual e coletiva como criadora única da ordem da humanidade.

- As igrejas, consideradas como corporações religiosas, não gozarão de nenhum dos direitos politicos que serão atribuídos às associações produtivas, não poderão herdar, nem possuir bens em comum, exceto suas casas ou estabelecimentos religiosos, não podendo nunca ocupar-se da educação dos seus filhos , já que o único objetivo de sua existência é a negação sistemática da moral, da liberdade e a feitiçaria lucrativa.

- Abolição , dissolução e bancarrota moral, política, judiciária, burocrática e financeira do Estado tutelar, transcendente, centralista, substituto e alter ego da Igreja, e, como tal, causa permanente de empobrecimento, de embrutecimento e de submissão dos povos.

- Abolição dos bancos e de todas as outras instituições de crédito do Estado.

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Quarta-feira, Setembro 15, 2010

RÚSSIA, DE CATÓLICA ORTODOXA
A ESTADO TEOCRÁTICO ISLÂMICO


O Estadão publicou, segunda-feira passada, um suplemento comercial da Rossiyskaya Gazeta. “Como vivemos, o que fazemos, quais problemas enfrentamos e resolvemos: é isso o que queremos para o leitor brasileiro nas páginas da Gazeta Russa”, diz a apresentação do suplemento. Até aí, estamos todos de acordo.

Ocorre que já em seu primeiro número, a Gazeta, em tom de editorial, louva as verbas do Kremlin destinadas a universidades islâmicas como uma tentativa de unificar a religião no país, no artigo didaticamente intitulado “Islã é receita contra o extremismo”. Depois do 11 de Setembro, dos homens-bomba que se explodem tanto em Israel como em países muçulmanos, a quem quer convencer o articulista? Não é bem sobre “como vivemos e quais problemas enfrentamos” que a Gazeta quer informar. No fundo, quer catequizar. Jornalista russo, pelo jeito, não consegue entender jornalismo senão como militância. Quem diria que a Santa Madre Rússia, que um dia foi bastião do catolicismo e mais tarde fortaleza do ateísmo marxista, tendesse hoje a Estado teocrático islâmico.

Quando afirmo que o comunismo tem suas origens em países católicos e cito a Rússia como exemplo, católico é o que não falta para protestar que a Rússia nunca foi católica e sim ortodoxa. Ora, a Igreja russa era originalmente católica ortodoxa e só mais tarde, talvez para distinguir-se da romana, passou a chamar-se simplesmente de ortodoxa. As duas igrejas se separaram em 1054, em função do dogma da trindade. Ambas continuaram católicas. Mas havia um senão: o filioque.

Para Harold Bloom, em seu excelente Jesus e Javé, a unificação do Pai, do Filho e do Espírito Santo, isto é, o dogma da Trindade, "sempre constituiu a linha crucial de defesa da Igreja contra a imputação judaica e islâmica de que o cristianismo não é uma religião monoteísta". É um achado da Igreja, saliente-se, pois a palavra trindade não consta da Bíblia. O máximo que encontramos é Javé falando no plural, ou Paulo apresentando Jesus e o Espírito como intimamente ligados a Deus, indicando assim que, na Divindade, Deus, Jesus e o Espírito formam uma unidade.

Tudo isto para fugir a qualquer semelhança com as tríades divinas das religiões pagãs, em que um deus-pai, uma deusa-mãe e um filho formam uma família de deuses, sendo muitas vezes mencionados juntos, como Osíris, Isis e Hórus no Egito. Ou o deus lunar, a deusa solar e a estrela Vênus na Arábia. Ou ainda Brama, Rudra e Vixnu da Índia.

Tivessem os teólogos se contentado com este malabarismo conceitual para construir um sistema religioso monolítico, até que o dogma da Trindade não seria de difícil intelecção. Ocorre que os teólogos são minudentes e uma complicada peripécia iria provocar uma violenta cisão na cristandade no século XI.

Segundo o Evangelho de João, o Espírito Santo procede do Pai. Assim o entendeu o Credo niceno-constantinopolitano, que no ano de 381 já repetia esta profissão de fé. Sabe-se lá porque cargas d'água, os latinos acrescentaram ao Credo a partícula filioque, professando que o Espírito procede do Pai e do Filho. Os cristãos orientais acusaram então os latinos de haver alterado os símbolos da fé. Em 444, Cirilo da Alexandria afirmava que o "Espírito é o Espírito de Deus Pai e, ao mesmo tempo, Espírito do Filho, saindo substancialmente de ambos simultaneamente, isto é, derramado pelo Pai a partir do Filho". São inúmeros os teólogos que eram do mesmo aviso. Mas os cristãos gregos não conseguiam aceitar a polêmica conjunção, o e (que, em latim).

O caldo engrossou quando o Concílio de Toledo, em 589, oficializou o símbolo da fé com o filioque, e considerou anátema a recusa da crença de que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Não bastasse o absurdo conceito do três-em-um - inteligível se levamos em conta a preocupação de fugir ao politeísmo - discutia-se agora a relação de um com os outros dois. Pensamento dogmático é assim mesmo.

O debate percorreu os séculos. As comunidades se cindiram em 1054 e até hoje não chegaram um acordo sobre esta questão literalmente bizantina. Moscou tornou-se o centro mais importante da nova igreja, a católica ortodoxa. Dostoievski, é bom lembrar, era católico ferrenho. Ainda recentemente, em 1995, João Paulo II tentava esclarecer a questão da Trindade com o patriarca Bartolomeu I, numa tentativa de melhorar as relações com os orientais.

Esclarecida a pendenga do filioque e da Igreja Católica Ortodoxa Russa, volto ao artigo da Gazeta. “O incentivo governamental a essas instituições se dá principalmente por meio de subsídios. A medida soma-se ao esforço de combater o extremismo religioso e o doloroso conflito marcado por ataques suicidas e pelo assassinato de policiais, prefeitos e líderes religiosos que tomou conta do Daguestão e de outras repúblicas russas na região do Cáucaso do Norte. Atualmente o governo russo investe verbas em onze universidades islâmicas, sendo quatro apenas em repúblicas ao norte do Cáucaso”.

Os muçulmanos parecem ter encontrado o segredo de lidar com a Rússia. Basta matar policiais, prefeitos e líderes religiosos, que o Estado russo imediatamente financia universidades ligadas à religião que mata seus policiais, prefeitos e líderes religiosos. O mesmo está acontecendo na França. Para enfrentar o desrespeito flagrante dos muçulmanos que bloqueiam ruas para rezar em Paris, o prefeito Bertrand Delanoë promete premiar os muçulmanos com uma mesquita na Goutte d’Or.

“De acordo com os planos do Fundo do Kremlin para o Apoio da Cultura, Ciência e Educação Islâmica – diz a Gazeta – todos os anos serão aplicados cerca de US$ 13 milhões em programas educacionais, bolsas de estudos e publicações. Rufik Mukhamedsin, o reitor da Universidade Islâmica em Kazan, disse que espera que o Estado também padronize os diplomas concedidos por institutos educacionais islâmicos, garantindo que esses documentos sejam aceitos por todo o país”.

As madrassas estão assumindo o ensino na Rússia, financiadas pelo Estado russo. A antiga nação católica, e mais tarde comunista e atéia, está virando Estado teocrático. Pior ainda, teocrático e muçulmano.

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