Comissão irlandesa pediu testemunho de clérigos, mas governo concedeu imunidade aos religiosos
LONDRES - O Vaticano proibiu seus oficiais de
testemunhar ante uma comissão irlandesa que investigava abusos sexuais
cometidos por padres e mostrou irritação quando esses religiosos foram
convocados para depor em Roma, revelam documentos diplomáticos
divulgados pelo site WikiLeaks neste sábado, 11, segundo informações do
jornal britânico The Guardian.
Segundo o relatório, intitulado "Escândalos de abusos sexuais
prejudicam relações Irlanda-Vaticano, estremecem Igreja irlandesa e se
mostram desafio para a Santa Sé", afirma que "várias pessoas do Vaticano
ficara ofendidas" e sentiram que Dublin "falhou ao respeitar e proteger
a soberania do Vaticano durante as investigações" com a convocação de
clérigos para depor.
O documento cita o embaixador irlandês no Vaticano, Noel Fahey,
como dizendo a diplomatas americanos que a crise dos abusos cometidos
por padres irlandeses era a pior com a qual ele já havia lidado. Segundo
ele, o governo de Dublin queria ser visto como "cooperador com as
investigações", já que seu próprio sistema de educação estava envolvido,
mas políticos se sentiam intimidados em pedir a colaboração do
Vaticano.
Ainda de acordo com o relatório, o governo irlandês, porém, cedeu
às pressões do Vaticano e concedeu imunidade aos acusados. Diplomatas
irlandeses tentaram convencer o Vaticano de que "ignorar os pedidos da
comissão só tornariam as coisas piores", mas só em 2009 a Santa Sé se
posicionou sobre os casos.
Apesar da falta de colaboração do Vaticano, a comissão prosseguiu
com as investigações e descobriu que vários padres tentaram encobrir os
casos de abuso, colocando os interesses da Igreja acima das vítimas.
Segundo a comissão, 320 pessoas denunciaram abusos entre 1975 e 2004 só
na arquidiocese de Dublin.
As denúncias desataram uma profunda crise na Igreja Católica.
Protestos foram realizados em vários países para pedir a renúncia do
papa Bento XVI e vários bispos e cardeais deixaram seus cargos.
Posteriormente, o pontífice pediu desculpas pelos abusos e prometeu
mudanças na Igreja.
Fonte: Estado de SP
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