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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Renda de bilro na Ilha de Santa Catarina/BR (Republicação)


Tradição açoriana (ou "açorita", como preferiu JOÃO FELIX PEREIRA - Chorographia do Brazil - Imprensa de Lucas Evangelista/Lisboa/1854-p. 95), cultivada nas comunidades do Estado de SC/BR que receberam afluxo de colonos daqueles arquipélagos portugueses.
Para que tal artesanato seja possível, valem-se as rendeiras de instrumentos e materiais a saber: um cavalete para servir de apoio à almofada; uma almofada; bilros, papelões furados que servem de modelo (chamados de "pic", na região de Canasvieiras), alfinetes e linha, além de muita destreza e paciência, é claro.
Os bilros (que são chamados de "birros" - foto de um deles a seguir)


Um bilro que me foi gentilmente doado pela rendeira da Ilha de SC, pessoa que aparece em primeiro plano, no primeiro vídeo acima.
são feitos, aqui na Ilha de SC e adjacências, de madeira dura e que não rache.
Tive conhecimento da utilização das espécies vegetais conhecidas como "catingueiro", "rabo-de-macaco" e canela preta, para a confecção dos bilros.
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A raíz do catingueiro, que contém substância tóxica, era utilizada, segundo antigos moradores de Ratones, também para, macerada e arremessada nos rios, tontear peixes e facilitar a captura deles.
O rabo-de-macaco é muito apreciado para confecção de cabos de ferramentas rústicas (enxadas, enxadões, machados, picaretas, marretas, martelos).
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Quem não dispõe de um torno para dar forma a cada bilro, utiliza-se de um simples caco de vidro, raspando a madeira com ele até atingir o perfil desejado.

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Quando alguém, por estar desocupado, resolvia infernizar a vida de outrem, o azucrinado costumava mandá-lo "encher o cu de birro", isto é, caçar macho, situação em que birro era eufemismo para indicar pênis e encher o cu de birro expressão sinônima de virar passivo em relação sexual pelo "vaso traseiro".
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O bilro, simbolizando a renda e as rendeiras, foi homenageado na Praça da Alfândega, no centro de nossa cidade:



A almofada, a seu turno é peça estofada com "barba-de-velho" ou com "capim-colchão", duas espécies vegetais que também ocorrem em abundância na nossa região.

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A barba-de-velho é uma espécie vegetal composta por fios finos, que se desenvolve nas árvores, mas também sobrevive em ambientes fechados, bastando borrifá-las com água cera de duas vezes por semana. Vem sendo utilizada para decoração de interiores, ultimamente. Os cavalos a comem com prazer. Os americanos do norte a exportavam, conforme CRISPIM MIRA -Terra Catarinense -, para enchimento de colchões e travesseiros. O escritor conterrâneo a considerava uma planta têxtil.








Em Ratones, a exemplo de outros distritos da Ilha, também produzia-se larga variedade de renda de bilros. Cita dona Edite, entre outros modelos, os que eram conhecidos como "trilho", "bandeja", "sino", "abacaxi" e "peixe". Minha mãe, que também aprendeu a fazer renda, referiu os modelos "perna cheia" (para formar a pétala da "flor"), "torcidinho" (era usado para fazer o caule da flor), "ponto inteiro", "meio-ponto' e "trança" (trançado à feição de peneira).

Em nosso distrito, eram famosos pela produção de bilros os nativos conhecidos como 'Mingotinho" e "Paulo do Ludo".

Para a confecção de rendas eram utilizadas as linhas da marca Corrente (nº 24) e Círculo. A arte de fazer renda era ensinada precocemente às meninas, que se iniciavam nos mistérios já desde os 5 anos, estimuladas por suas mães, outras parentes e conhecidas. Com o fruto do seu labor de rendeiras, muitas moças adquiriam seus enxovais de casamento.

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Cliping

- A NOTÍCIA – 30/12/1999 - A pura manifestação da arte dos Açores
Norberto Silva
Fazer renda de bilro ela aprendeu quando criança, pois em Ratones, zona rural do Norte da Ilha, onde nasceu, todas as mulheres precisavam aprender, até como meio de vida. Mas Mariza do Amaral, aos 22 anos, talvez seja uma das últimas jovens que saibam trabalhar tão bem as artes que seus antepassados trouxeram dos Açores. Além das rendas, ela faz tecelagem, velas artesanais e conhece a fundo o artesanato ilhéu. Tem orgulho em se dizer "manezinha da Ilha".
Passou a estudar por incentivo do artista plástico Janga e "hoje se tornou uma pessoa imprescindível para o funcionamento da Casa Açoriana", diz o artista.

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Sugestão de consulta:

rendadebilro.blogspot.com/2007_12_01_archive.html

Um belíssimo trabalho.

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Música (notar que a canção brasileira "Mulher rendeira", de C. A. PINTO FONSECA, foi gravada em vários idiomas, com os mais diversos sotaques)

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Minha mãe referiu que não só as mulheres faziam rendas. Alguns outros indivíduos (tidos como "maricas", porque assim eram rotulados também os que cozinhavam ou gostavam de flores) também conheciam e praticavam a arte de tecer as rendas. Citou, inclusive nomes conhecidos de Canasvieiras ("André da Barba" e "Zizinho").

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Homenagem (2009)

Sancionada lei que institui o Dia Municipal da Rendeira
O prefeito em exercício de Florianópolis, João Batista Nunes, sancionou às 19 horas de hoje (20/10) lei originária de projeto do vereador Edinon Manoel da Rosa (PSB) que institui a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira. A lei foi sancionada na presença de 20 rendeiras de diferentes localidades da Ilha de Santa Catarina, no Espaço Cultural Martinho de Haro, da Câmara de Vereadores, onde elas integram uma exposição que fica aberta ao público até o próximo dia 31.

O advento da lei coincide com a aprovação, pelo Ministério da Cultura, há poucos dias, de projeto que cria a Casa da Rendeira, que ficará no Casarão da Lagoa, na Lagoa da Conceição. A ser viabilizada no próximo ano, através dela será possível a constituição de uma cooperativa de rendeiras, a contratação de um censo das rendeiras de Florianópolis (não se tem nem idéia mínima de quantas continuam em atividade), fazer exposições e oferecer cursos e oficinas, dentre outras atividades. Outro objetivo é fazer com que rendeiras façam oficinas de arte-educação nas escolas e associações, ensinando sua arte às novas gerações, garantindo sua continuidade.

A Câmara aprovou o projeto do vereador Edinon Manoel da Rosa por unanimidade, sob a justificativa de que a rendeira é a típica moradora de Florianópolis, descendente de açorianos, que também exerce a profissão feminina mais típica do litoral catarinense. Com a oficialização da data, Edinon espera motivar ainda mais o poder público a promover ações de valorização e promoção do artesanato da renda de bilros e da mulher rendeira. A data também recorda 21 de outubro de 1747, quando os primeiros açorianos (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira rumo a Santa Catarina. Vieram nas galeras "Jesus, Maria e José" e “Sant' Ana e Senhor do Bonfim". Doze pessoas morreram durante a viagem que terminou em 6 de janeiro de 1748, quando aportaram na Baía Norte da Ilha de Santa Catarina.

Foto: Rosa Constância da Conceição, 97 anos, nascida na Barra da Lagoa e agora residente na Lagoa da Conceição, com a filha, também rendeira, ganhou uma placa do autor da lei, vereador Edison Manoel da Rosa. Foto de Édio Hélio Melo.

Câmara de Vereadores de Florianópolis
Diretoria de Comunicação Social

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