Pastor continua a explorar filha de 6 anos com a omissão das autoridades
Para Alani, não existe o Estatuto da Criança
O MP (Ministério Público) de São Paulo informou recentemente
que ia notificar as emissoras Record e SBT por explorar imagens de
crianças portadoras de deficiências. No ano passado, o Ministério
Público do Trabalho acusou a SBT de explorar o trabalho infantil, de
Maísa, então com 6 anos. Hoje, a menina apresenta um programa para
crianças, e não mais aparece no do Sílvio Santos, destinado a adultos.
Até agora, Alani, 6, não mereceu a mesma atenção as autoridades, e
ela continua sendo explorada como milagreira pelo seu pai, o pastor
Adauto Santos, da Igreja Pentecostal dos Milagres, da periferia do Rio
de Janeiro. O pastor leva a filha aos cultos desde quando ela tinha um
ano. Aos três, a menina começou a ser usada para fazer milagres. [ver
vídeo abaixo].
A igreja fez um site para “missionarinha Alani” onde diz que quando “ela
louva ou toca [as pessoas] como suas mãos, o sobrenatural tem
acontecido: paralíticos andam e cancerosos e aidéticos são curados”. Do
lado de fora da igreja, há fotos da menina com as mãos estendidas e
cartazes nos quais supostos deficientes estão se livrando de muletas e
de cadeiras de roda.
O pastor Santos admitiu ao jornalista Roberto Cabrini, do programa
Conexão Repórter, do SBT, que a filha tem atraído ultimamente mais fiéis
para a igreja e que as ofertas têm aumentado, “mas não muito”.
Também entrevistada pelo Cabrini, a menina disse tudo o que o seu pai
gostaria que ela dissesse. Falou que acredita ter o poder de cura, que
gosta do que faz, que não deixa de frequentar a escola, que faz a lição
de casa direitinho etc.
Ela falou que na escola – cursa o primeiro ano do ensino fundamental –
se relaciona normalmente com as amiguinhas, com naturalidade, de igual
para igual.
Mas antes de o programa Conexão Repórter ir ao ar na semana passada,
Época publicou que Alani é tratada na escola como a “menina
superpoderosa”, numa alusão ao desenho animado de três meninas irmãs com
poderes extraordinários.
Sandra, a mãe de Alani, disse ao programa do SBT que é uma alegria ter
uma filha que recebeu de Jesus o dom de fazer milagre, deixando
entendido que não se opõe à participação da menina nos cultos.
Contudo, pela reportagem da Época, em uma determinada época ela chegou a
pedir a Santos que mantivesse a menina longe da igreja, o que ocorreu
por três anos. Mas o pastor acabou trazendo-a de volta, reforçando o
suposto dom de milagre da filha.
Santos costuma contar a história de que Alani começou a fazer milagre já
no útero da mãe, que teria se livrado de miomas graças ao poder das
mãozinhas da menina. De acordo com a revista, o pastor disse que, quando
sua mulher estava grávida de Alani, as pessoas, ao tocar na barriga
dela, “sentiam coisas estranhas” e "começavam a chorar".
A psicóloga Rose Araujo não tem dúvida de que a menina foi condicionada
pelo pai a agir como milagreira. Ela disse que a Alani pode ter traumas
quando der conta de que não possui dom algum ou ao tentar provar pelo
resto da vida que de fato é uma pessoa com poderes divinos.
No site da igreja, há em vídeos depoimentos de pessoas que afirmam que
obtiveram cura por intermédio da Alani. Se esses vídeos forem levados a
sério, Alani já proporcionou mais milagres do que Jesus no decorrer de
todo o Novo Testamento. Os "curados", como ocorre em outras igrejas
evangélicas, são pessoas pobres que não conseguem cuidar de suas
doenças pelo sistema de saúde governamental, o SUS, e muito menos
comprar remédios.
Em seu programa, Cabrini mostrou um rapaz que, ao ser tocado pelas mãos
da menina, acreditou estar curado de um câncer que, segundo os médicos,
tinha se espalhado pelo corpo dele. “Quem me curou foi Jesus por
intermédio de Alani”, afirmou o rapaz, que foi abraçado por parentes
emocionados. Dias depois, ele morreu.
Para casos como esse, Santos recorre ao argumento que todos os pastores
usam: só se curam as pessoas que têm fé o bastante. Ou seja, o rapaz não
obteve a cura por culpa dele mesmo.
A própria Alani parece não ter tanta fé, se é que se pode exigir tal
coisa de uma criança, porque, quando brinca com suas bonecas, ela as
cura não com o toque de suas mãozinhas milagrosas, mas com injeções e
remédios. A menina disse que quando crescer quer ser médica e talvez
porque deseja curar de verdade as pessoas.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) protege crianças como a
Maísa, mas não como Alani, porque as autoridades temem ser acusadas de
discriminação religiosa.
Por isso Alani corre o risco de não ter salvação.
Com informação do Conexão Repórter, Época e do site da Igreja Pentecostal dos Milagres.
Fonte: PAULOPES WEBLOG
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