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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

ALUCINADOS

Maioria dos consumidores portugueses de “novas drogas” pertence às classes altas 

Alexandr Gnezdilov Light Paintin

Possuem um título académico e estão empregados, na maior parte dos casos. Mas poucos sabem identificar todas as substâncias psicoativas que já consumiram

O estudo não deixa margem para dúvidas: metade dos inquiridos tem um bacharelato, mestrado ou outro diploma do ensino superior – em 17% dos casos falamos mesmo de doutoramento. Além disso, apenas 9% estava desempregado na altura das entrevistas e todos possuíam casa própria, apartamento alugado ou habitavam numa unidade residencial. Estas as razões para concluir que o perfil dos portugueses consumidores destas “novas drogas” se encaixa no segmento das classes mais altas. “São pessoas escolarizadas e profissionalmente ativas”, sublinha ainda Susana Henriques, a responsável pela investigação feita em Portugal, e orientadora da tese de doutoramento que apurou os dados. “O consumidor de drogas estava associado a alguém com um aspeto degradante e que vivia na rua. Já não é assim, na maioria dos casos”, acrescenta Joana Paula Silva, a autora da tese.
Os inquéritos realizados detetaram ainda uma predominância do sexo masculino, uma média de idade a rondar os 21 anos e um consumo feito sobretudo em ambientes festivos e entre amigos – além da compra ser feita na rua, o que é, salienta Susana Henriques, um dos pontos em que se nota uma diferença entre os consumidores portugueses e os dos restantes países participantes da investigação: Alemanha, Holanda, Hungria, Irlanda e Polónia. “Por cá, a internet é a principal fonte de informação, mas não é o espaço mais comum para comprar.”
Já a grande dificuldade dos portugueses é identificar quais foram as “novas substâncias psicoativas” que já consumiram – sendo que o conceito equivale a um novo estupefaciente ou um novo psicotrópico, puro ou numa preparação, que não seja controlado pela Convenção Única das Nações Unidas sobre os estupefacientes, de 1961, nem pela Convenção das Nações Unidas sobre substâncias psicotrópicas, de 1971, e que possa constituir ameaça para a saúde pública de uma forma comparável à das substâncias aí elencadas.
“O conceito de novas substâncias psicoativas continua a ser muito pouco claro entre a população portuguesa, inclusive entre os seus próprios consumidores”, precisa a autora da tese, Joana Paula Silva. “Muitas das pessoas que entrevistei achavam no início da conversa que nunca tinham consumido NSP. Porém, ao longo do diálogo, perceberam que afinal já o tinham feito sem saberem”. Esse desconhecimento tem, antes de mais, um primeiro efeito inesperado que é a facilitação das vendas fraudulentas. “Como não as sabem distinguir, as pessoas são facilmente enganadas.”
O diagnóstico integra o projeto internacional “New Psychoative Substances: transnational project on diferent user groups, user characteristics, extent and patterns of use, market dynamics and best practices in prevention”, financiado pela Comissão Europeia – e que teve a participação de instituições e investigadores de seis países europeus, tendo Portugal sido representado pelo Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES-IUL) do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

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