No século 1º, o romano Flato procura uma fonte milagrosa cuja água dê
sabedoria a quem a beber. Ele percorre o mundo e experimenta a água de
onde passa, mas o único efeito que obtém é a formação de gases
intestinais. Na Palestina, ele é contratado por um garoto para desvendar
um crime atribuído injustamente ao seu pai. Esse menino é bochechudo e
tem orelhas de abano. Seu nome é Jesus, que se torna assistente nas
investigações de Flato, de quem leva reprimendas e cascudos.
Esse é o resumo da sátira “A assombrosa viagem de Pompônio Flato” (Editora Planeta) escrita pelo espanhol Eduardo Mendonza (foto), 68. Ele é um estudioso das religiões e ateu.
Mendonza começou a escrever o livro como um divertimento e deu conta de
que poderia abordar a religião e a história por intermédio do humor. Ele
classifica o livro como um ‘thriller esotérico’.
Pegou a adolescência de Jesus porque se trata de um período sobre o qual
não há relatos na Bíblia. “Nem há a certeza se Jesus existiu mesmo.
Como os evangelhos canônicos não falam da infância de Jesus, decidi
jogar com esse vazio, como poderia ter inventado uma história sobre o
Rei Artur ou o Super-homem.”
Ele afirma que o romance não é blasfemo, tanto que não houve reação da
Igreja Católica. O que é de se lamentar, diz em tom de brincadeira,
porque, se igreja tivesse criticado o livro, ele teria vendido mais. “E,
na melhor das hipóteses, eu teria sido excomungado.”
O escritor não vê contradição em um ateu conhecedor das religiões. Disse
que, como no caso da maioria das pessoas, recebeu uma educação
contaminada pela crença e se tornou ateu aos poucos, à medida que ia
tomando consciência da repressão religiosa ao sexo e de todo o tipo.
“Era cruel submeter os rapazes ao temor constante por um Deus
implacável”, disse. “Mais tarde dei conta de que tudo não passa de um
sistema absurdo inventado por homens malvados que queriam submissão das
demais pessoas.”
Como ateu, diz, ele está em condições de observar as religiões com
isenção e senso crítico, como no caso da avaliação que faz das
escrituras sagradas dos cristãos.
“A Bíblia propõe a conquista pela força, a vingança, o assassinato, a
submissão da mulher, a superioridade de uma raça e de uma religião sobre
as demais. É um conjunto de horrores. Mas não deixa de ser um relato
muito divertido.”
Fonte: PAULOSWEBLOG
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