Houve tempo em que os escritores, como ENEDINO BATISTA RIBEIRO (na obra Gavião-de-penacho – IHGSC + ALESC/Fpolis-SC/1990, vol. 1, p. 133), retratando seu "rincão", discorriam poeticamente sobre um certo lugar, assim:
(...) o terreno se abria num vargedo amplo, formado de terras de aluvião, muito férteis, com lindas e excelentes lavouras (...)
E agora? Em Ratones também temos várzeas (antigamente a Vargem pequena era chamada Várzea de Baixo), onde, por exemplo, alguns poucos, como dona Sônia Jandiroba, insistem, valentemente, em aproveitar as terras.
Pois bem.: construir em topos de morro e em certas encostas, com declividade acentuada, é considerado crime ambiental, porque tais áreas são consideradas de preservação permanente - Código Florestal, art. 4 -, embora a música brasileira cante as belezas do morro com a frase da manchete acima e quem infringe a lei está sujeito: a) a pagar multa administrativa; b) a responder a um processo por crime contra o meio ambiente; c) a pagar indenização, por conta de ação civil pública movida pelo Ministério Público, dentre outras "aporrinhações".
Além de tais incômodos, "morar em morro é coisa de favelado e quem gosta de morro é cabrito", pensam muitas pessoas.
Mas, desprezando-se as ameaças dos órgãos ambientais (porque um dos princípios mais valorizados do Direito é o da "primazia da realidade", que se impõe aos ideais dos legisladores, em qualquer campo), o negócio é fugir para as "eminências" (um nome mais nobre que o simples "morro"), seja um albardão, uma lombada, um outeiro, uma coxilha, uma cumeada, um tergo, um topo. Vai valer tudo, para ficar longe de uma invasão de siris, caranguejos e goiás.
Minha irmã Idezia me fez lembrar que nem tudo é tão ruim no morro, com a música da Elis Regina ("Maria do Socorro"), cuja letra diz:
"Maria do Socorro
Suas pernas torneadas
Pelas ladeiras do morro".
Taí: as mulheres preocupadas com a estética teriam muito a ganhar.
O problema, lá nas alturas, é ter que cantar também a "lata d'água na cabeça".
Então, só nos resta debandar para a Serra.
Finalmente, vamos deixar de ser "caranguejos", como se dizia dos portugueses, que não gostavam de interiorizar a colonização, mantendo-se, a todo custo, no litoral.
Terá a turma que andou comprando terras nos condomínios de "serra-acima" tido uma antevisão profética do caos que se avizinha?
Parece que sim. Foram mais espertos, porque agora a tendência será de os preços dispararem, com o aumento exponencial da demanda.
Terá a turma que andou comprando terras nos condomínios de "serra-acima" tido uma antevisão profética do caos que se avizinha?
Parece que sim. Foram mais espertos, porque agora a tendência será de os preços dispararem, com o aumento exponencial da demanda.
E a Capital, como ficará? Restrita aos morros? A saída será as palafitas, ou casas flutuantes? Afinal, aqui, não temos a "totora", como lá no Perú e as espigas de piteira não seriam suficientes para fazermos balsas.
Como se vê, a ideia de mudar a Capital para Curitibanos já não parece tão absurda, né?
Como se vê, a ideia de mudar a Capital para Curitibanos já não parece tão absurda, né?
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Vamos à notícia:
Aumento do nível do mar acelerou e já é incontrolável, advertem especialistas da ONU
IPCC prognostica uma multiplicação dos fenômenos extremos vinculados ao aquecimento dos oceanos
Imagem aérea de povoado da região de Kivalina, no Alascar, ameaçado pelo aumento do nível do mar.JOE RAEDLE (AFP)
Manuel Planelles
Nova York - 25 Sep 2019 - 10:42 BRT
É incontrolável e está se acelerando. O aumento do nível do mar disparou por causa do degelo nos extremos norte e sul do planeta, conclui o IPCC, o painel de cientistas que, sob o guarda-chuva da ONU, analisa os impactos da mudança climática geradas pela ação do homem. Os gases de efeito estufa emitidos pelo ser humano até agora fazem que o degelo e o aumento do nível do mar continuem além deste século, conclui o IPCC em um relatório apresentado nesta quarta-feira.
O dilema que esta geração enfrenta agora tem a ver com o tamanho da hipoteca —que também inclui fenômenos meteorológicos extremos mais frequentes, ameaça à segurança alimentar e impactos na biodiversidade— que deixará para as futuras gerações. Que seja uma carga menor, destacam os especialistas, dependerá da rapidez com que a humanidade pare de emitir esses gases que superaquecem o planeta e estão vinculados principalmente aos combustíveis fósseis. Ao apresentar o relatório, Hoesung Lee, presidente do IPCC, conclamou os países a reduzirem suas emissões de gases, para que os impactos, embora não possam mais ser eliminados, pelo menos sejam atenuados e se tornem "mais manejáveis para as pessoas mais vulneráveis". Porque, como destaca o IPCC, "as pessoas mais expostas e vulneráveis são frequentemente aquelas que contam com menor capacidade de resposta".
Esse dilema geracional, apresentado em um relatório especial do IPCC, chega numa semana intensa na batalha contra a mudança climática. Depois das gigantescas manifestações estudantis de 20 de setembro e da cúpula da ONU da última segunda-feira em Nova York, espera-se na sexta-feira um grande protesto global contra a inação frente ao aquecimento. O relatório especial do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática sobre o aquecimento e os oceanos é parte de uma série de análise temáticas. Este grupo internacional de especialistas revisa e compila o conhecimento sobre a mudança climática partindo dos estudos científicos publicados. Nesta ocasião participaram mais de 100 autores de 36 países, que revisaram 7.000 publicações.
"O aumento do nível do mar se acelerou devido ao aumento combinado da perda de gelo das camadas da Groenlândia e da Antártida", conclui o estudo. A perda de gelo na Antártida por causa do aumento da temperatura no período entre 2007 e 2016 triplicou com relação à década anterior; na Groenlândia, duplicou.
Esse degelo acelerado levou a uma taxa de aumento do nível do mar também mais rápido, até 2,5 vezes mais veloz na última década em relação à média do século passado. Mas as projeções do relatório falam de um problema que se agravará, mesmo que seja cumprido o Acordo de Paris, que determina que o aumento médio da temperatura do planeta não deve superar os dois graus em relação aos níveis pré-industriais. No cenário mais otimista, com esse limite em dois graus estipulado em Paris, o IPCC prognostica um aumento do nível do mar de 43 centímetros até 2100 (entre 1902 e 2015 foi de 16 centímetros). No cenário mais adverso, em que as emissões continuem crescendo como até agora, a elevação do nível do mar chegaria a 84 centímetros e poderia superar um metro. Além disso, durante os próximos séculos esse ritmo continuará ganhando velocidade e intensidade.
A análise destaca os "perigos relacionados ao clima" que ameaçam as populações costeiras: ciclones tropicais, níveis extremos do mar, inundações e perda de gelo. E recorda que nas zonas costeiras baixas vivem atualmente cerca de 10% da população mundial (680 milhões de pessoas). Além disso, 65 milhões de outras pessoas habitam pequenos Estados insulares. E quase outros 10% da população (670 milhões) vivem em regiões de alta montanha, outra das áreas analisadas no relatório.
Aumento de eventos extremos
Esses quase 1,5 bilhão de indivíduos estão na zona vermelha dos impactos climáticos relacionados aos oceanos e à água. São impactos que ocorrem, por exemplo, pela combinação do aumento do nível do mar com tormentas ou ciclones. O relatório alerta que até 2050 "os eventos extremos do nível do mar", até agora considerados excepcionais, que costumavam ocorrer uma vez a cada século, irão se tornar habituais e ocorrerão "pelo menos uma vez por ano" em muitos lugares do planeta. "Especialmente em regiões tropicais", embora também em zonas como a mediterrânea. O IPCC prognostica, além disso, uma maior frequência das ondas de calor marítimas e dos eventos extremos do El Niño e La Niña.
O estudo analisa também as ações de adaptação (fundamentalmente investimentos) necessárias para enfrentar a elevação do mar, que pode engolir cidades costeiras. E explica que esses investimentos podem ser rentáveis para as áreas urbanas densamente povoadas (Nova York, por exemplo, tem um plano para investir dez bilhões em defesas). Mas é muito difícil que áreas rurais e mais pobres, como os pequenos Estados insulares, possam arcar com isso.
O problema não é só o aumento do nível do mar. Associados aos fenômenos meteorológicos há também a elevação da temperatura da água – que desde 1970 subiu sem cessar – e outros problemas decorrentes da mudança climática. A análise mostra que durante o século XXI os oceanos alcançarão "condições sem precedentes" pelo aumento da temperatura, uma maior acidificação e a diminuição do oxigênio. Isto terá um impacto, por exemplo, na pesca, o que afetará "os meios de vida e a segurança alimentar" das comunidades que dependem dos recursos marítimos para sobreviver.
"As populações de peixes se moverão em direção aos polos para localizar suas temperaturas preferidas; isto afetará particularmente os países tropicais em termos de pesca, mas na Europa vimos a cavala e o bacalhau já se afastando para o norte", explica por e-mail o professor de Biologia Alex Rogers, da Universidade de Oxford. "Os peixes também se tornam menores à medida que aumentam as temperaturas", acrescenta esse especialista, referindo-se aos efeitos para a indústria pesqueira.
Acidificação dos oceanos
Entre 20% e 30% do dióxido de carbono emitido pelo homem foi absorvido pelos oceanos desde 1980, algo que deverá aumentar durante este século. Ao absorver mais CO2 "o oceano experimentou uma crescente acidificação" e ocorreu "uma perda de oxigênio". "A mudança climática está impactando os oceanos não só no aumento do nível do mar", observa Gladys Martínez, membro da Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA). "O oceano está colapsando, e o tempo está se esgotando para nós", alerta esta especialista, que pede mais atenção também aos efeitos da perda de biodiversidade. O relatório do IPCC observa, por exemplo, o alto risco a algumas espécies e ecossistemas sensíveis, como os corais.
Impactos nas geleiras
A perda das geleiras também influi no aumento do nível do mar. Mas, além disso, tem consequências além das costas. Essa perda representa, segundo o IPCC, uma alteração da “disponibilidade e qualidade da água doce", que tem implicações na agricultura e na produção de energia hidrelétrica.
Outro dos fenômenos analisados é o desaparecimento do permafrost (a camada de solo permanentemente congelado) devido ao aquecimento. Os especialistas prognosticam que ele continuará diminuindo, e que isso, por sua vez, permitirá a liberação dos gases do efeito estufa que vinham sendo guardados nesse tipo de terreno.
Todas estas mudanças longe da costa levarão a um aumento significativo dos incêndios florestais durante o século XXI na maioria das regiões de tundra e boreais, e também em algumas regiões montanhosas, adverte o IPCC.
Fonte: EL PAIS
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