Toda propriedade é roubo de quem a adquire. Ocorre que, aquele que acumula posses, rouba de si próprio e da sua família, não raro, o sossego, no mínimo.
Sendo dono, afora os ladrões, o Estado passa a persegui-lo. Quer tirar-lhe o máximo que puder, seja por via do Imposto de Renda, (vala comum em que os agentes públicos, como reles prepostos do sistema financeiro, buscam arrecadar, para que os banqueiros tenham assegurados os seus ganhos estratosféricos por meio de empréstimos mal contratados e mal vigiados pelo poder público), seja por meio do IPTU ou ITR, dentre outras empulhações igualmente indecentes aos quais se denominam "tributos". Indecentes porque o Estado as impõe, ao pretexto de devolvê-las sob a forma de benefícios sociais, os quais, sabemos, escasseiam, ou são de qualidade questionável.
Efetivamente, acumular riquezas - muitas vezes supérfluas - equivale a alienar parcelas consideráveis de liberdade. Quem tem muitas propriedades, para começar, torna-se refém de secretárias, de despachantes, de contadores, de corretores, de advogados, de engenheiros, de construtores, até de empregados menos qualificados, como mordomos, jardineiros, motoristas, para conservar as coisas que imagina serem demonstração do seu status.
Preocupações na cabeça de quem possui são diretamente proporcionais, em número e grandeza, à quantidade de coisas que imagina serem suas. As coisas ficam e as pessoas se vão, não tendo como levá-las. Triste frustração, até no fim da vida. Quem muito acumulou, não raro prejudicando os outros, ao terminar a vida, parte invariavelmente com a sensação de que não foi inteligente.
"Devia ter amado mais.... ter visto o sol nascer", diz a canção dos Titãs. As pessoas que batem-se para ser ricas, não têm tempo para amar, para apreciar as coisas simples da vida. Trabalham para "enricar" de forma insana, sem tempo para realmente viver, senão em momentos fugazes.
As famílias de alguns amigos que conheço são inversamente estruturadas em relação às suas vidas financeiras. Os saldos bancários são altos, as róis de bens que constam das declarações para o Imposto de Renda são extensos, mas os sentimentos que os membros das mesmas famílias nutrem entre si são de uma pobreza lamentável. Em muitos casos, os casamentos há muito já acabaram. Impera o desamor. Os filhos querem que os pais morram, ávidos por assumirem heranças malditas, pois também já são, a exemplo dos pais, escravos da ânsia de acumulação. A variedade de remédios que tomam é tão grande quanto as preocupações que as propriedades amealhadas engendram. Em suma: não passam de infelizes, incapazes de gestos de verdadeiro afeto. Estão sempre desconfiados uns dos outros. E de nada adianta fazerem de conta, no Natal, no primeiro do ano, nos aniversários, que gostam muito dos seus parentes e que possuem amigos, porque falta sinceridade em tudo que fazem.
As famílias de alguns amigos que conheço são inversamente estruturadas em relação às suas vidas financeiras. Os saldos bancários são altos, as róis de bens que constam das declarações para o Imposto de Renda são extensos, mas os sentimentos que os membros das mesmas famílias nutrem entre si são de uma pobreza lamentável. Em muitos casos, os casamentos há muito já acabaram. Impera o desamor. Os filhos querem que os pais morram, ávidos por assumirem heranças malditas, pois também já são, a exemplo dos pais, escravos da ânsia de acumulação. A variedade de remédios que tomam é tão grande quanto as preocupações que as propriedades amealhadas engendram. Em suma: não passam de infelizes, incapazes de gestos de verdadeiro afeto. Estão sempre desconfiados uns dos outros. E de nada adianta fazerem de conta, no Natal, no primeiro do ano, nos aniversários, que gostam muito dos seus parentes e que possuem amigos, porque falta sinceridade em tudo que fazem.
A pergunta que se impõe: vale mais ser rico e preocupado, ou sóbrio e despreocupado?
Já houve quem defendesse ideia exatamente oposta à contida neste artigo. James Payne argumentou, no seu livro A History of Force, que o mundo tem ficado cada vez mais pacífico com o passar dos séculos, e uma das prováveis razões é o aumento do respeito pelos direitos de propriedade. Ledo engano. O mundo nunca foi tão violento, com a agravante de que, à violência pessoal ou de pequenos grupos, acrescentou-se a violência institucional, dos Estados ao serviço das grandes corporações, gananciosas hidras que não possuem nenhum pudor quando acham necessário ceifar incontáveis vidas, desde que isto sirva para engordarem os seus "ativos" e para se destacarem no "mercado", este o novo e mais cruel dos deuses que a humanidade, na sua insânia, já concebeu.
Tendo pouco, já é difícil ser feliz. Com muito, deve ser mais difícil ainda. Gastrites e úlceras prosperam junto com os saldos bancários e com eles também cresce a cestinha de remédios, para alegria dos laboratórios capitalistas, cujos donos também morrerão infelizes, deixando para trás herdeiros que brigarão durante muitos anos para ver quem leva vantagem sobre os irmãos, já que, para eles, dinheiro é tudo. Honra, paz de espírito, respeito para com os outros, são valores desprezíveis. Para eles conta o poder de compra e de mando: e nada mais lhes interessa.
Morrerão reféns de enfermeiros e nas mãos de médicos igualmente interessados em fazer fortuna, os quais, ao final, também fenecerão, sentindo uma tremenda sensação de impotência, ao verem que, nem seus conhecimentos, nem as posses acumuladas, serão capazes de prolongar suas vidas.
Por isto mesmo, sugiro que vivamos como o singular ex-presidente da inteligente república uruguaia, Mujica, o qual lapidou uma frase que diz quase tudo sobre o tema desta matéria: "Não sou pobre. Sou sóbrio. Vivo somente com o justo, para que as coisas não me roubem a liberdade". E com a consciência limpa. Quem quiser que polua a sua e acumule, juntamente com os bens entesourados, incontáveis dias de forte e incômoda asia.
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