Economia | 03.11.2010
Vírus ameaça a criação de ostras na França
Nos últimos três anos, as huîtres creuses, espécies de
ostras cultivadas por Laurence Maheo, foram atacadas por um tipo
de vírus do herpes que tem matado um grande número de ostras jovens na
França e no resto da Europa.
"É possível que nos próximos três ou quatro anos não haverá mais
fazendas de ostras na França", declarou Maheo na semana passada durante o
Salone Del Gusto, um evento de cinco dias organizado pela Slow Food,
uma organização internacional para a proteção da biodiversidade e da
produção tradicional de alimentos.
Ostras levam três anos para atingir a sua maturidade, mas o vírus tem
matado uma média de 80% desse molusco na França durante seus primeiros
meses de vida e Maheo, dona da fazenda de ostras La Gavrinis, um negócio
que sua família iniciou em 1929 e que ela herdou de seu pai, está
pessimista sobre o futuro.
"Quantas fazendas conseguem sobreviver com apenas 20% da sua
produção?" pergunta Maheo. "Sempre ouve uma pequena porcentagem de
mortalidade, mas 80% é insustentável."
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Laurence Maheo, criadora de ostras
Manipulação
Muitos criadores de ostras despediram funcionários e até fecharam
seus negócios, e a situação agora é crítica. Criadores de ostras
naturais acreditam que a principal causa da epidemia descontrolada do
vírus foi a introdução das ostras triplóides, manipuladas e reproduzidas
em laboratório.
Artificialmente criada para ter três em vez de dois cromossomos,
essas ostras são estéreis e crescem muito mais rápido que as ostras
naturais diplóides, porque elas não passam pela fase de reprodução.
Enquanto ostras diplóides levam três ou quatro anos para atingirem a
maturidade, desovando durante o verão, as triplóides crescem o ano todo e
levam apenas 18 meses para atingir o tamanho adulto.
Maheo disse que lembra quando todas as ostras eram sazonais como as
dela. "Ostras eram artigos de luxo", diz Maheo. "Hoje elas são como
batatas. Elas não eram cultivadas para ser alimento básico, mas as
pessoas queriam fazer dinheiro e encontraram uma maneira de produzir
quantidades muito maiores que podem vender durante todo o ano."
Atração fatal
Ostras triplóides são quase idênticas às ostras comuns, exceto por
uma pequena borda na concha, nem mesmo Maheo consegue sentir a diferença
no sabor. Como elas crescem duas vezes mais rapidamente e são de boa
qualidade, suculentas, seu potencial de mercado tem atraído muitos
fazendeiros de ostras como Patrice Lafont. Embora ele produza a maior
parte de suas ostras de maneira natural, 25% de seu cultivo são de
ostras triplóides.
"Para mim é necessário," diz ele. "Se você começa um negócio como eu
fiz, não herdando a fazenda da família, você tem que comprar seu estoque
e para isso você tem que pegar um empréstimo no banco. Tenho que
produzir ininterruptamente. Não posso parar de trabalhar por alguns
meses durante a desova, sem nenhum produto à venda."
Laurence Maheo acredita, todavia, que a manipulação da natureza para
fins comerciais falhou mais uma vez. "Nós fizemos mais uma vez um gol
contra, porque em um futuro próximo o vírus vai matar todas as ostras,"
diz ela.
Questões científicas sem respostas
Lafont
disse estar preocupado que o vírus, que existe há anos em forma menos
agressiva, tenha passado por mutações nas triplóides. "Perguntamo-nos de
onde vem o vírus," diz ele. "Não sabemos e os cientistas também ainda
não conseguem nos dizer."
Os fazendeiros de ostras estão esperando por respostas do Ifremer, o
instituto de oceanografia francês que fornece a eles as larvas diplóides
e triplóides. Eles também querem que seja aprovada a lei que obrigue os
produtores a rotularem suas ostras.
"Hoje você pode vender ostras sem dizer se elas são ou não
triplóides," diz Lafont. "As pessoas têm o direito de saber se estão
comendo algo natural ou não."
Crise da ostra
Enquanto produtores de ostra franceses esperam por respostas
científicas e por uma solução do problema, os consumidores já sentem o
impacto.
Arnaud e Nathalie Beauvais são donos do restaurante Jardin Gourmand
na Bretanha, que serve a tradicional cozinha regional. Seu produtor de
ostras já avisou que talvez não consiga fornecer o suficiente para o
Natal, "também existe a possibilidade de não termos ostras no nosso
restaurante em janeiro," disse Arnaud.
Sua esposa, Nathalie, disse que sua cozinha não será mais a mesma.
"Eu preparo peixe com ostras e é uma receita muito popular em meu
restaurante," disse ela. "É um desastre para a região, para os clientes e
para os produtores."
Lafont diz que também está preocupado com o futuro devido à taxa tão
baixa de sobrevivência das ostras jovens. Ele afirma que preços
aumentaram drasticamente com a queda do fornecimento.
Em um discurso público sobre o problema no evento internacional da
Slow Food, Maheo disse que os produtores de ostras estão relutantes em
falar abertamente sobre o vírus por medo de prejudicar ainda mais seus
negócios.
O vírus não é perigoso para humanos, afeta apenas as ostras e não está presente nos moluscos que atingiram a maturidade.
Autor: Dany Mitzman (mas)
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: DEUTSCHEWELLE
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