A
ação pastoral da Igreja no Brasil orienta-se pelas exigências do
serviço, diálogo, anúncio e testemunho. A solidariedade concretiza-se na
dimensão do serviço. Amar é servir. A palavra “serviço” é a tradução da
palavra grega diakonia. O serviço supõe o diálogo, faz acontecer o
anúncio e é o testemunho concreto da vida cristã. Serviço é presença de
amor, amizade e solidariedade junto aos pobres, aos que sofrem, aos
doentes, aos famintos, aos encarcerados (cf. Mt 25), aos que não têm
trabalho, aos que não têm teto, aos que são privados do cultivo correto e
manual da terra. Presença por meio de pequenos gestos cotidianos, mas
também através de projetos de promoção
humana, de defesa dos direitos humanos, de promoção da cidadania.
Enfim, trata-se de defender a vida, promover a paz, alicerçar a
sociedade na justiça.
A Igreja fundamenta a
dimensão do serviço na ação de Jesus Cristo, a quem “em todos os lugares
onde entrava nas aldeias, nas cidades ou nos campos, traziam-lhe os
doentes, nas praças, para que os curasse” (cf. Mc 6,56). O serviço se
inspira nas palavras de Jesus: “Quem quiser ser grande, seja o servidor,
e quem quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida
em resgate por muitos” (cf. Mc 10,44-45). E ainda: “Eu estou no meio de
vós como aquele que serve!” (cf. Lc 22,27). É o serviço constante,
eficaz, desinteressado e sacrificado que faz a diferença em nossa
pregação. O Evangelho ensina que a medida, ou o critério do amor humano,
da caridade e da solidariedade é o amor com que Cristo amou a
humanidade: “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros.
Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisso reconhecerão
todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (cf.
Jo 13,34-35).
A Igreja Católica nos dias de hoje,
como desde a sua fundação, sempre pautou a sua ação social e
evangelizadora, deve apostar – redobradamente – na caridade, recorda-nos
o papa João Paulo II: “Há na pessoa dos pobres uma presença especial de
Cristo que impõe à Igreja uma opção preferencial por eles”. Diz ainda:
“Nosso mundo começa o novo milênio carregado com as contradições de um
crescimento econômico, cultural e tecnológico, que oferece a poucos
afortunados grandes possibilidades e deixa milhões e milhões de pessoas
não só à margem do progresso, mas a braços com condições de vida muito
inferiores ao mínimo devido à dignidade humana. Como é possível que
ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao
analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares,
quem não tenha uma casa onde abrigar-se?”. Que postura deve tomar a
Igreja? “Devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade
cristã, como ‘em sua casa’. A caridade das obras garante uma força inequívoca à caridade das palavras”.
Os
documentos do Magistério da Igreja que formam o corpo da doutrina
social inspiram e legitimam a ação solidária da Igreja toda e de cada
cristão em favor dos trabalhadores, dos pobres, dos refugiados, das
vítimas da fome, das guerras, de todo tipo de violência, impelindo a
Igreja a ser instrumento da paz no mundo. A doutrina social da Igreja
procura exprimir concreta e atualizadamente a prática de caridade dos
cristãos. Por isso, ela ajuda a nortear a nós, católicos, em nosso modo
de ser e de atuar na cidade. A Igreja conta com os fiéis leigos, tanto
em seus grupos e comunidades, como também com a ação individual de cada
um, para construir ou reconstruir a cidade à luz dessa caridade.
Presente
na sociedade, a Igreja quer indicar caminhos de solidariedade aos
pobres, construção da cidadania e da justiça, a primazia da ética nas
relações econômicas, sociais e políticas, a defesa da vida desde o
momento da concepção.
“As pastorais sociais na missão
evangelizadora da Igreja representam significativa participação na
construção de uma sociedade justa e solidária. Elas são presença
privilegiada e despertam maior sensibilidade e atenção às contradições e
aos conflitos da sociedade. Pelos seus compromissos concretos em defesa
da vida e da dignidade dos pequenos, denunciam as estruturas sociais
perversas que geram desigualdade e miséria e anunciam a justiça do
Reino” (cf. Doc. CNBB 80, p. 94).
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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