Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



quinta-feira, 24 de outubro de 2019

PMs combatem inimigo com inscrição ‘favela’ durante treino em SP

O pior pobre é aquele que enxerga no outro pobre um inimigo. Filho de rico nunca optará pelo ingresso nas Polícias Militares. Portanto, os que combatem os pobres das favelas são oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade. 
Fica assim provado que "negro não gosta de negro, pobre não gosta de pobre ..."? 
Este quadro me faz lembrar a época em que os brancos dizimavam as tribos indígenas, com apoio de outros silvícolas, inimigos. Os "bugres" eram combatidos por forças compostas por europeus e, sobretudo paulistas,  com a indispensável colaboração de outros íncolas. 
Ou seja: "índio não gosta de índio", também?
Ninguém quer ser igual. Todos almejam superioridade e de tal utopia valem-se os que já estão no topo da pirâmide social para insuflar conflitos, dividir forças opositoras, mantendo-se as "elites" no tergo, enquanto a massa é recalcada na base do morro. 
Por isso, pobre só tem vez no topo do morro (leia-se pirâmide social) quando querem vê-lo desabar junto com seu barraco. 

-=-=-=-

Imagens estão na página do Facebook do Batalhão de Ações Especiais da PM; para fundadora das Mães de Maio, foto expõe o que acontece na prática


Arthur Stabile e Maria Teresa Cruz (Ponte Jornalismo)
20 Oct 2019 - 14:00 BRTÁrea de treinamento do Baep com a inscrição “Favela” em imagem feita em agosto deste ano Reprodução Facebook

Policiais militares de São Paulo ouvem instruções de treinamento enquanto submetralhadoras estão postas em uma bancada logo atrás. O alvo está a cerca de 50 metros, com muros formados por tapumes e a palavra favela escrita em um deles. Esse espaço em treinamento da polícia é chamado de “pista”, o que é, basicamente, um cenário artificialmente criado para simular uma situação.

Depois, um PM porta a arma em frente ao muro com a inscrição e vestindo camisa com a sigla Baep (Batalhão de Operações Especiais), um grupamento policial que funciona como uma versão para o interior de São Paulo da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais letal da PM paulista.


As imagens foram postadas na página Batalhão de Ações Especiais de Polícia – BAEP S.J. do Rio Preto do Facebook, e retratam um treinamento do 9º Baep, localizado em São José do Rio Preto, no oeste paulista.

Mostramos as imagens para Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio e que luta contra a violência de Estado, e ela afirmou que, embora considere absurdo, não surpreende. “A gente já sabe que na prática é isso aí que acontece. Por isso que temos que lutar para um outro modelo de segurança pública, não essa excludente. Porque eles são treinados para fazer todas as violações de direitos humanos. Essa é a aula de direitos humanos que eles têm”, afirmou à Ponte.

“Eles entram dentro da favela assim mesmo, como se fosse um inimigo. É assim que tratam as periferias. Não é o mesmo tratamento dado aos bairros ricos. Eu já escutei da boca de um comandante de Santos [litoral sul de São Paulo] que quando eles abordam filho de playboy, o filho chega em casa e reclama para o pai, que vai lá cobrar do comando da polícia”, relata Débora.

Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), faz análise na mesma direção de Débora: a imagem evidencia uma visão preconceituosa por parte da PM. “Primeiro você criminaliza a pobreza, como se o crime só estivesse em áreas periféricas, o que definitivamente não é verdade. E se começa a institucionalizar uma polícia que se entende vocacionada pra matar, o que é muito diferente de ter o resultado letal como uma possibilidade do trabalho”, explica.

Segundo ela, a foto demonstra uma similaridade de pensamento entre a PM paulista e a do Rio de Janeiro. “Reforça a estética que vem sendo muito empregada no Rio, de a polícia chegar atirando nessas comunidades pobres. A PM de SP está se perdendo e começou a mimetizar a PMERJ no que ela tem de pior”, pontua.

Tanto a PM paulista como a fluminense têm aumentado a letalidade desde que João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC) assumiram o comando dos estados e suas respectivas forças repressivas, nesta ordem. As duas polícias são responsáveis por um a cada 3 homicídios registrados em São Paulo e Rio em 2019.

Para o coronel aposentado da PM paulista Adilson Paes de Souza, o local do treinamento feito pelo Baep deveria ter mais exemplos de áreas reais de ação policial. “Quando se põe a palavra favela, se entende que é uma ação contra uma classe social específica. Deveria haver no campo de treinamento estruturas que representassem prédios em outras áreas sociais da cidade”, avalia o coronel aposentado da PM paulista.

No entanto, nem todos especialistas consideram a foto com a palavra favela ao fundo suficiente para criticar os policiais do 9 Baep. Segundo o tenente-coronel Diógenes Lucca, é preciso ver a situação com calma. “É uma foto, não há vídeo sobre a cena, o que torna difícil analisar. É uma foto de mau gosto, não acho que retrata uma posição daqueles policiais. Pode ter sido feito por um desavisado. Vejo mais como uma preocupação deles se prepararem, de treinarem”, explica Lucca.

A expansão dos Baeps, criados por Geraldo Alckmin em 2014, são promessa de campanha de Doria, que lançou seis unidades apenas neste ano. A intenção é aumentar para 22 unidades em todo o Estado. “As unidades especializadas foram criadas para combater o crime de maneira mais ostensiva em todo o Estado, já que as equipes atuam de forma semelhante aos padrões do policiamento de Choque”, diz texto no site do Governo paulista.

Entre os seis batalhões inaugurados na atual gestão até o momento está o de número 9, localizado em São José do Rio Preto. Em um intervalo de cinco dias, o 9º Baep matou dez pessoas: em 7 de outubro, quatro suspeitos de assaltar uma chácara no bairro Jardim Veneza foram mortos após suposto confronto; e em 12 de outubro, após denúncia anônima, PMs surpreenderam seis homens fortemente armados em uma casa que, também com a mesma versão de confronto, acabaram mortos. O Baep usou 11 integrantes na invasão ao local e um PM se feriu levemente com um disparo que parou em seu colete à prova de balas.

Para Débora Maria da Silva, das Mães de Maio, uma polícia violenta gera uma sociedade violenta. “É a política do ódio, de ter ódio do outro, da pobreza. Está faltando humanidade. E a dita sociedade do bem aplaude isso. Se eles ouvissem e dessem oportunidade para a periferia, saberiam que a solução para isso tá na periferia. Na quebrada não tem só quem pratica ato ilícito, muito pelo contrário. Eles acham que o inimigo está ali, mas não está. O inimigo está na falta de acesso, que deixa a juventude sem sonho. A gente tem visto o futuro do Brasil dentro do cemitério e dos presídios”, pontua.

A solução, na visão dela, passa pelo debate sério sobre a desmilitarização da polícia. “O remédio para humanizar esses homens é a desmilitarização e formação em direitos humanos. Desse jeito que está é uma fábrica de moer pessoa pobre. É matar a pobreza”, conclui.

Questionada sobre a foto em que PMs treinam com a inscrição favela na parede, a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles nesta gestão de João Doria (PSDB), explicou como funciona a prática do método Giraldi, que norteia a atuação policial baseada na preservação à vida. Não houve posicionamento oficial sobre a palavra favela no local.

“A Polícia Militar esclarece que o treinamento de Tiro Defensivo na Preservação da Vida – ‘Método Giraldi’, aplicado pela Polícia Militar, ensina ao policial militar quando se deve atirar e quando não. A simulação objetiva justamente mostrar ao aluno que não se atira em quaisquer circunstâncias, mas somente quando há injusta agressão”, diz a corporação.

Esta matéria foi originalmente publicada no site da Ponte Jornalismo.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/20/politica/1571587849_970940.html

Nenhum comentário: