Maioria dos consumidores portugueses de “novas drogas” pertence às classes altas
25.09.2019 às 18h04
Possuem um título académico e estão empregados, na maior parte dos casos. Mas poucos sabem identificar todas as substâncias psicoativas que já consumiram
O
estudo não deixa margem para dúvidas: metade dos inquiridos tem um
bacharelato, mestrado ou outro diploma do ensino superior – em 17% dos
casos falamos mesmo de doutoramento. Além disso, apenas 9% estava
desempregado na altura das entrevistas e todos possuíam casa própria,
apartamento alugado ou habitavam numa unidade residencial. Estas as
razões para concluir que o perfil dos portugueses consumidores destas
“novas drogas” se encaixa no segmento das classes mais altas. “São
pessoas escolarizadas e profissionalmente ativas”, sublinha ainda Susana
Henriques, a responsável pela investigação feita em Portugal, e
orientadora da tese de doutoramento que apurou os dados. “O consumidor
de drogas estava associado a alguém com um aspeto degradante e que vivia
na rua. Já não é assim, na maioria dos casos”, acrescenta Joana Paula
Silva, a autora da tese.
Os inquéritos realizados
detetaram ainda uma predominância do sexo masculino, uma média de idade a
rondar os 21 anos e um consumo feito sobretudo em ambientes festivos e
entre amigos – além da compra ser feita na rua, o que é, salienta Susana
Henriques, um dos pontos em que se nota uma diferença entre os
consumidores portugueses e os dos restantes países participantes da
investigação: Alemanha, Holanda, Hungria, Irlanda e Polónia. “Por cá, a
internet é a principal fonte de informação, mas não é o espaço mais
comum para comprar.”
Já
a grande dificuldade dos portugueses é identificar quais foram as
“novas substâncias psicoativas” que já consumiram – sendo que o conceito
equivale a um novo estupefaciente ou um novo psicotrópico, puro ou numa
preparação, que não seja controlado pela Convenção Única das Nações
Unidas sobre os estupefacientes, de 1961, nem pela Convenção das Nações
Unidas sobre substâncias psicotrópicas, de 1971, e que possa constituir
ameaça para a saúde pública de uma forma comparável à das substâncias aí
elencadas.
“O
conceito de novas substâncias psicoativas continua a ser muito pouco
claro entre a população portuguesa, inclusive entre os seus próprios
consumidores”, precisa a autora da tese, Joana Paula Silva. “Muitas das
pessoas que entrevistei achavam no início da conversa que nunca tinham
consumido NSP. Porém, ao longo do diálogo, perceberam que afinal já o
tinham feito sem saberem”. Esse desconhecimento tem, antes de mais, um
primeiro efeito inesperado que é a facilitação das vendas fraudulentas.
“Como não as sabem distinguir, as pessoas são facilmente enganadas.”
O
diagnóstico integra o projeto internacional “New Psychoative
Substances: transnational project on diferent user groups, user
characteristics, extent and patterns of use, market dynamics and best
practices in prevention”, financiado pela Comissão Europeia – e que teve
a participação de instituições e investigadores de seis países
europeus, tendo Portugal sido representado pelo Centro de Investigação e
Estudos em Sociologia (CIES-IUL) do ISCTE – Instituto Universitário de
Lisboa.
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