Os perigos do fanatismo
Por Mauro Santayana
Vejamos os fatos com serenidade, não obstante o ensandecido comportamento de militantes das duas candidaturas. Podemos debitar a Serra a aproximação com o neoliberalismo globalizador e antinacional, como ministro de Fernando Henrique, mas isso não o transforma em traidor do povo e da pátria. Os adversários de Dilma incriminam-na por ter participado da luta armada, embora não haja, até o momento, provas de que tenha realmente alvejado alguém. Ainda que ela tivesse participado de combates guerrilheiros, isso não a tornaria menos humana e menos brasileira. A história dos povos é plena de exemplos de como o insurrecto de ontem é o estadista de hoje. Em princípio, todos os que abraçam uma causa o fazem por considerá-la justa.
Postular a mais alta posição republicana é direito de todos os possuidores de um título de eleitor que preencham as condições exigidas pela justiça, com a observação de que a lei é muito condescendente nesse particular. Pelo que se sabe, tanto Dilma quanto Serra obtiveram o registro normal e correto de suas candidaturas. Neste segundo turno está bem definida a posição de cada candidato, em que Dilma representa a coligação no poder, e que nele pretende continuar, e Serra é o escolhido pela oposição. E, a menos que mintam, o que também é possível, embora não muito provável, ambos prometem avançar na construção de uma sociedade justa e desenvolvida, sem violar o contrato republicano ratificado pela Constituição. É certo que eles têm sido, em seu proselitismo, muito avaros na revelação de sua inteligência política e de seus conhecimentos doutrinários, dando aos observadores a impressão de que não sabem exatamente o que é Estado e o que é o Brasil.
Mas, seja pelo descuido de ambos os lados, ou falta de pulso forte dos candidatos sobre os seus prosélitos, a campanha está caminhando para o confronto estúpido. Registre-se que a violência mais exacerbada, principalmente via os meios de comunicação, entre eles, a internet, se iniciou contra a candidata do PT. Mas, de algum tempo para cá, os dois lados se equivalem na mesma insensatez. Grupos de militantes dos dois lados cercam as manifestações adversárias, e, ontem, alguém atirou um objeto contra José Serra, em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Foi ato de provocação – não importa quem tenha atingido o candidato – e que promete novo acirramento da disputa, nestas horas que se tornam mais agudas e mais perigosas.
Por outro lado, estamos assistindo a orquestrado conflito religioso em um Estado laico, como o brasileiro. Já temos indesejável intromissão religiosa no Estado, desde o Império. Para que a República respeite a fé de cada um, é necessário que se mantenha ausente. Nesse particular é bom observar que o governo atual errou, ao negociar acordo com o Vaticano, sobretudo quando a cadeira de Pedro é ocupada por Ratzinger.
Um país de maioria cristã, como o nosso, é destinado ao convívio cordial entre todas as confissões, ainda que algumas delas, desviando-se de Calvino, Lutero e outros, se tenham transformado em grupos comerciais. A disputa deve ser entre projetos de governo, de Estado e de nação, que são instituições temporais. Os verdadeiros fiéis devem deixar a sua crença longe das urnas. E conviria aos candidatos poupar os cristãos e os agnósticos da atitude farisaica de frequentarem templos em que rezam compungidos. Não necessitamos de novo beato, mas, sim, de quem presida à República.
Vejamos os fatos com serenidade, não obstante o ensandecido comportamento de militantes das duas candidaturas. Podemos debitar a Serra a aproximação com o neoliberalismo globalizador e antinacional, como ministro de Fernando Henrique, mas isso não o transforma em traidor do povo e da pátria. Os adversários de Dilma incriminam-na por ter participado da luta armada, embora não haja, até o momento, provas de que tenha realmente alvejado alguém. Ainda que ela tivesse participado de combates guerrilheiros, isso não a tornaria menos humana e menos brasileira. A história dos povos é plena de exemplos de como o insurrecto de ontem é o estadista de hoje. Em princípio, todos os que abraçam uma causa o fazem por considerá-la justa.
Postular a mais alta posição republicana é direito de todos os possuidores de um título de eleitor que preencham as condições exigidas pela justiça, com a observação de que a lei é muito condescendente nesse particular. Pelo que se sabe, tanto Dilma quanto Serra obtiveram o registro normal e correto de suas candidaturas. Neste segundo turno está bem definida a posição de cada candidato, em que Dilma representa a coligação no poder, e que nele pretende continuar, e Serra é o escolhido pela oposição. E, a menos que mintam, o que também é possível, embora não muito provável, ambos prometem avançar na construção de uma sociedade justa e desenvolvida, sem violar o contrato republicano ratificado pela Constituição. É certo que eles têm sido, em seu proselitismo, muito avaros na revelação de sua inteligência política e de seus conhecimentos doutrinários, dando aos observadores a impressão de que não sabem exatamente o que é Estado e o que é o Brasil.
Mas, seja pelo descuido de ambos os lados, ou falta de pulso forte dos candidatos sobre os seus prosélitos, a campanha está caminhando para o confronto estúpido. Registre-se que a violência mais exacerbada, principalmente via os meios de comunicação, entre eles, a internet, se iniciou contra a candidata do PT. Mas, de algum tempo para cá, os dois lados se equivalem na mesma insensatez. Grupos de militantes dos dois lados cercam as manifestações adversárias, e, ontem, alguém atirou um objeto contra José Serra, em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Foi ato de provocação – não importa quem tenha atingido o candidato – e que promete novo acirramento da disputa, nestas horas que se tornam mais agudas e mais perigosas.
Por outro lado, estamos assistindo a orquestrado conflito religioso em um Estado laico, como o brasileiro. Já temos indesejável intromissão religiosa no Estado, desde o Império. Para que a República respeite a fé de cada um, é necessário que se mantenha ausente. Nesse particular é bom observar que o governo atual errou, ao negociar acordo com o Vaticano, sobretudo quando a cadeira de Pedro é ocupada por Ratzinger.
Um país de maioria cristã, como o nosso, é destinado ao convívio cordial entre todas as confissões, ainda que algumas delas, desviando-se de Calvino, Lutero e outros, se tenham transformado em grupos comerciais. A disputa deve ser entre projetos de governo, de Estado e de nação, que são instituições temporais. Os verdadeiros fiéis devem deixar a sua crença longe das urnas. E conviria aos candidatos poupar os cristãos e os agnósticos da atitude farisaica de frequentarem templos em que rezam compungidos. Não necessitamos de novo beato, mas, sim, de quem presida à República.
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Impossível evitar um reparo às palavras do cronista, no particular das confissões "religiosas" que teriam descambado para a posição de grupos comerciais.
Santayana, da forma como fez sua colocação, pareceu querer afirmar que só os evangélicos ou petencostais praticam o comércio da fé, quando, em verdade, não passam de singelos, embora dedicados, aprendizes do Judaísmo e do Catolicismo, mestres insuperáveis, até agora, na arte da exploração da credulidade pública.
Do judaísmo derivaram o islamismo, assim como o catolicismo e todas as outras correntes ditas cristãs e nenhuma delas pode ficar imune à acusação de prática do inescrupuloso comércio da fé.
A religião, o culto, são apenas pretextos para acobertar uma indústria escandalosa, com a vantagem de, rotuladas de cultos, as empresas religiosas usufruírem, ainda, de benefícios fiscais dos quais as demais pessoas jurídicas não desfrutam.
Portanto, não se pode atribuir apenas aos calvinistas e luteranos a prática do comércio da fé.
Não há excessão honrosa no ramo da atividade religiosa. Ninguém se dedica à pregação religiosa tão somente para ajudar os seres humanos a atingir a perfeição e alcançar as graças divinas.
Hipocrisia é o que preside as pregações de todos os cultos.
Desde a mais humilde benzedeira, xamã, pai-de-santo, ou pastor até o papa, todos objetivam vida fácil e lucrativa, ao pretexto cínico de que pregam preceitos divinos.
E se o Estado os apóia é porque também não passa de irmão-gêmeo (outros dizem que é cria) das religiões, notadamente das mais influentes, que com ele ombreiam na hercúlea tarefa de conter as massas descontentes com as mazelas da organização social por ele ditadas.
No mais, concordo plenamente com o Santayana. Essas antas pequenas (que me perdoem os quadrúpedes), os chamados militantes dos partidos políticos (que também lutam apenas por poder e dinheiro) precisam entender que não passam de massa de manobra de espertalhões das elites que se encontram encastelados nas cúpulas e pararem de querer resolver as diferenças e vencer as disputas na base da agressão física.
Enquanto os candidatos posam de estadistas, as massas burras trocam socos, pontapés, pauladas, pedradas, etc...
Será que esses cabeças de bagre não enxergam um palmo além das respetivas caras?
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