Acidente que matou quatro pedestres, incluindo criança, impulsionou pressão sobre SUVs na capital alemã. Apesar de não serem mais perigosos, modelos são mais poluentes do que carros menores.
SUV é retirado do local do acidente em Berlim que matou quatro pedestres
Pouco depois das 19h, numa agradável noite de fim de verão, um carro modelo SUV em alta velocidade invade a calçada numa rua do centro de Berlim e atropela pedestres que aguardavam para atravessar. Quatro deles morrem na hora: uma avó de 64 anos, seu neto de apenas três e dois jovens de 28 e 29 anos (um espanhol e um britânico). A mãe da criança que morreu ao lado da avó sobreviveu e presenciou a morte do filho e da própria mãe no acidente.
A tragédia ocorreu numa das ruas movimentadas do centro de Berlim, local por onde passam também muitos turistas. Diversos pedestres que testemunharam o acidente ficaram em estado de choque. Os bombeiros que socorreram as vítimas falaram em "imagens apavorantes".
As causas da tragédia ainda são uma incógnita, a polícia está investigando. O motorista do Porsche Macan, que sofreu ferimentos leves, silenciou após o acidente. Seu advogado falou de emergência médica: o empresário de 42 anos teria tido um ataque epilético ao volante. A promotoria está investigando o acidente como homicídio culposo, em que não houve intenção de matar, mas quer descobrir se o acusado não infringiu leis que proíbem pessoas com esse diagnóstico de conduzir veículos.
O acidente no início de setembro de 2019 poderia ser apenas mais um, entre tantos. Todos os dias, milhares em todo o mundo perdem suas vidas no trânsito, grande parte pedestres e ciclistas. Em 2018, acidentes nas ruas de Berlim resultaram em 45 mortes, sendo 19 de pedestres e 11 de ciclistas. Em todo o país, foram 3.275 mortes no trânsito. Os números são muito menores do que no Brasil, onde, segundo os dados mais recentes, de 2016, mais de 37 mil óbitos foram registrados nas ruas e rodovias do país.
A tragédia berlinense, no entanto, chocou por ter ocorrido num dos horários mais movimentados do dia, e diante o número e idade dos mortos, além de nenhum deles estar dentro do carro que provocou o acidente. O caso gerou um debate sobre a presença de automóveis, e principalmente SUVs, na cidade. O primeiro ato foi de moradores que fizeram uma vigília no local do acidente em homenagem às vítimas. Surgiu também uma petição pedindo a redução do limite máximo de velocidade na área para 30 km/h.
Políticos do Partido Verde e organizações ambientais passaram a pleitear ainda a proibição de SUVs na capital. "Cada vez mais carros particulares estão maiores e mais pesados, porque as pessoas os consideram individualmente mais seguros para si próprias, mas a segurança dos outros não é levada em conta. Os SUVs foram pensados para terrenos difíceis, não para a cidade", criticou a deputada estadual dos verdes Antje Kapek à emissora de rádio RBB.
Nos últimos anos, os SUVs se tornaram um dos modelos preferidos na Alemanha, com 3,14 milhões delas circulando em todo o país, tendência crescente. Montadoras vêm investindo pesado nesses modelos. Embora especialistas afirmem que atropelamentos com SUVs, já a partir de velocidades baixas, são tão fatais quanto com carros menores, o modelo ocupa muito mais espaço e polui mais do que o dobro que eles.
Já por esses fatores, uma restrição de SUVs na cidade faria sentido. Estudos recentes revelaram que a poluição do ar causou 8,8 milhões de mortes em 2015. Grande parte dessa poluição é causada pela queima de combustíveis fósseis por automóveis. Além disso, carros também contribuem para o aquecimento global, o transporte é responsável por 25% das emissões globais. Em São Paulo, por exemplo, os automóveis emitem 72,6% dos gases causadores do efeito estufa na cidade.
Em Berlim, como ciclista, foi fácil perceber o aumento de SUVs circulando na cidade. Pedalar tem ficado cada vez mais perigoso e estressante. Às vezes tenho a impressão de que quanto maior o carro, menos o motorista presta atenção nos demais integrantes do trânsito, e dirige como se não houvesse mais ninguém nas ruas. A região onde ocorreu a tragédia está tomada por automóveis, que ignoram ciclovias e ameaçam ciclistas ao dirigir de forma ofensiva.
O atual governo de Berlim tem como meta alcançar nos próximos anos a neutralização do carbono na cidade, ou seja, reduzir as emissões de CO2 e compensar as que não forem reduzidas. Para alcançar essa meta, é fundamental diminuir a circulação de veículos movidos a combustíveis fósseis. O debate sobre o futuro dos carros, principalmente os grandes poluentes SUVs, já ecoava discretamente. A tragédia apenas lhe deu mais força, e quem sabe servirá para mudanças que protejam a vida de todos os integrantes do trânsito.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
SUV é retirado do local do acidente em Berlim que matou quatro pedestres
Pouco depois das 19h, numa agradável noite de fim de verão, um carro modelo SUV em alta velocidade invade a calçada numa rua do centro de Berlim e atropela pedestres que aguardavam para atravessar. Quatro deles morrem na hora: uma avó de 64 anos, seu neto de apenas três e dois jovens de 28 e 29 anos (um espanhol e um britânico). A mãe da criança que morreu ao lado da avó sobreviveu e presenciou a morte do filho e da própria mãe no acidente.
A tragédia ocorreu numa das ruas movimentadas do centro de Berlim, local por onde passam também muitos turistas. Diversos pedestres que testemunharam o acidente ficaram em estado de choque. Os bombeiros que socorreram as vítimas falaram em "imagens apavorantes".
As causas da tragédia ainda são uma incógnita, a polícia está investigando. O motorista do Porsche Macan, que sofreu ferimentos leves, silenciou após o acidente. Seu advogado falou de emergência médica: o empresário de 42 anos teria tido um ataque epilético ao volante. A promotoria está investigando o acidente como homicídio culposo, em que não houve intenção de matar, mas quer descobrir se o acusado não infringiu leis que proíbem pessoas com esse diagnóstico de conduzir veículos.
O acidente no início de setembro de 2019 poderia ser apenas mais um, entre tantos. Todos os dias, milhares em todo o mundo perdem suas vidas no trânsito, grande parte pedestres e ciclistas. Em 2018, acidentes nas ruas de Berlim resultaram em 45 mortes, sendo 19 de pedestres e 11 de ciclistas. Em todo o país, foram 3.275 mortes no trânsito. Os números são muito menores do que no Brasil, onde, segundo os dados mais recentes, de 2016, mais de 37 mil óbitos foram registrados nas ruas e rodovias do país.
A tragédia berlinense, no entanto, chocou por ter ocorrido num dos horários mais movimentados do dia, e diante o número e idade dos mortos, além de nenhum deles estar dentro do carro que provocou o acidente. O caso gerou um debate sobre a presença de automóveis, e principalmente SUVs, na cidade. O primeiro ato foi de moradores que fizeram uma vigília no local do acidente em homenagem às vítimas. Surgiu também uma petição pedindo a redução do limite máximo de velocidade na área para 30 km/h.
Políticos do Partido Verde e organizações ambientais passaram a pleitear ainda a proibição de SUVs na capital. "Cada vez mais carros particulares estão maiores e mais pesados, porque as pessoas os consideram individualmente mais seguros para si próprias, mas a segurança dos outros não é levada em conta. Os SUVs foram pensados para terrenos difíceis, não para a cidade", criticou a deputada estadual dos verdes Antje Kapek à emissora de rádio RBB.
Nos últimos anos, os SUVs se tornaram um dos modelos preferidos na Alemanha, com 3,14 milhões delas circulando em todo o país, tendência crescente. Montadoras vêm investindo pesado nesses modelos. Embora especialistas afirmem que atropelamentos com SUVs, já a partir de velocidades baixas, são tão fatais quanto com carros menores, o modelo ocupa muito mais espaço e polui mais do que o dobro que eles.
Já por esses fatores, uma restrição de SUVs na cidade faria sentido. Estudos recentes revelaram que a poluição do ar causou 8,8 milhões de mortes em 2015. Grande parte dessa poluição é causada pela queima de combustíveis fósseis por automóveis. Além disso, carros também contribuem para o aquecimento global, o transporte é responsável por 25% das emissões globais. Em São Paulo, por exemplo, os automóveis emitem 72,6% dos gases causadores do efeito estufa na cidade.
Em Berlim, como ciclista, foi fácil perceber o aumento de SUVs circulando na cidade. Pedalar tem ficado cada vez mais perigoso e estressante. Às vezes tenho a impressão de que quanto maior o carro, menos o motorista presta atenção nos demais integrantes do trânsito, e dirige como se não houvesse mais ninguém nas ruas. A região onde ocorreu a tragédia está tomada por automóveis, que ignoram ciclovias e ameaçam ciclistas ao dirigir de forma ofensiva.
O atual governo de Berlim tem como meta alcançar nos próximos anos a neutralização do carbono na cidade, ou seja, reduzir as emissões de CO2 e compensar as que não forem reduzidas. Para alcançar essa meta, é fundamental diminuir a circulação de veículos movidos a combustíveis fósseis. O debate sobre o futuro dos carros, principalmente os grandes poluentes SUVs, já ecoava discretamente. A tragédia apenas lhe deu mais força, e quem sabe servirá para mudanças que protejam a vida de todos os integrantes do trânsito.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Fonte: https://www.dw.com/pt-br/uma-trag%C3%A9dia-e-o-debate-sobre-carros-em-berlim/a-50547011
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