1923: Ancara torna-se a capital da Turquia
O general Mustafa Kemal, fundador da Turquia moderna, recebeu o
nome de honra "Atatürk", que significa "pai dos turcos". Atatürk fez
parte de um grupo de jovens turcos que conseguiu colocar fim ao regime
do sultanato no início do século 20. Após a derrota na Primeira Guerra
Mundial, o Império Otomano encontrava-se à beira do colapso. O general
Kemal assumiu a liderança da resistência nacional e ergueu uma nova
nação das ruínas do antigo império.
Jovens exilados contra o sultanato
Sua ditadura reformista baseava-se em princípios que, transformados
na ideologia que marcou o novo Estado, passaram a ser conhecidos como
“kemalismo”. Kemal nasceu e cresceu em Salônica, na Grécia, onde
frequentou a Academia Militar e juntou-se já no ano de 1907, na
Macedônia, ao Comitê para a Unidade e Progresso, que reunia turcos
avessos ao Império Otomano.
Os jovens exilados começaram a se organizar em 1896 na
clandestinidade, principalmente através do Comitê fundado alguns anos
antes. O objetivo dos envolvidos, especialmente dos oficiais e entre
eles de Atatürk, era a implantação de uma Constituição na Turquia.
A estas alturas, o então desconfiado sultão e califa Abdülhamit
perdia suas últimas chances de manter de pé seu regime de
apadrinhamento. Se Istambul ainda governava, era em Ancara que se
acumulavam as forças liberais e unionistas. Os donos do poder em
Istambul reagiam sem sucesso. Uma rebelião organizada contra os jovens
turcos reformistas não vingou e o sultão Abdülhamit acabou sendo
afastado. Seu irmão, que recebeu o título de sultão Mehmet, o Quinto
não teve mais nenhum poder de influência no país.
Mas quem eram esses jovens turcos, que da distante Ancara
conseguiram minar lenta mas seguramente o tradicional Império Otomano,
com know-how militar e ideias ocidentais? O historiador e
cientista político Feroz Ahmad caracteriza o movimento da seguinte
forma: “Dentro do movimento Turquia Jovem reuniram-se todas as forças e
grupos que queriam derrubar o regime tradicional do sultanato. De forma
simplificada, pode-se dividir o movimento em duas correntes distintas:
os liberais e os unionistas".
"Os liberais pertenciam de maneira geral a uma classe social mais
alta dentro do Império Otomano. Os membros dessa facção eram, sem
exceções, muito bem-educados, abertos ao mundo e defensores de um
sistema ocidentalizado, além de conhecerem línguas e culturas
europeias, na maioria das vezes a francesa. Eles defendiam a
implantação de uma monarquia constitucional, que seria conduzida pelos
funcionários do governo, também oriundos da mesma classe social que
eles. Da Inglaterra, que eles consideravam o berço dos parlamentos, os
liberais esperavam receber ajuda para o regime em forma de empréstimos
financeiros e apoio técnico na implantação das moderadas reformas
sociais e econômicas.”
Fim do Império Otomano
Após várias operações militares bem-sucedidas, Atatürk assumiu a
posição de líder da resistência nacional e tornou-se, a partir de 1920,
presidente do Parlamento de Oposição criado em Ancara. Entre 1919 e
1922, derrotou nas guerras de libertação armênios, gregos, italianos,
franceses e ingleses, estabelecendo então seu monopólio de poder com a
ajuda do Partido Popular Republicano. O Império Otomano desmoronou-se
de vez e Atatürk passou a deter em suas mãos todo o poder sobre o país.
Uma de suas resoluções mais importantes foi tomada no dia 13 de
outubro de 1923: declarar Ancara nova capital da Turquia. Quase duas
semanas mais tarde, foi proclamada a República – com Kemal Atatürk na
função de presidente – e no ano seguinte, o califado foi
definitivamente abolido. A isso seguiram-se medidas como a
regulamentação do sistema de ensino pelo Estado, a substituição do
direito islâmico das leis sagradas Charia por uma legislação de viés
ocidental, a submissão de instituições religiosas ao controle do
Estado, a adoção do alfabeto romano em detrimento do árabe e a
consolidação da República da Turquia como um Estado secular.
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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