A última escalada da violência entre ultranacionalistas russos e
caucasianos aconteceu no 4 de dezembro último, quando um torcedor do
time Spartak Moscou foi baleado na cabeça durante uma briga com um
cidadão oriundo do Cáucaso, região habitada principalmente por
muçulmanos no sul da Rússia.
Cinco pessoas foram detidas no âmbito das investigações, sob suspeita
de envolvimento no assassinato, mas quatro delas foram liberadas logo a
seguir, o que incitou os conflitos étnicos existentes em Moscou. Há
duas semanas, os ataques a minorias vêm acontecendo com regularidade na
cidade.
Durante o último fim de semana, aproximadamente 1.300 manifestantes
foram detidos em Moscou, como forma de prevenir uma escalada ainda maior
da violência. Muitos entre os detidos são ainda bastante jovens, em
idade escolar.
Problema antigo
Enquanto o assassinato do torcedor de futebol Yegor Sviridov parece
ter desencadeado os recentes conflitos em Moscou e nos arredores da
cidade, a tensão étnica, em si, não é um fenômeno novo na Rússia.
Ataques xenófobos vêm acontecendo no país há vários anos. Yevgeni
Volk, da Fundação Yeltsin, de Moscou, observa que o governo está
perdendo as rédeas em relação aos ultranacionalistas: "Está
absolutamente claro que as forças ultranacionalistas, que foram
explicitamente apoiadas pelo governo durante vários anos, como
contrapartida à oposição democrática, realmente aumentaram sua
influência no país".
Segundo ele, "agora parece que o governo perdeu o controle sobre
essas forças xenófobas radicais na Rússia. Acredito que esse seja um
fenômeno realmente muito perigoso, que pode acabar se voltando contra as
próprias autoridades".
Marionetes e manipuladores
Para alguns observadores, o aspecto mais notável em relação aos
jovens ultranacionalistas é o pensamento e o planejamento latentes em
suas manifestações. Ao acompanhar as detenções durante o fim de semana,
Anatoli Kucherena, advogado e membro da Câmara Pública Russa, afirmou à
Deutsche Welle que não havia dúvidas de que os protestos haviam sido
orquestrados.
"Com certeza, há alguém por trás disso. Tem gente manipulando esses
jovens como marionetes e dizendo a eles para irem às ruas lutar", afirma
Kucherena. Kantemir Hurtayev, líder do Congresso Russo dos Povos
Caucasianos, concorda com a ideia de que alguém está dando as cartas nos
bastidores das manifestações.
Apenas 30 pessoas apareceram para protestar contra a xenofobia na
mídia e contra o nacionalismo em geral. Estou convencido de que foi
feito muito trabalho anteriormente, a fim de mobilizar esses jovens e
instaurar esse caos. Eles talvez não façam ideia do que acontece, mas
são discípulos de um provocador", diz Hurtayev à Deutsche Welle.
Falta de estratégia coerente
Há quem diga que a habilidade de auto-organização dos nacionalistas
só deixa a fragilidade do governo mais aparente. A polícia pode afastar
rapidamente centenas de manifestantes potencialmente violentos quando
estes se reúnem para protestar, mas críticos argumentam que isso não
ajuda no combate do problema do racismo a longo prazo.
"Penso que a estratégia do Kremlin é muito fraca e não
suficientemente eficaz", diz à Deutsche Welle Alexander Rahr, do
Conselho Alemão de Relações Exteriores. "Muitas palavras e poucas ações
reais", completa.
Rahr acrescenta que a frustração na Rússia em relação ao agravamento
dos problemas sociais e econômicos, bem como a sensação de desamparo da
classe baixa em relação à impossibilidade de mudar as coisas,
transforma-se em agressão. "Isso agora está sendo direcionado para os
migrantes, que acabam levando a culpa por todas as deficiências dos
sistemas econômico e social", analisa Rahr.
Novas manifestações planejadas
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, defende uma "resposta
severa" à violência, mas enquetes recentes mostram que os moscovitas
estão cada vez mais preocupados com o número de russos "não étnicos" na
cidade.
Ao mesmo tempo, uma onda de retórica antinacionalista emergiu na
internet russa, dividindo a sociedade em dois campos opostos. Sob o
slogan "Abaixo o Cáucaso", outro encontro nacionalista em massa está
marcado para o dia 25 de dezembro.
Autores: Anya Ardayeva / Jegor Winogradow (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: DEUTSCHE WELLE
Nenhum comentário:
Postar um comentário