Esquecemos a originalidade que nos era própria pela cópia servil que nos mostra contrafeitos. Devíamos ser para imitar e não imitadores, apregoou o competente Apolinário Porto-Alegre (em O Vaqueano). Grande verdade, no tempo daquele escritor, como agora.
Mas os tempos são outros, desde que grandes navios e poderosos aviões foram inventados, seguidos da milagrosa comunicação pela net, restaram inevitáveis intensa convivência, cosmopolitismo e assimilação.
As fronteiras foram rompidas, inexoravelmente. As alfândegas perderam sua influência separadora e nefasta. O intercâmbio de ideias, assim como o comercial (a famosa "globalização") está cada vez mais arraigado.
Se, de um lado, como consequência disso, ocorre a sufocação da cultura, aqui e alhures, de outro lado, acontece o aporte de conhecimentos valiosíssimos, uma troca proveitosa de ideias e experiências que congregam a humanidade em torno de propósitos, muitos deles mesquinhos, mas outros tantos de grande valia para toda a raça humana.
Ficou mais difícil oprimir, porque os gritos dos perseguidos ecoam com uma irresistível facilidade e a reação à tirania desborda dos cantos mais remotos da terra, mesmo de onde as pessoas não tenham, aparentemente, a menor afinidade com as vítimas, mesmo que, muitas vezes, as manifestações sejam fruto de estímulos de interesseiros, cujo escopo seja dominar "mercados".
Numa era de individualismo exacerbado, em contraposição, a solidariedade ganha corpo, avulta e se afirma, não permitindo que os mais gananciosos atuem sem qualquer peia. Tal constatação inculca ânimo, infunde esperanças.
Estão na "ordem do dia" as majestosas manifestações em defesa do meio ambiente, onde se envolvem jovens e velhos, gentes de todas as cores e culturas, pensando em si próprias e nas futuras gerações.
Resta espaço ínfimo para egoísmos extremos, para desprezo da sorte do outro, embora ainda haja muito que fazer para suprimir as desigualdades gritantes.
A busca de um quase nivelamento - constitui utopia filosófica e jurídica cogitar de igualdade - é lento, gradual e implica muito sofrimento. Mas é preciso perseguir a aproximação dos extremos, incansavelmente, de sorte a eliminar situações de penúria que ainda vitimam tantos indivíduos mundo afora, sem que isto implique desconhecer e valorizar méritos dos que alcançam, de forma decente, o topo da pirâmide social.
Ninguém imagine que se prega o nivelamento por baixo, o que constituiria rematada sandice. O que se almeja é a diminuição da distância entre a base e o vértice da pirâmide, ou seja, a distribuição mais equitativa de oportunidades e rendas.
Não é "cristã" qualquer ideologia que valorize a exacerbação da distância entre os pobres e os ricos. Muitos filósofos de escol já reconheceram e apregoaram: "a virtude está no meio termo".
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