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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Saudades do "ajudante" tarado - Fora os "chefs" - IMPERDÍVEL

O que as mulheres andam falando dos homens na cozinha     
Martha Medeiros


Todo homem sofre da  “síndrome Paulo Maluf” e pensa que tudo na vida dele deve ter cara de grande obra.
Comida, por exemplo.
Tem coisa  mais irritante que homem na cozinha?
Pois os moços passaram  séculos longe do fogão e, como não poderia deixar de ser, no  momento em  que colocaram os pés 44 naquele território, viraram  todos, ‘chefs’.
Você dá o maior duro azarando o cara,  finalmente, descola um convite e sai de casa, crente que “quer jantar na minha casa ?” significa “oba, vai rolar  sexo”!
Toca a campainha  vestida para matar e sem calcinha sob o modelito vermelho,  levando debaixo do braço aquele tinto francês que comprou no supermercado, seguindo seu infalível critério de  “rótulo bacaninha que lembra gravura ‘art nouveau’ do Alphonse  Mucha”.
Aqui, primeira dica  importante: não ouse dizer que o vinho veio do Carrefour, senão  você vai ouvir uma longa preleção mais ou menos na linha  “eles  deixam as garrafas em pé… blablabla…  vinho europeu não viaja bem…blablabla… a  rolha resseca… blablabla…” (se rolar, não se  esqueça de balançar a cabeça concordando com ele, combinado?).
Também nem tente  argumentar qualquer coisa,confiando naquele curso de degustação de vinhos que você fez há quatro anos, lembra? 
Lembra nada! Você saía totalmente chumbada de lá todas às  vezes…
Pois para sua  decepção, quem estará à porta, será uma criatura com ar grave  de alquimista prestes a descobrir o segredo de Midas, reclamando da dificuldade de se encontrar uma boa pimenta jamaicana, segurando uma bugiganga Le Creuset de tirar a pele de legumes, embrulhado em  um  avental imenso, engomado, com monograma  bordado, imaculadamente branco e, para o seu azar,  sem aquela abertura atrás.
 E você, louca pra  vê-lo  cozinhando um miojo de bum-bum de fora,  né?
 Confessa…
 É compreensível,  meninas.
 Os homens estão sofrendo de uma espécie de novo-riquismo culinário.
 O gourmet requintado  em que ele se transformou ontem, jamais passaria pela  humilhação de pilotar um fogão como o seu, cujo máximo de avanço  tecnológico é a lâmpada amarelada do  forno.
 Não, ele torrou 22 mil dólares num Ilve italiano de sete bocas, com grelha, chapa infravermelha  para aquecer comida e dois fornos programáveis.
 Fazer as poções  mágicas em panelinhas com teflon pra lavar mais  facilmente?
 Seria muita pobreza, para quem comprou  uma ‘poissonnière’ de cobre com interior revestido de  estanho, só para fazer peixes no vapor (“uma pechincha, 250  dólares”).
 Conjuntinho de facas  como aquelas que você ganhou de presente da tia-avó no primeiro casamento?
 Jamais!
 No entender dele,  nenhuma matéria-prima de manjar dos deuses, merece menos que  facas artesanais Zakharov com cabo de osso e madeira.
 Duas horas e meia  depois, o jantar está servido.
 Sabe aquele frango  refogado que você faz em vinte minutos, jogando um punhado de temperos a olho?
 É mais ou menos isso,  só que coberto por uma finíssima fatia de manga, arrematada com umas três ou quatro lascas de gengibre.
 Isso se não  vier acompanhado daquele molho de ervas que não combina com  nada, e ele insiste em colocar em tudo.
 E pensar que você  estava rezando pra que aquela manga fosse virar sobremesa,  escoltada por uma bolota de um reles sorvetinho da Kibon….
Conselho de quem não  quer que você arruine definitivamente a noite: tem de dizer que ele tá “ali, ó” com Emmanuel Bassoleil.
 Não,  melhor ainda: foi um prato comparável ao poulet do Paul Bocuse.
 Fim do banquete, vá  arregaçando as mangas para ajudar a lavar louça.
 Se deixar por conta  dele, serão mais duas horas esfregando as três panelas de  cobre, duas de pedra sabão e o processador de alimentos que  sujou 7 peças pra picar salsinha, equipamentos rigorosamente necessários para cozinhar uns 250g de frango.
 Hora do café, hora do  relax, certo?
 Pelo menos agora, você  finalmente vai experimentar a tal griffe ‘Illycaffè’, que  custou a ele uma  nota preta, sem imaginar que o elogiadíssimo blend tem cerca de dois terços de café brasileiro.
 Quando a água ferve,  ele grita e de um salto, chega ao coador.
 Queimadura?
 Não, puro horror,  porque “água para café não pode ferver de jeito nenhum”.
 Ah, que saudades  daquele tempo em que cozinhávamos com um “ajudante” tarado, encoxando a gente na pia…

Fonte: Blog do CACAU MENEZES

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