"Enquanto o povo sai às ruas no Chile, no Equador, em Londres, Hong Kong, Barcelona, em monumentais manifestações de protesto pelo mundo afora, aqui na terra abençoada por Deus e bonita por natureza não acontece nada", aponta o jornalista Ricardo Kotscho
22 de outubro de 2019, 13:49 h Atualizado em 22 de outubro de 2019, 16:08
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia - Na semana em que o STF julga o destino do ex-presidente Lula, o Senado vai aprovar a reforma que acaba com a previdência pública e o presidente(?) Bolsonaro passeia pela Ásia, ouve-se no Brasil o retumbante silêncio de um povo deitado em berço esplêndido, de boca aberta, esperando a morte chegar.
Enquanto o povo sai às ruas no Chile, no Equador, em Londres, Hong Kong, Barcelona, em monumentais manifestações de protesto pelo mundo afora, aqui na terra abençoada por Deus e bonita por natureza não acontece nada.
Não há na agenda nenhum evento programado pela sociedade civil em defesa da democracia, da desigualdade social e dos direitos dos trabalhadores, ameaçados por decisões que serão tomadas estes dias em Brasília.
O que aconteceu com o povo brasileiro, que assiste inerte à destruição do país na marcha acelerada do bolsonarismo para quebrar e vender tudo?
O único sinal de vida, ou melhor de morte, dado até agora pela cidadania vem do lado das trevas, com líderes de caminhoneiros bolsonaristas ameaçando parar o país se o STF respeitar a Constituição e decidir pela imediata libertação de Lula.
Acuadas, as instituições reagem burocraticamente apenas para informar que as ameaças “que se mostrarem violentas serão enviadas para o âmbito do inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes”, que cuida da investigação sobre ofensas e fake news contra integrantes da Côrte, informa o Estadão desta terça-feira.
Além dos caminheiros, os únicos que se manifestaram até agora são os integrantes do grupo golpista Vem Pra Rua, que estão pedindo para os ministros Barroso, Fux, Fachin e Carmen Lúcia - a bancada da Lava jato/Globo no STF - para que um deles peça vistas durante o julgamento da segunda instância para interromper o julgamento.
Cadê o povo que não se intimidou na longa noite da ditadura militar, que lutou pela Constituinte e pela Anista, e tomou as ruas do país para pedir Diretas Já, em 1984?
Em Tóquio, hoje de manhã, o ex-capitão presidente teve a desfaçatez de atribuir a rebelião popular no Chile, onde 15 pessoas já foram mortas pela repressão, ao fim da ditadura do general Augusto Pinochet, a mais sanguinária do continente, em 1990.
“O problema do Chile nasceu em 1990, que ninguém dá valor para isso. Naquela época, as Farc fizeram parte, Fidel Castro, isso tudo. E qual o espírito desta questão? Primeiro é bater contrário às políticas americanas, imperialistas, segundo eles. E depois são os países que se auto ajudam para chegar ao poder”.
Como é difícil entender a lógica do seu pensamento, no fundo Bolsonaro quer dizer que tem saudade das ditaduras de lá e daqui, e defende a completa submissão aos Estados Unidos.
Nos seus delírios, o ex-deputado do baixo clero ainda vive nos tempos da Guerra Fria e vê conspirações de comunistas por toda parte.
Fidel morreu, as Farc acabaram, a União Soviética ruiu, mas o inominável continua em guerra contra o perigo vermelho em vez de começar a governar, dez meses após a posse.
Desse jeito, vai se isolando cada vez mais, aqui dentro e lá fora, no momento em que o Brasil bate recordes de desigualdade, sem se dar conta que uma hora o povo brasileiro também vai acordar desse pesadelo, nem que seja por puro desespero, como já aconteceu no Equador, no Chile, no Peru e em outros países do continente.
Só não sabemos quando… Vida que segue.
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/povo-sai-as-ruas-pelo-mundo-todo-e-aqui-aonde-esta-o-povo
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