Chefe da Receita em Cumbica é preso em operação contra fraudes de R$ 50 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Polícia Federal prendeu um dos chefes da Receita Federal no principal
aeroporto do país, em Guarulhos, numa operação contra uma suposta
quadrilha acusada de fraudar importações.
O auditor Francisco Plauto Moreira, chefia de trânsito aduaneiro em
Cumbica, foi um dos 23 presos ontem. Outras nove prisões foram feitas
nos últimos meses, mas só divulgadas ontem.
Entre os presos, há cinco auditores da Receita, três auditores do
Tesouro Nacional, dois policiais federais, empresários e funcionários de
companhias aéreas e de empresa de segurança.
Um deles tinha loja na Galeria Pagé, um dos mais conhecidos pontos de venda de produtos contrabandeados de São Paulo.
As prisões aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. A PF apreendeu cerca de US$ 1 milhão com os suspeitos.
O delegado Vladimir Pacini Schinkarew, que chefiou a operação feita em
conjunto com a Receita Federal, estima que as fraudes tenham causado um
prejuízo de R$ 50 milhões à Receita. Em um ano, o grupo desviou 80
toneladas de equipamentos, segundo a PF.
A operação foi batizada de Trem Fantasma, em alusão a um truque que o
suposto grupo usava para desviar produtos importados dos Estados Unidos e
da China, como celulares, lap tops e equipamentos hospitalares. O
truque consistia no uso de dois caminhões para retirar as mercadorias --
um autorizado, e outro, fantasma.
O sistema da Receita Federal controla o volume e o peso das cargas nos
aviões. Os fraudadores, a partir desse sistema, montavam um caminhão
fantasma, com mesma quantidade de carga que chegava dos voos
internacionais, mas com produtos de baixo valor, como gabinete de
microcomputadores.
No setor de trânsito aduaneiro, onde a carga ficava armazenada até ser
levada ao seu destino, o caminhão fantasma entrava junto com um caminhão
vazio, que era preenchido pelas mercadorias contrabandeadas.
O primeiro seguia para alguma estação aduaneira, era registrado
normalmente e pagava um imposto de valor irrisório porque o produto
tinha valor baixo. O segundo caminhão, com a carga valiosa, saía do
aeroporto sem pagar imposto e se dirigia para cinco lojas receptadoras,
todas em São Paulo.
O grupo também falsificava documentos para que a carga constasse como
"apenas em trânsito" no Brasil, o que a libera de fiscalização e
pagamento de imposto, só cobrado no destino final. Nesses casos, a carga
era desviada na pista do aeroporto.
OUTRO LADO
O advogado Paulo Morais, que defende o auditor Francisco Plauto Moreira,
diz que não tem fundamento a acusação da Polícia Federal de que seu
cliente participava de fraudes em importações.
Segundo ele, Moreira é chefe de trânsito aduaneiro, área em que não são
feitas análises de preço nem de produto pois os funcionários que atuam
ali não têm acesso à declaração de importação.
A função desse setor, diz, é transferir produtos para o depósito alfandegário, onde é feito o controle de preço.
"O meu cliente diz que fazia de 1.600 a 2.000 operações por dia. Com
esse volume, nem dá para ler o que está escrito nos documentos. Se não
via o que passava, como poderia participar de fraudes?" A Folha não conseguiu localizar os advogados dos outros presos.
Fonte: FOLHA DE SP
Fonte: FOLHA DE SP
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