ONGs pedem a militares israelenses que protejam oliveiras de palestinos
Quatro ONGs israelenses de
defesa dos direitos humanos enviaram uma carta a comandantes militares
de Israel na Cisjordânia pedindo a eles que garantam a proteção de
agricultores palestinos e de suas propriedades durante a estação da
colheita das azeitonas.
As ONGs alegam que tem ocorrido uma escalada
preocupante nos atos de vandalismo por parte de colonos na Cisjordânia
contra oliveiras de palestinos. As ocorrências incluem um número
crescente de incêndios de olivais, derrubadas de árvores e roubos de
colheita.
O rabino Yehiel Grenimann, do grupo Rabinos
pelos Direitos Humanos, que ajuda agricultores palestinos na colheita
das azeitonas há cinco anos, disse à BBC Brasil que nunca viu "uma
destruição tão grande como neste ano".
Segundo o agricultor Zakariah Sada, da aldeia de
Jit nas proximidades da cidade de Nablus, neste ano o prejuízo dos
agricultores palestinos é "especialmente pesado".
"Milhares de oliveiras foram destruídas ou tiveram seus frutos roubados", afirmou Sada.
Cada oliveira pode gerar de dez a 12 litros de azeite por ano, e o preço por litro é de cerca de US$ 7 (quase R$ 12).
Sada contou à BBC Brasil que sua família possui
um pequeno olival, de 20 árvores, porém no dia em que foi realizar a
colheita descobriu que todas as azeitonas haviam sido roubadas.
O agricultor atribui aos colonos do assentamento Havat Gilad, que fica perto da aldeia, a autoria do roubo.
‘Jovens das colinas’
Havat Gilad, assim como o assentamento de
Itzhar, é habitado por colonos jovens, que pertencem à segunda e
terceira geração dos colonos israelenses na Cisjordânia, os chamados
"jovens das colinas", que deixam os assentamentos de seus pais para
criar assentamentos ilegais nos topos das colinas.
Esses colonos, conhecidos por suas posições
radicais, são considerados os principais responsáveis por atos de
agressão contra palestinos e instituíram a chamada "etiqueta de preço",
que significa ações de vingança contra civis palestinos.
Os “jovens das colinas” não formam um grupo organizado e não assumem publicamente atos de violência contra os palestinos.
Entretanto, nos últimos meses, depois que duas
mesquitas foram incendiadas na Cisjordânia, foram encontradas pixações
em hebraico com a expressão “etiqueta do preço” que indicavam a
participação deles nos ataques.
De acordo com as ONGs, entre cerca de 40 casos
de vandalismo registrados, o incidente mais grave ocorreu no dia 15 de
outubro, quando centenas de oliveiras pertencentes a quatro aldeias
próximas ao assentamento de Havat Gilad foram incendiadas.
O general de brigada israelense Ioav Mordechai,
mencionou os "jovens das colinas" em seu discurso, na quinta-feira, ao
se despedir do cargo de chefe da Administração Civil da Cisjordânia, que
ocupou nos últimos quatro anos.
"O fenômeno dos jovens das colinas é perigoso",
disse Mordechai. "Eles usam de violência contra soldados e agridem
palestinos, manchando o nome de todos os colonos."
Vandalismo
Segundo a porta-voz da ONG Btselem, Sarit
Michaeli, neste ano diminuiu o número de confrontos diretos entre
colonos e palestinos durante a colheita, porém aumentou "de maneira
significativa" a quantidade de atos de vandalismo contra as oliveiras.
Michaeli afirmou que o Exército israelense tem
cumprido a ordem da Suprema Corte de Justiça, emitida em 2006, de
acompanhar os agricultores palestinos aos olivais e garantir sua
segurança durante a colheita, para protegê-los de ataques de colonos.
"Porém, neste ano houve muitos casos em que os
agricultores chegaram até os olivais e encontraram árvores vazias ou
destruídas", disse a porta-voz à BBC Brasil.
"Exigimos que o Exército impeça os atos de vandalismo contra as oliveiras dos palestinos", disse.
Segundo Michaeli, "as regiões mais problemáticas
se encontram perto de alguns assentamentos radicais, como Itzhar e
Havat Gilad, no norte da Cisjordânia".
"Não exigimos que o Exército proteja cada
oliveira na Cisjordânia, o que obviamente é impossível, mas sim nas
aldeias mais expostas ao vandalismo, já conhecido, de alguns
assentamentos mais radicais", disse.
A advogada Maskit Bendel, da Associação de
Direitos Civis, disse à BBC Brasil que as ONGs pediram que a comissão de
Segurança do Parlamento realize uma discussão urgente sobre os atos de
vandalismo de colonos na Cisjordânia.
A oliveira é uma árvore de cultivo a longo
prazo, demora cerca de 20 anos para alcançar o auge de sua produtividade
e tem uma longevidade que pode chegar a centenas de anos.
Para os agricultores, as oliveiras, que passam
de geração a geração, também têm um valor afetivo, além de serem um
símbolo político da ligação com a terra.
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