MONTEIRO LOBATO - A onda verde - Editora Brasiliense Ltda/SP/1957, p. 62:
Vossa vida, animais, é perfeita de ritmo e de beleza. Se nela há perturbações; se vos estraçoam as aves a tiros; se vos deixam os ninhos órfãos para que morram de fome os implumes inocentes; se vos pescam nas águas com armadilhas traiçoeiras; se todas as vossas passagens andam tomadas de arapucas, de mundéus, de ratoeiras; se vos roubam os ovos no ninho ou o mel nas colmeias; se vos aprisionam em gaiolas os cantores e nas jaulas os que sabem defender-se; se vos jungem às carroças, a carros pesadíssimos, à canga dos arados; se vos furam o focinho para meter argolas dolorosas; se vos enfreiam a boca com ferros cruéis; se vos caçam no mar a arpão de aço e na terra a balas explosivas; se penduram nos açougues a carne dos vossos cadáveres; se vos invadem todos os domínios, e vos incendeiam os campos, e vos inundam as matas, e vos secam as águas e vos drenam os pântanos - é ele que o faz. Ele, o macaco glabro, o rei por maquiavelice da má inteligência. Ele, o cultor consciente da arte da dor.
Em toda parte está o Homo como o próprio mal encarnado, matando, esfolando, torturando, saqueando, desnaturando, perturbando a harmonia das coisas.
Em toda parte está o Homo como o próprio mal encarnado, matando, esfolando, torturando, saqueando, desnaturando, perturbando a harmonia das coisas.
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