Expulsão violenta de um grupo de defensores dos animais da maior feira rural da Argentina divide o país sul-americano
Protesto vegano na Sociedade Rural Argentina, no domingo.Captura de vídeo
Buenos Aires - 31 jul 2019 - 10:10 BRT
Nos terraços, varandas e pátios de Buenos Aires, quando não nas calçadas, quase nunca falta uma churrasqueira para fazer churrascos com a família e os amigos. A Argentina é um dos países mais carnívoros do mundo. No ano passado, o consumo per capita foi de 115,8 quilos de carne –entre bovina, suína e de frango– diante dos 46,1 quilos que cada espanhol comeu em média. No entanto, a dieta vegetariana e vegana também está crescendo no país sul-americano, assim como os movimentos em favor dos direitos dos animais. Estes últimos irromperam no domingo em um concurso de adestramento na Sociedade Rural Argentina (SRA), em Buenos Aires, para protestar contra a morte e a exploração dos animais, mas foram expulsos com cavalos e golpes pelos gaúchos. A ação viralizou nas redes sociais, a briga se estendeu aos meios de comunicação e causou uma nova divisão entre partidários dos gaúchos e dos veganos.
“A ideia era fazer barulho e colocar isso em debate”, disse na noite de segunda-feira, no programa de televisão Intratatables, Magdalena Ascon, uma das 40 ativistas da ONG Voicot que estiveram no evento da SRA. Entre os argumentos defendidos pelos veganos está o sofrimento dos animais, mas também os problemas ambientais derivados do consumo de carne, como as emissões [de gases de efeito estufa] da pecuária e o desmatamento das florestas para que possam pastar. “As pessoas gritavam de tudo contra nós, coisas que não me interessa repetir. Embora houvesse pessoas que ao ver a violência, quando entraram com os cavalos e viram que estavam nos machucando, começaram a pedir que parassem”, continuou Ascon.
“O que vocês esperavam, que fossem parabenizadas pelo que estavam fazendo?”, respondeu no estúdio de televisão Emiliano Caruso, membro do Centro Tradicionalista La Manea. “É como entrar no campo do Boca com um cartaz dizendo ‘Aguente, River’, ou que vocês façam uma mobilização com sua ideologia e eu vou e mato um porco na frente de vocês. Parece-me que vocês estavam completamente fora de lugar. Foram criar confusão. Quiseram ser protagonistas, ter fama. Não querem comer carne? Não comam carne, eu adoro isso. Vocês não podem me proibir de comer carne”, acrescentou Caruso.
O cenário do protesto foi a maior feira rural da Argentina, realizada no bairro de Palermo, em Buenos Aires. Em uma tradição que remonta à segunda metade do século XIX, todos os anos pecuaristas, agricultores, empreiteiros, especialistas em genética animal e empresas de máquinas agrícolas fecham negócios e mostram os últimos avanços do setor na sede da SRA, enquanto centenas de famílias passeiam entre as diferentes raças de vacas e cavalos exibidas e aproveitam os espetáculos programados.
Os ativistas tinham anunciado a ação nas redes sociais ao colocar a Expo Rural como um símbolo da “cultura da exploração animal na Argentina” devido à exposição e ao leilão de milhares de animais. “Estaremos lá repudiando, protestando, fazendo ações conjuntas com outras organizações, promovendo os direitos dos animais não humanos”, previram.
No entanto, o protesto surpreendeu os presentes na SRA. Quando o grupo de jovens invadiu o concurso de adestramento com fotografias de animais e cartazes como "Quero viver”, “Chega de matar animais”, foi recebido pelas arquibancadas com assobios de desaprovação. Ficaram menos de cinco minutos na pista: os gaúchos os empurraram para fora com cavalos e chutes, aplaudidos por grande parte do público.
A SRA se distanciou da resposta violenta de alguns dos participantes do concurso. “Um grupo de ativistas invadiu a pista alterando o desenvolvimento do concurso que estava acontecendo. Alguns participantes, que se prepararam durante um ano para competir, reagiram para expulsá-los. A Sociedade Rural Argentina repudia qualquer ação violenta”, tuitou a entidade. Através de redes sociais, ativistas veganos informaram que fizeram uma queixa criminal pelos ferimentos causados a um dos manifestantes e agradeceram a ação da polícia federal para protegê-los.
Entre as numerosas reações, os gaúchos contaram nesta terça-feira com um aliado de alto nível, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sergio Bergman. “Ninguém está negando que alguém seja vegano, o problema é que esse movimento tem uma proposta em relação aos sistemas produtivos que não pode ser imposta”, disse Bergman ao jornal La Nación. O setor rural é o grande motor da economia argentina. Os dados oficiais da semana passada mostram que uma vez mais é este setor que está começando a tirar a Argentina de sua última crise.
Protesto vegano na Sociedade Rural Argentina, no domingo.Captura de vídeo
Buenos Aires - 31 jul 2019 - 10:10 BRT
Nos terraços, varandas e pátios de Buenos Aires, quando não nas calçadas, quase nunca falta uma churrasqueira para fazer churrascos com a família e os amigos. A Argentina é um dos países mais carnívoros do mundo. No ano passado, o consumo per capita foi de 115,8 quilos de carne –entre bovina, suína e de frango– diante dos 46,1 quilos que cada espanhol comeu em média. No entanto, a dieta vegetariana e vegana também está crescendo no país sul-americano, assim como os movimentos em favor dos direitos dos animais. Estes últimos irromperam no domingo em um concurso de adestramento na Sociedade Rural Argentina (SRA), em Buenos Aires, para protestar contra a morte e a exploração dos animais, mas foram expulsos com cavalos e golpes pelos gaúchos. A ação viralizou nas redes sociais, a briga se estendeu aos meios de comunicação e causou uma nova divisão entre partidários dos gaúchos e dos veganos.
“A ideia era fazer barulho e colocar isso em debate”, disse na noite de segunda-feira, no programa de televisão Intratatables, Magdalena Ascon, uma das 40 ativistas da ONG Voicot que estiveram no evento da SRA. Entre os argumentos defendidos pelos veganos está o sofrimento dos animais, mas também os problemas ambientais derivados do consumo de carne, como as emissões [de gases de efeito estufa] da pecuária e o desmatamento das florestas para que possam pastar. “As pessoas gritavam de tudo contra nós, coisas que não me interessa repetir. Embora houvesse pessoas que ao ver a violência, quando entraram com os cavalos e viram que estavam nos machucando, começaram a pedir que parassem”, continuou Ascon.
“O que vocês esperavam, que fossem parabenizadas pelo que estavam fazendo?”, respondeu no estúdio de televisão Emiliano Caruso, membro do Centro Tradicionalista La Manea. “É como entrar no campo do Boca com um cartaz dizendo ‘Aguente, River’, ou que vocês façam uma mobilização com sua ideologia e eu vou e mato um porco na frente de vocês. Parece-me que vocês estavam completamente fora de lugar. Foram criar confusão. Quiseram ser protagonistas, ter fama. Não querem comer carne? Não comam carne, eu adoro isso. Vocês não podem me proibir de comer carne”, acrescentou Caruso.
O cenário do protesto foi a maior feira rural da Argentina, realizada no bairro de Palermo, em Buenos Aires. Em uma tradição que remonta à segunda metade do século XIX, todos os anos pecuaristas, agricultores, empreiteiros, especialistas em genética animal e empresas de máquinas agrícolas fecham negócios e mostram os últimos avanços do setor na sede da SRA, enquanto centenas de famílias passeiam entre as diferentes raças de vacas e cavalos exibidas e aproveitam os espetáculos programados.
Os ativistas tinham anunciado a ação nas redes sociais ao colocar a Expo Rural como um símbolo da “cultura da exploração animal na Argentina” devido à exposição e ao leilão de milhares de animais. “Estaremos lá repudiando, protestando, fazendo ações conjuntas com outras organizações, promovendo os direitos dos animais não humanos”, previram.
No entanto, o protesto surpreendeu os presentes na SRA. Quando o grupo de jovens invadiu o concurso de adestramento com fotografias de animais e cartazes como "Quero viver”, “Chega de matar animais”, foi recebido pelas arquibancadas com assobios de desaprovação. Ficaram menos de cinco minutos na pista: os gaúchos os empurraram para fora com cavalos e chutes, aplaudidos por grande parte do público.
A SRA se distanciou da resposta violenta de alguns dos participantes do concurso. “Um grupo de ativistas invadiu a pista alterando o desenvolvimento do concurso que estava acontecendo. Alguns participantes, que se prepararam durante um ano para competir, reagiram para expulsá-los. A Sociedade Rural Argentina repudia qualquer ação violenta”, tuitou a entidade. Através de redes sociais, ativistas veganos informaram que fizeram uma queixa criminal pelos ferimentos causados a um dos manifestantes e agradeceram a ação da polícia federal para protegê-los.
Entre as numerosas reações, os gaúchos contaram nesta terça-feira com um aliado de alto nível, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sergio Bergman. “Ninguém está negando que alguém seja vegano, o problema é que esse movimento tem uma proposta em relação aos sistemas produtivos que não pode ser imposta”, disse Bergman ao jornal La Nación. O setor rural é o grande motor da economia argentina. Os dados oficiais da semana passada mostram que uma vez mais é este setor que está começando a tirar a Argentina de sua última crise.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/30/internacional/1564511921_721307.html
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