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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Chorando pitangas, araçás e camarinhas

Os pescadores da Ilha e seus filhos, atraídos pelo dinheiro dos adventícios, venderam tudo, até a própria dignidade. Receberam tão bem a cultura de outros rincões, que até Centros de Tradição Gaúcha espalharam na região. Os compradores suprimiram rios e não reagimos, invadiram restingas e concordamos, compraram ranchos de pesca e os demoliram, sem que o Poder Público fizesse qualquer questionamento. O turismo triunfou, dominou, tornou-se o interesse público prevalente. Como diria o vulgo, "cagaram na nossa cabeça", digo, nas nossas águas, sem a menor reclamação. É lamentável que o último rancho do Caldeirão (como antes se chamava o Jurerê) esteja a ser demolido e, com a destruição, o desaparecimento da pesca artesanal no Norte da Ilha. Foram-se os batelões, as canoas bordadas e chegaram, atropelando tudo, as "voadeiras", as motos aquáticas, as pranchas de surf e equipamentos assemelhados, que cortam redes e espinhéis. Além disto, o governo, faminto por arrecadação, entrou taxando tudo. Tarrafeadores são vigiados, "pescadores" de siri, de camarão instados a registrar-se, portar carteira, dentre outras exigências; pescadores com caniços são olhados de soslaio e considerados repugnantes. Marisco sumiu das pedras. Berbigão da mesma forma. Só as tatuíras ainda resistem. Agora é tarde, amigos "amarelos". Deixamo-nos encantar pelo "canto da sereia" (dinheiro do turismo) e nos ferramos, em termos culturais. A Ilha de Santa Catarina, de costumes açorianos, já era. Isto aqui, agora, voltou a ser território paulista (já o foi no passado), dividido com gaúchos e argentinos. Paciência. Resta relaxar e gozar, ou dar no pé, que o valor do IPTU ficará insuportável, o trânsito caótico, as águas do mar uma cloaca, o ar poluído, o meio-ambiente infestado de "sonzeira" insuportável (música eletrônica), a noite tomada por festas "raves", a mendicância e a roubalheira (falo dos grandes, não dos mendigos) um descaramento só. O "amarelo", presentemente, já está cheio de "marra", procurando parecer moderno, na ânsia de equiparar-se aos cariocas, paulistas e gaúchos, arriscando até um portunhol, no afã de servir e explorar os "gringos". Perdemos nossos elos, nossa identidade está para lá de afetada. Nossos referenciais foram completamente anulados. Vivemos numa profusão de cuias de chimarrão, que até nas praias proliferam. No falar, muitos "então", começando as frases. Lá se foi o nosso "'oi, ói, ó" e o falar cantado, agalegado, que nos caracterizava. É o fim, melancólico, mas previsível. 
Quanto aos adventícios, já estão brigando entre si (as Justiças federal e estadual estão cheias de litígios, nos quais eles são partes) e, num futuro não muito distante, a Ilha será dos estrangeiros, só deles. Os brasileiros, daqui e de fora, que para cá migraram - assediados pela força do capital e pelas pressões governamentais - estarão morando nas adjacências e só visitarão a Ilha para servir como mão de obra menos qualificada (policiais, marinheiros, jardineiros, pintores, carpinteiros, pedreiros, lixeiros, taxistas, carregadores de malas, recepcionistas e camareiras de hotel e profissões afins).
E quando isto acontecer, então, os poderes públicos acharão solução para os problemas estruturais da região, porque os abastados saberão exigi-lo, mas não para o desaparecimento da cultura, que estará sepultada, sem ter como ressurgir, diante dos incontáveis elementos "alienígenas" que a sufocarão, cada vez mais.

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