A
corrupção que permeia a política e a administração pública brasileiras;
o descolamento dos mandatos eletivos não somente do eleitorado que os
constitui, mas também dos filiados e militantes dos partidos políticos; e
o poder acachapante das oligarquias partidárias; em suma, o desempenho
deplorável, no Brasil, das duas instituições que levam, diretamente, ao
bom ou ao mau funcionamento da democracia em qualquer país do mundo, que
são os partidos políticos e a representação popular; tudo isso está
cristalino na recém-concluída montagem do futuro Governo do Estado, como
as águas da nascente do rio dos Pinheiros, em Anitápolis, que a
multinacional Bunge iria poluir sob os auspícios do Governo Luiz
Henrique da Silveira.
Entretanto,
alguns fatos e situações me chamaram mais a atenção nesse processo. Por
exemplo: o que poderia ter impedido o vice-governador Eduardo Pinho
Moreira, médico que é, de assumir a Secretaria da Saúde, e, assim,
corrigir os problemas crônicos da área mais sensível de qualquer Governo
nos três níveis federativos, principalmente porque essa promessa foi a
principal razão da vitória de Raimundo Colombo, já no primeiro turno
eleitoral? Por que é que o vice-governador Eduardo Moreira, depois de
ter deitado raízes por um longo tempo na CELESC, mira, agora, através do
seu sempre lugar-tenente, Paulo Meller, na direção do DEINFRA, órgão
resultante da fusão do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de
Santa Catarina- DER, com o Departamento de Edificações e Obras
Hidráulicas- DEOH? O que poderia ter levado João Rodrigues e Marco
Tebaldi, que acabaram de obter o primeiro mandato de deputado federal, a
abdicarem do seu exercício para ocupar, respectivamente, as Secretarias
da Agricultura e Desenvolvimento Rural e da Educação? O que poderia
levar o senador da República, Paulo Bauer, a quase obter o cargo de
secretário da Educação pela terceira ou quarta vez, ao invés de
“brilhar” na tribuna da Câmara Alta do Congresso Nacional, “rivalizando”
com o seu colega de bancada do PSDB e exímio argumentador, o senador
pelo vizinho Estado do Paraná, Álvaro Dias? Os jornais informaram que
seria um orçamento, para o próximo ano, em torno de R$ 2,69 bilhões. O
maior partido, há muito tempo, de Santa Catarina: o PMDB, não tinha como
lançar mão de um advogado militante à altura de ocupar o cargo de
secretário da Justiça e Cidadania? Salta aos olhos a competência dos
políticos catarinenses, de que é prova a grande quantidade de suas
especializações técnicas. Dalírio Beber irá do BADESC para a CASAN.
Antônio Gavazzoni irá da Secretaria da Fazenda para a CELESC. Enio
Andrade Branco, depois de ter sido secretário da Casa Civil, de Governo e
de Comunicação, e ocupado a presidência ou diretoria da CODESC,
FUCADESC, TELESC, DETER, CELESC, CELG (Companhia Energética de Goiás) e,
mais recentemente, uma assessoria na Prefeitura de São Paulo,
desembarcou em Florianópolis como o futuro presidente da CASAN,
terminando no comando da SC Parcerias. Confrontado com denúncias feitas
pelo sindicato dos empregados da CASAN, Enio Branco rebateu-as afirmando
que exerceu a presidência da CELG na condição de técnico. Os políticos
criam o mundo do faz de conta e querem, a todo custo, nos fazer
acreditar que ele, realmente, existe. Antônio Gavazzoni, ao obter, do
futuro governador Raimundo Colombo, a indicação de todos os diretores da
CELESC, egressos dos quadros da Secretaria da Fazenda, declarou que
fará uma administração técnica na maior estatal catarinense. Como se tal
iconoclastia fosse permitida a um prócer do DEM e, ainda por cima,
cunhado do presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Gelson
Merísio. A postura concentracionista do: ou eu, ou o meu “único”
amigo-irmão (Paulo Meller; Milton Martini- futuro secretário da
Administração-, em relação ao ex-governador Paulo Afonso Vieira), ou o
meu filho (Filipe Mello, em relação ao deputado federal Jorginho Mello),
só pode revelar, ao analista que enxergue um palmo à sua frente, as
reais intenções dos políticos com a ocupação dos cargos públicos.
No
frigir dos ovos, sabem qual foi a única escolha de secretário que eu
achei inovadora, na montagem do Governo do Estado que tomará posse no
dia 1º de janeiro próximo? Sinceramente: a do deputado federal Paulinho
Bornhausen, para ocupar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico!
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