por Rafael Saint-Clair Braga
Braga convenceu mãe
e irmã a deixarem as
Testemunhas de Jeová
Queridos colegas e amigos, olá!
Esta semana encerra um longo ciclo em minha vida. Quase todos aqui me conhecem pelo meus trabalhos em pintura, desenho e animação, bem como meus estudos em linguística. Porém, houve um ciclo que ocupou 26 anos de minha vida, desde os meus 6 anos de idade, quando comecei a estudar com as "Testemunhas de Jeová" (em 1990). Uma época em que esta "organização religiosa" tinha uma aparência em nada parecida com a empresa/corporação que se tornou nos últimos 5 anos.
Eu já não era mais feliz. A partir de 2010, percebia uma realidade muito diferente ao meu redor. Comecei a perceber que os irmãos ao meu redor não eram mais os mesmos, com um crescente exercício de "fraternidade" meramente diplomática, insistência em viverem de tal modo que, nitidamente, não os faziam com que tivessem uma vida plena e livre em Cristo Jesus.
Daí, comecei a visitar diversas congregações, tanto na cidade do Rio de Janeiro quanto em outros Estados da Federação: percebia um padrão em que todos eram os mesmos em suas interações com os "irmanados na fé", bem como uma crescente falta de amor genuíno e um exercício muito cínico por parte dos mesmos, chegando a incorrer em uma sociopatia aparente. Não à toa, isso começou a me afetar aos poucos. Percebia que não era mais eu mesmo! Estava apático, desanimado. Daí só foi um pulo, para um organismo humano (e não robótico) começar a apresentar somatizações tanto em nível orgânico quanto mental-emocional.
Em consequência, comecei a ter melancolia, depressão e eventuais crises de pânico. Jamais pude imaginar que a raiz de todo problema estava no elevado processo de inculcamento e doutrinação nociva do que nunca pude imaginar ser uma seita/culto com mecanismos idênticos de extirpação da individualidade e danos à mente. Cada vez que ia às assembleias e congressos percebia que o que era dito ali não fazia sentido! Jeová e Cristo Jesus jamais poderiam ser tão cruéis, tão burocráticos e terem prazer na escravização e sofrimento de seu povo, constituído de muita gente boa, porém ingênua e cega à realidade que as cercavam. Daí, também comecei a perceber que não era apenas eu que estava adoecido.
Os casos de depressão, síndrome do pânico e doenças de natureza nervosa cresciam assustadoramente entre os irmãos em várias congregações. A desculpa sempre previsível e utilizada era a de que eram "reflexos das tensões comum aos últimos dias". Porém, percebia que a maioria dos casos eram consequência de algo a mais que não se reduzia às pressões do mundo exterior e sim de um mecanismo opressivo e de padronização de tudo, inclusive do pensar. Logo, pensei em agir de maneira mais pragmática ao perceber que o problema não estava em mim e sim em uma ideologia nociva e danosa à mente de muitos.
A partir de 2012, decidi ir me afastando deste mecanicismo. Fui me retirando aos poucos das reuniões da congregação, por mais que me dissessem ser um sinal de "fraqueza", e notei que os sintomas e angustia desapareciam. Então, o problema estava dentro das congregações e das assembleias e congressos e, principalmente, no conteúdo do que era discursado e pregado nesses ambientes. Mas, até então, jamais tinha acesso ao que eram etiquetados como "materiais apostatas". Até que em um belo dia, no início do mês de março deste ano (mais precisamente no dia 6 de março), algo me chamou a atenção.
Percebi que na tela do computador havia um thumbnail de um vídeo do site "YouTube" intitulado "A origem das Testemunhas de Jeová". É um documentário de 1986. Foi um pulo para que o assistisse na íntegra e tomasse conhecimento de coisas que jamais poderia imaginar! Daí comecei a investigar a veracidade de tudo o que fui pesquisando, sempre dando margem às duvidas, pois poderiam ser realmente matérias sensacionalistas contra uma minoria. Infelizmente, tudo que pesquisava a respeito se confirmava verdadeiro e assustadoramente chocante. Chorava todas as noites, pois não queria que minha irmã e mãe (também TJs) soubessem de tantas décadas de injustiças, manipulações e sujeiras indescritíveis. A minha preocupação era, principalmente, com minha mãe (já em seus sessenta anos e com problemas de saúde inerentes à idade).
Foram mais dois meses (abril e maio) “preparando o terreno" para minha irmã caçula e minha mãe para acordarem e revelar os escândalos em doses homeopáticas para facilitar a assimilação de que o que vivemos em tantos anos não se passava de uma mentira, uma grande heresia, uma ilusão. Daí, tudo começou a fazer sentido para mim. Já não tinha episódios depressivos porque já tinha identificado a causa de tudo. Para minha felicidade, me surpreendi com a força e garra de minha mãe! Em uma tarde no início de junho, ela decidiu saber de tudo e pediu para que eu revelasse toda minha pesquisa para ela.
Conclusão, minha mãe disse que nunca poderia viver uma mentira e que não seria conivente com tantas injustiças. Acabou que a minha irmã foi a mais reticente, mas, depois concordou em saber de tudo. Junho, julho e agosto foram meses de muitas pesquisas: horas lendo fontes de vários sites sérios (como JWSurvey, AAWA, JWFacts, dentre outros), bem como vários depoimentos de queridos irmãos dissidentes espalhados pelo mundo. Devoramos o livro Crises of Concience, de Raymond Franz (minha mãe em 3 dias). Todas as nossas pesquisas apresentam-se reunidas nesta carta.
Agradeço imensamente aos queridos "strugglers" (lutadores) Marc Cora Latham (pelo conteúdo de seus canais no YouTube), John Cedars (pelo material disponibilizado no site JWSurvey) e muito, especialmente, ao grande irmão e amigo Osmanito Torres que foi de uma fraternidade, humanidade e amizade que jamais pude experienciar em nenhum "irmão e achegado comigo na 'fé' ". Ele também me ajudou na presente carta (reunião de argumentos e materiais).
Por último, quero agradecer a todos os membros deste grupo que sempre me ajudam ao postarem suas dores, experiências e conselhos. Estamos todos em um mesmo barco. Porém, agora livres em Cristo e, realmente, como filhos de Deus. E também aberto às amizades daqueles que, por ventura, não possuem fé alguma. Imenso apreço a todos. Um grande abraço.
Leia mais em http://www.paulopes.com.b
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