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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Ministério Público teme contrariar a "liberdade religiosa"?


Pastor continua a explorar filha de 6 anos com a omissão das autoridades

Para Alani, não existe o Estatuto da Criança

O MP (Ministério Público) de São Paulo informou recentemente que ia notificar as emissoras Record e SBT por explorar imagens de crianças portadoras de deficiências. No ano passado, o Ministério Público do Trabalho acusou a SBT de explorar o trabalho infantil, de Maísa, então com 6 anos. Hoje, a menina apresenta um programa para crianças, e não mais aparece no do Sílvio Santos, destinado a adultos. 

Até agora, Alani, 6, não mereceu a mesma atenção as autoridades, e ela continua sendo explorada como milagreira pelo seu pai, o pastor Adauto Santos, da Igreja Pentecostal dos Milagres, da periferia do Rio de Janeiro. O pastor leva a filha aos cultos desde quando ela tinha um ano. Aos três, a menina começou a ser usada para fazer milagres. [ver vídeo abaixo].

A igreja fez um site para “missionarinha Alani” onde diz que quando “ela louva ou toca [as pessoas] como suas mãos, o sobrenatural tem acontecido: paralíticos andam e cancerosos e aidéticos são curados”.  Do lado de fora da igreja, há fotos da menina com as mãos estendidas e cartazes nos quais supostos deficientes estão se livrando de muletas e de cadeiras de roda.

O pastor Santos admitiu ao jornalista Roberto Cabrini, do programa Conexão Repórter, do SBT, que a filha tem atraído ultimamente mais fiéis para a igreja e que as ofertas têm aumentado, “mas não muito”.

Também entrevistada pelo Cabrini, a menina disse tudo o que o seu pai gostaria que ela dissesse. Falou que acredita ter o poder de cura, que gosta do que faz, que não deixa de frequentar a escola, que faz a lição de casa direitinho etc.

Ela falou que na escola – cursa o primeiro ano do ensino fundamental – se relaciona normalmente com as amiguinhas, com naturalidade, de igual para igual.

Mas antes de o programa Conexão Repórter ir ao ar na semana passada, Época publicou que Alani é  tratada na escola como a “menina superpoderosa”, numa alusão ao desenho animado de três meninas irmãs com poderes extraordinários.

Sandra, a mãe de Alani, disse ao programa do SBT que é uma alegria ter uma filha que recebeu de Jesus o dom de fazer milagre, deixando entendido que não se opõe à participação da menina nos cultos.

Contudo, pela reportagem da Época, em uma determinada época ela chegou a pedir a Santos que mantivesse a menina longe da igreja, o que ocorreu por três anos. Mas o pastor acabou trazendo-a de volta, reforçando o suposto dom de milagre da filha.

Santos costuma contar a história de que Alani começou a fazer milagre já no útero da mãe, que teria se livrado de miomas graças ao poder das mãozinhas da menina. De acordo com a revista, o pastor disse que, quando sua mulher estava grávida de Alani, as pessoas, ao tocar na barriga dela, “sentiam coisas estranhas” e "começavam a chorar".

A psicóloga Rose Araujo não tem dúvida de que a menina foi condicionada pelo pai a agir como milagreira. Ela disse que a Alani pode ter traumas quando der conta de que não possui dom algum ou ao tentar provar  pelo resto da vida que de fato é uma pessoa com poderes divinos.

No site da  igreja, há em vídeos depoimentos de pessoas que afirmam que obtiveram cura por intermédio da Alani. Se esses vídeos forem levados a sério, Alani já proporcionou mais milagres do que Jesus no decorrer de todo o Novo Testamento. Os "curados", como ocorre em outras igrejas evangélicas, são pessoas pobres que não conseguem cuidar  de suas doenças pelo sistema de saúde governamental, o SUS, e muito menos comprar remédios. 

Em seu programa, Cabrini mostrou um rapaz que, ao ser tocado pelas mãos da menina, acreditou estar curado de um câncer que, segundo os médicos, tinha se espalhado pelo corpo dele. “Quem me curou foi Jesus por intermédio de Alani”, afirmou o rapaz, que foi abraçado por parentes emocionados. Dias depois, ele morreu.

Para casos como esse, Santos recorre ao argumento que todos os pastores usam: só se curam as pessoas que têm fé o bastante. Ou seja, o rapaz não obteve a cura por culpa dele mesmo. 

A própria Alani parece não ter tanta fé, se é que se pode exigir tal coisa de uma criança, porque, quando brinca com suas bonecas, ela as cura não com o toque de suas mãozinhas milagrosas, mas com injeções e remédios.  A menina disse que quando crescer quer ser médica e talvez porque deseja curar de verdade as pessoas.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) protege crianças como a Maísa, mas não como Alani, porque as autoridades temem ser acusadas de discriminação religiosa. 

Por isso Alani corre o risco de não ter salvação.

Com informação do Conexão Repórter, Época e do site da Igreja Pentecostal dos Milagres. 

Fonte: PAULOPES WEBLOG

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