Empreendedorismo
“Madre Teresa poderia ser presidente de empresa”
Em "Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática", a canadense Ruma Bose conta como a missionária construiu um império da filantropia
Ana Clara Costa
Pertencente a uma abastada família indiana, a canadense Ruma Bose, 37
anos, sempre teve fixação por Madre Teresa de Calcutá. Quando criança,
as histórias que gostava de ouvir não eram as de contos de fadas. Ruma
preferia que sua mãe lhe contasse os feitos da freira albanesa que, com
sua extensa rede de filantropia, havia conseguido mudar a realidade de
milhares de pessoas (assista à entrevista de Bose ao site de VEJA).
Ao completar 19 anos, Ruma decidiu passar um tempo na Índia trabalhando
como voluntária para as Missionárias da Caridade de Calcutá,
organização fundada por Madre Teresa. Não esperava que, além de lições
de vida, também aprendesse a gerir uma empresa. “Madre Teresa tinha
pulso firme, era metódica, organizada, uma líder nata. Poderia ser
presidente de qualquer companhia do mundo”, conta a autora.
A viagem aconteceu em 1992, mas só agora, 18 anos depois, Ruma decidiu
expô-la ao mundo. O mercado editorial americano receberá em meados do
ano que vem seu livro “Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática”* (tradução
livre), que traz lições da beata aos empresários. “Eu sentia que tinha a
missão de mostrar para as pessoas a história de uma das organizações de
maior sucesso do mundo. Todos só conheciam o lado social de Madre
Teresa. Precisavam conhecer o lado empresária”, diz Ruma. (Clique nas palavras-chave e conheça os princípios de liderança)
Números que impressionam – Quando se refere à
organização filantrópica da missionária, Ruma não exagera. São mais de
600 missões em 100 países do mundo, que empregam mais de um milhão de
pessoas, além da montanha de recursos financeiros arrecadados nos 62
anos de existência do projeto. “Madre Teresa era uma máquina de
conseguir fundos. Era uma ótima relações públicas”, afirma.
Apesar dos números chamativos, Ruma afirma que a missionária –
beatificada em 2003 pelo Papa João Paulo II – não tinha apreço pelos
holofotes, mas sabia usar seu carisma para atrair doadores. Segundo a
autora, Madre Teresa tinha um pensamento objetivo e rígido; também no
momento de aceitar doações. No entanto, ela se negava a aceitar dinheiro
quando o doador queria publicidade em troca. “Quando estava lá, vi a
organização recusar uma soma milionária de uma multinacional. Os
empresários queriam poder divulgar ao mundo que estavam ajudando Madre
Teresa. Ela se negou”, relembra.
Para Ruma, o que diferencia a gestão de Madre Teresa de qualquer outra
organização é a humildade. O fato de liderar uma rede de religiosas e
centenas de voluntários em todo o planeta não fazia da missionária uma
figura inacessível e ausente. “Ela atendia com atenção absolutamente
todas as pessoas que queriam falar com ela, era querida por todos e
conseguiu transformar seu projeto em algo gigantesco e perene, mesmo
após sua morte. Poucos líderes conseguiram semelhante feito”, afirma a
autora.
Uma visão contrária
Em 2003, o ensaísta britânico Christopher Hitchens desafiou o consenso em torno de Madre Teresa ao dizer que ela era “uma fanática, uma fundamentalista e uma fraude”.
O trecho mais contundente do artigo, publicado pela revista eletrônica Slate, é o seguinte:
“Madre Teresa não era uma amiga dos pobres. Ela era amiga da pobreza. Disse que o sofrimento era um dom divino. Passou a vida combatendo a única cura conhecida para a pobreza, que é dar às mulheres o controle de suas próprias vidas, e emancipá-las da reprodução ao estilo compulsório dos rebanhos. Ela também era amiga dos piores entre os ricos, tendo aceitado dinheiro sujo da atróz familia Duvalier, do Haiti (cujo governo ela elogiou) e de Charles Keating, da Lincoln Savings and Loan. Para onde foi esse dinheiro, e todas as outras doações que ela recebeu? Seu hospital primitivo em Calcutá estava tão depauperado no momento de sua morte quanto sempre estivera – ela mesma preferiu clínicas californianas quando ficou doente – e sua ordem religiosa sempre se recusou a tornar pública qualquer auditoria. Mas temos sua própria afirmação de que ela abriu 500 conventos em mais de cem países, todos com o nome de sua ordem. Desculpe-me, mas isso é modéstia e humildade?"
Em 2003, o ensaísta britânico Christopher Hitchens desafiou o consenso em torno de Madre Teresa ao dizer que ela era “uma fanática, uma fundamentalista e uma fraude”.
O trecho mais contundente do artigo, publicado pela revista eletrônica Slate, é o seguinte:
“Madre Teresa não era uma amiga dos pobres. Ela era amiga da pobreza. Disse que o sofrimento era um dom divino. Passou a vida combatendo a única cura conhecida para a pobreza, que é dar às mulheres o controle de suas próprias vidas, e emancipá-las da reprodução ao estilo compulsório dos rebanhos. Ela também era amiga dos piores entre os ricos, tendo aceitado dinheiro sujo da atróz familia Duvalier, do Haiti (cujo governo ela elogiou) e de Charles Keating, da Lincoln Savings and Loan. Para onde foi esse dinheiro, e todas as outras doações que ela recebeu? Seu hospital primitivo em Calcutá estava tão depauperado no momento de sua morte quanto sempre estivera – ela mesma preferiu clínicas californianas quando ficou doente – e sua ordem religiosa sempre se recusou a tornar pública qualquer auditoria. Mas temos sua própria afirmação de que ela abriu 500 conventos em mais de cem países, todos com o nome de sua ordem. Desculpe-me, mas isso é modéstia e humildade?"
*O livro
"Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática" ainda
não tem previsão de lançamento em português. Nos Estados Unidos, seu
lançamento está previsto para maio de 2011. Ruma Bose participou, como
palestrante, do Fórum Global de Sustentabilidade do Festival SWU, em Itu
(SP)
Fonte: Rev. VEJA
Fonte: Rev. VEJA
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