Europeus do Leste ainda exaltam onda de mudanças de 1989
Três décadas depois da queda do comunismo, maioria dos habitantes da Europa Oriental vê positivamente a democracia e a economia de mercado. Satisfação é maior em antigos países comunistas que aderiram à União Europeia.
Operários retiram uma gigantesca estátua do revolucionário Vladimir Lênin do setor oriental de Berlim logo após a queda do muro
A cena é emblemática: os trabalhadores portam capacetes e botinas - equipamentos de proteção individual - que os capitalistas não teriam oferecido gratuitamente, não fossem as ferozes lutas sindicais travadas pelos comunistas, que lideranças como Lenin encabeçaram. Gente que estigmatiza os comunistas e tece loas ao capitalismo, é ignorante da história das conquistas sociais dos hipossuficientes, obtidas graças ao empenho - em muitos casos com perda das próprias vidas - dos denodados comunistas.
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Em 1989, a Europa estava de cabeça para baixo, o comunismo entrava em colapso, de Berlim a Moscou. Os países da Europa Central e Oriental não estavam mais sob o domínio da União Soviética. As fronteiras para o oeste caíram; nos anos seguintes os Estados se abriram social e economicamente. Uma onda de otimismo atravessava o continente.
Trinta anos depois, a maioria dos cidadãos dos países do antigo bloco comunista ainda exalta as mudanças políticas e sociais daquele ano, embora o quadro tenha variações dependendo do país e da sua situação econômica. É o que revela o estudo Opinião pública europeia, três décadas após a queda do comunismo, apresentado pelo instituto americano de pesquisas Pew Research Center, com o apoio da fundação alemã Körber.
"O grau de satisfação está relacionado à prosperidade econômica", diz Nora Müller, chefe do departamento de política internacional e diretora da sucursal da Fundação Körber em Berlim. "Isso não é uma grande surpresa", e por isso o sistema multipartidário democrático – e também a economia de mercado – são particularmente populares em países como Polônia e Lituânia, que conseguiram aumentar consideravelmente o poder aquisitivo de seus cidadãos desde 1989.
Multidão em frente ao antigo Muro de Berlim, em novembro de 1989. Era o fim do símbolo máximo da Cortina de Ferro que dividiu a Europa
Sobretudo nos países que se beneficiaram economicamente de filiar-se à UE, a população se diz satisfeita com as mudanças. Os cidadãos também acreditam que a adesão à UE é boa, de acordo com o levantamento, que entrevistou quase 19 mil indivíduos.
No entanto, o comprometimento com os princípios democráticos não é consistentemente forte em todos esses Estados. "A satisfação é proporcionalmente menor nos países da UE que não estão tão bem economicamente – a Bulgária, por exemplo, se destaca aí", explica Nora Müller.
Ceticismo na Ucrânia
Existem algumas diferenças regionais significativas em termos de desenvolvimento político e econômico, nos países da Europa Central e Oriental. Particularmente alta é a aprovação na Polônia, onde 85% saúdam a mudança para o sistema multipartidário e a economia de mercado.
Os autores do estudo também registraram números igualmente altos na região da antiga Alemanha Oriental. Um pouco menor é a aprovação da ordem política e econômica na República Tcheca (cerca de 80%), Eslováquia (pouco mais de 70%) e Lituânia (70%).
Por outro lado, é significativamente mais fraca na Ucrânia, onde apenas metade dos entrevistados exalta a nova ordem política e econômica. A satisfação é mais baixa na Rússia, onde apenas 43% dos entrevistados estão felizes com o sistema multipartidário, e 38% com a economia de mercado.
De acordo com o estudo, a adesão à UE parece desempenhar um papel significativo nos resultados. "A UE ainda tem um efeito magnético", diz Müller. "A perspectiva de ingressar na UE ainda gera um certo ímpeto para se realizarem reformas. E os resultados também mostram que a felicidade da população aumenta quando ela fica numa situação econômica melhor após a adesão ao bloco."
Por outro lado, os entrevistados se mostram mais contidos no tocante a outros setores da vida: Estado de Direito, sistema de saúde e "valores familiares" teriam se desenvolvido menos positivamente nesse período, segundo 40% dos entrevistados.
O lamento por uma perda dos chamados valores familiares é acompanhado em alguns países por uma rejeição de estilos de vida alternativos. Ainda existem grandes diferenças entre a Europa Oriental e Ocidental na aceitação da homossexualidade. "Isso não significa que não haja forças progressistas nos Estados da Europa Oriental", ressalva Müller. "Pelo contrário, lá também há muita gente engajada pelos direitos dos homossexuais, por exemplo".
Para além das particularidades geográficas, alguns princípios democráticos desfrutam de mais aprovação do que outros. "Grandes maiorias geralmente consideram muito importantes um sistema de Justiça justo e igualdade de gênero", informam os autores. "Já o apoio às liberdades religiosa e de ação de grupos da sociedade civil é, em alguns casos, menor." Segundo a pesquisa, os pontos de maior estima dos entrevistados são um Estado de Direito funcional, a liberdade de expressão e eleições livres.
No geral, os autores traçam uma imagem positiva da Europa, 30 anos após a queda da Cortina de Ferro, onde os cidadãos podem não olhar para o futuro com entusiasmo, mas pelo menos com otimismo cauteloso. "Na Europa Central e Oriental, muitos têm expectativas particularmente positivas sobre o futuro das relações de seus países com outros europeus", diz Müller, havendo o otimismo de que no futuro não haverá grandes revoltas nem conflitos.
Três décadas depois da queda do comunismo, maioria dos habitantes da Europa Oriental vê positivamente a democracia e a economia de mercado. Satisfação é maior em antigos países comunistas que aderiram à União Europeia.
Operários retiram uma gigantesca estátua do revolucionário Vladimir Lênin do setor oriental de Berlim logo após a queda do muro
A cena é emblemática: os trabalhadores portam capacetes e botinas - equipamentos de proteção individual - que os capitalistas não teriam oferecido gratuitamente, não fossem as ferozes lutas sindicais travadas pelos comunistas, que lideranças como Lenin encabeçaram. Gente que estigmatiza os comunistas e tece loas ao capitalismo, é ignorante da história das conquistas sociais dos hipossuficientes, obtidas graças ao empenho - em muitos casos com perda das próprias vidas - dos denodados comunistas.
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Em 1989, a Europa estava de cabeça para baixo, o comunismo entrava em colapso, de Berlim a Moscou. Os países da Europa Central e Oriental não estavam mais sob o domínio da União Soviética. As fronteiras para o oeste caíram; nos anos seguintes os Estados se abriram social e economicamente. Uma onda de otimismo atravessava o continente.
Trinta anos depois, a maioria dos cidadãos dos países do antigo bloco comunista ainda exalta as mudanças políticas e sociais daquele ano, embora o quadro tenha variações dependendo do país e da sua situação econômica. É o que revela o estudo Opinião pública europeia, três décadas após a queda do comunismo, apresentado pelo instituto americano de pesquisas Pew Research Center, com o apoio da fundação alemã Körber.
"O grau de satisfação está relacionado à prosperidade econômica", diz Nora Müller, chefe do departamento de política internacional e diretora da sucursal da Fundação Körber em Berlim. "Isso não é uma grande surpresa", e por isso o sistema multipartidário democrático – e também a economia de mercado – são particularmente populares em países como Polônia e Lituânia, que conseguiram aumentar consideravelmente o poder aquisitivo de seus cidadãos desde 1989.
Multidão em frente ao antigo Muro de Berlim, em novembro de 1989. Era o fim do símbolo máximo da Cortina de Ferro que dividiu a Europa
Sobretudo nos países que se beneficiaram economicamente de filiar-se à UE, a população se diz satisfeita com as mudanças. Os cidadãos também acreditam que a adesão à UE é boa, de acordo com o levantamento, que entrevistou quase 19 mil indivíduos.
No entanto, o comprometimento com os princípios democráticos não é consistentemente forte em todos esses Estados. "A satisfação é proporcionalmente menor nos países da UE que não estão tão bem economicamente – a Bulgária, por exemplo, se destaca aí", explica Nora Müller.
Ceticismo na Ucrânia
Existem algumas diferenças regionais significativas em termos de desenvolvimento político e econômico, nos países da Europa Central e Oriental. Particularmente alta é a aprovação na Polônia, onde 85% saúdam a mudança para o sistema multipartidário e a economia de mercado.
Os autores do estudo também registraram números igualmente altos na região da antiga Alemanha Oriental. Um pouco menor é a aprovação da ordem política e econômica na República Tcheca (cerca de 80%), Eslováquia (pouco mais de 70%) e Lituânia (70%).
Por outro lado, é significativamente mais fraca na Ucrânia, onde apenas metade dos entrevistados exalta a nova ordem política e econômica. A satisfação é mais baixa na Rússia, onde apenas 43% dos entrevistados estão felizes com o sistema multipartidário, e 38% com a economia de mercado.
De acordo com o estudo, a adesão à UE parece desempenhar um papel significativo nos resultados. "A UE ainda tem um efeito magnético", diz Müller. "A perspectiva de ingressar na UE ainda gera um certo ímpeto para se realizarem reformas. E os resultados também mostram que a felicidade da população aumenta quando ela fica numa situação econômica melhor após a adesão ao bloco."
Por outro lado, os entrevistados se mostram mais contidos no tocante a outros setores da vida: Estado de Direito, sistema de saúde e "valores familiares" teriam se desenvolvido menos positivamente nesse período, segundo 40% dos entrevistados.
O lamento por uma perda dos chamados valores familiares é acompanhado em alguns países por uma rejeição de estilos de vida alternativos. Ainda existem grandes diferenças entre a Europa Oriental e Ocidental na aceitação da homossexualidade. "Isso não significa que não haja forças progressistas nos Estados da Europa Oriental", ressalva Müller. "Pelo contrário, lá também há muita gente engajada pelos direitos dos homossexuais, por exemplo".
Para além das particularidades geográficas, alguns princípios democráticos desfrutam de mais aprovação do que outros. "Grandes maiorias geralmente consideram muito importantes um sistema de Justiça justo e igualdade de gênero", informam os autores. "Já o apoio às liberdades religiosa e de ação de grupos da sociedade civil é, em alguns casos, menor." Segundo a pesquisa, os pontos de maior estima dos entrevistados são um Estado de Direito funcional, a liberdade de expressão e eleições livres.
No geral, os autores traçam uma imagem positiva da Europa, 30 anos após a queda da Cortina de Ferro, onde os cidadãos podem não olhar para o futuro com entusiasmo, mas pelo menos com otimismo cauteloso. "Na Europa Central e Oriental, muitos têm expectativas particularmente positivas sobre o futuro das relações de seus países com outros europeus", diz Müller, havendo o otimismo de que no futuro não haverá grandes revoltas nem conflitos.
Fonte: https://www.dw.com/pt-br/europeus-do-leste-ainda-exaltam-onda-de-mudan%C3%A7as-de-1989/a-50847772
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