Pesquisadores localizam um santuário com gigantes de mais de 70 e 80 metros quando buscavam um exemplar de 88,5 metros
Um pesquisador, na copa da maior árvore da Amazônia.Rafael Aleixo e Tiago Capelle, de la expedición Jarí-Paru.
Naiara Galarraga Gortázar
Manaus - 23 Sep 2019 - 19:05 BRT
A Amazônia ainda guarda surpresas para os cientistas. E conserva rincões em que nenhum ser humano pisou. O engenheiro florestal Eric Gorgens, 36 anos, liderou uma expedição que acaba de confirmar em um desses cantos remotos uma descoberta espantosa: uma árvore de 82 metros (como um prédio de 27 andares), a mais alta que os cientistas tocaram na maior floresta tropical do mundo. Está situada na Floresta Estadual do Paru (Estado do Pará). Chegaram a ela de barco e a pé, guiados por indígenas.
Lá eles comprovaram que ela não está sozinha, mas acompanhada por quinze exemplares que ultrapassam os 70 metros. “Não havia dados de que existiam árvores gigantes na Amazônia, no máximo, eram de 60 metros. Mas encontramos exemplares de 82 metros, de 74, de 72 ... E isso acende uma luz para a ciência”, explica por telefone esse professor e pesquisador da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Com troncos de dois a três metros, são da espécie dinizia excelsa. Foram medidas pelos escaladores, soltando uma corda desde a copa. Depois, eles as analisaram e recolheram material genético, mas não tiveram tempo de chegar à gigante entre os gigantes, a árvore mais alta de que têm indícios, de 88,5 metros. É mais que o dobro do Cristo Redentor que coroa a baía do Rio de Janeiro.
A expedição que Gorgens realizou com uma equipe de 30 pessoas lembra aquelas dos naturalistas europeus do século XIX. "Foi uma viagem muito difícil porque é uma região completamente isolada", enfatiza. Não há nem mesmo tribos não contatadas. Um grupo de 12 indígenas da comunidade de São Francisco de Iratapuru, mestres da navegação, os guiou durante os cinco dias rio acima pelo Jari e dois de caminhada pela mata. Os demais eram dois escaladores, especialistas em subir em árvores na Amazônia para medi-las sem danificá-las, pesquisadores de cinco universidades federais brasileiras, de institutos públicos de pesquisa, de Cambridge e de Oxford, dois bombeiros militares e uma equipe da TV Globo.
No alto de um gigante da Amazônia.
Foram dez dias de agosto em que estiveram completamente incomunicáveis. Somente quando deixaram a exuberante floresta amazônica eles souberam que o mundo havia descoberto com horror, graças ao presidente francês e ao G7, os incêndios que devoram a Amazônia e outras áreas da rica biodiversidade no Brasil. A Frontiers in Ecology publicou os resultados desta pesquisa.
Gorgens sabe que a árvore de 88,5 metros existe porque esse “santuário gigante de árvores” foi detectado com um medidor de laser acoplado a um avião Cessna que fazia sobrevoos para outra pesquisa: calcular a biomassa da Amazônia, medir quanto pesa a vegetação, dados cruciais para saber, por exemplo, quanto carbono armazena. Porque, embora do ar a Amazônia possa parecer um tapete de musgo, sob essas copas esta região maior do que toda a UE abriga uma imensa variedade de vegetação. Esses 800 sobrevoos localizaram uma chamativa concentração de árvores imponentes no parque do Paru. E lá se foram eles para confirmar o que os sistemas remotos anunciavam.
Além de citar os recordes, Gorgens explica que a descoberta é importante porque as árvores gigantes abrem uma nova perspectiva para entender melhor como a floresta tropical atua na dinâmica global do carbono e da biodiversidade. "Uma única árvore gigante pode acumular tanto carbono quanto 500 árvores normais", diz ele. Os cientistas estimam que a Amazônia armazene 17% do estoque de carbono do mundo. Agora, o desafio é saber o que propiciou tantos exemplares de tal altura. A distância e o fato de estar em uma área de conservação legalmente protegida são fatores importantes, destaca. Por isso, o pesquisador brasileiro considera essencial a sobrevivência e a expansão desses espaços.Pesquisadores das árvores gigantes da Amazônia.Rafael Aleixo e Tiago Capelle, de la expedición Jarí-Paru
Enquanto Gorgens conversava com este jornal sobre a expedição, milhões de adolescentes caminhavam por cidades de todo o mundo para exigir que os adultos ouçam os cientistas como este brasileiro e tomem medidas contundentes contra a crise climática porque não há planeta B. Ele está encantado com esse despertar dos adolescentes e destaca que a crescente preocupação com o aquecimento global indica que "nossa pesquisa não está desconectada dos cidadãos".
A expedição do Jarí-Paru foi possível graças a vários elementos que a política ambiental de Jair Bolsonaro pôs em grave risco com as tesouradas nos fundos públicos para pesquisa, o congelamento do Fundo Amazônia, bancado pela Noruega e Alemanha, e a campanha de descrédito contra a agência oficial que mede o desmatamento, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Após essa primeira incursão, os pesquisadores querem retornar à área em busca do gigante entre os gigantes. Seus 88,5 metros são um recorde da Amazônia. O mundial é uma sequoia-vermelha nos Estados Unidos, de 115,7 metros (38 andares). O tropical é uma shorea faguetiana de 100,8 metros, na Malásia.
Foram dez dias de agosto em que estiveram completamente incomunicáveis. Somente quando deixaram a exuberante floresta amazônica eles souberam que o mundo havia descoberto com horror, graças ao presidente francês e ao G7, os incêndios que devoram a Amazônia e outras áreas da rica biodiversidade no Brasil. A Frontiers in Ecology publicou os resultados desta pesquisa.
Gorgens sabe que a árvore de 88,5 metros existe porque esse “santuário gigante de árvores” foi detectado com um medidor de laser acoplado a um avião Cessna que fazia sobrevoos para outra pesquisa: calcular a biomassa da Amazônia, medir quanto pesa a vegetação, dados cruciais para saber, por exemplo, quanto carbono armazena. Porque, embora do ar a Amazônia possa parecer um tapete de musgo, sob essas copas esta região maior do que toda a UE abriga uma imensa variedade de vegetação. Esses 800 sobrevoos localizaram uma chamativa concentração de árvores imponentes no parque do Paru. E lá se foram eles para confirmar o que os sistemas remotos anunciavam.
Além de citar os recordes, Gorgens explica que a descoberta é importante porque as árvores gigantes abrem uma nova perspectiva para entender melhor como a floresta tropical atua na dinâmica global do carbono e da biodiversidade. "Uma única árvore gigante pode acumular tanto carbono quanto 500 árvores normais", diz ele. Os cientistas estimam que a Amazônia armazene 17% do estoque de carbono do mundo. Agora, o desafio é saber o que propiciou tantos exemplares de tal altura. A distância e o fato de estar em uma área de conservação legalmente protegida são fatores importantes, destaca. Por isso, o pesquisador brasileiro considera essencial a sobrevivência e a expansão desses espaços.Pesquisadores das árvores gigantes da Amazônia.Rafael Aleixo e Tiago Capelle, de la expedición Jarí-Paru
Enquanto Gorgens conversava com este jornal sobre a expedição, milhões de adolescentes caminhavam por cidades de todo o mundo para exigir que os adultos ouçam os cientistas como este brasileiro e tomem medidas contundentes contra a crise climática porque não há planeta B. Ele está encantado com esse despertar dos adolescentes e destaca que a crescente preocupação com o aquecimento global indica que "nossa pesquisa não está desconectada dos cidadãos".
A expedição do Jarí-Paru foi possível graças a vários elementos que a política ambiental de Jair Bolsonaro pôs em grave risco com as tesouradas nos fundos públicos para pesquisa, o congelamento do Fundo Amazônia, bancado pela Noruega e Alemanha, e a campanha de descrédito contra a agência oficial que mede o desmatamento, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Após essa primeira incursão, os pesquisadores querem retornar à área em busca do gigante entre os gigantes. Seus 88,5 metros são um recorde da Amazônia. O mundial é uma sequoia-vermelha nos Estados Unidos, de 115,7 metros (38 andares). O tropical é uma shorea faguetiana de 100,8 metros, na Malásia.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/22/ciencia/1569142311_211979.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário