Por Brian Winter
SÃO PAULO (Reuters) - A presidente eleita Dilma Rousseff planeja
medidas agressivas, como aumento de tarifas e redução de impostos, para
lidar com os prejuízos que o real valorizado causa a empresas
manufatureiras.
A força do real, que é uma das moedas mais sobrevalorizadas do
mundo, foi a principal questão econômica nas reuniões recentes de Dilma
com conselheiros antes da posse em 1o de janeiro, disseram à Reuters
fontes próximas ao futuro governo.
"Há uma preocupação aguda sobre o câmbio", disse uma autoridade
sênior do governo de Dilma, falando em condição de anonimato porque a
presidente ainda não tomou posse. "Nós estávamos esperando que a
situação melhorasse antes (da posse), mas não há sinais disso ... e nós
percebemos que precisamos agir rápido."
O real subiu 11 por cento contra o dólar desde maio, e acumula
alta de mais de 100 por cento desde 2003, com a forte expansão da
economia brasileira e as elevadas taxas de juros atraindo enormes fluxos
de capital dos países desenvolvido.
Taxas de câmbio sobrevalorizadas têm sido um problema em toda a
América Latina e no mundo em desenvolvimento, em parte devido aos
desequilíbrios restantes da crise financeira de 2008 e 2009. O ministro
da Fazenda, Guido Mantega, alertou sobre uma "guerra cambial", enquanto
países como Estados Unidos e China tentam deprimir o valor de suas
moedas e tomam outras medidas para impulsionar a produção e as
exportações locais.
Como exemplo do tipo de medida que Dilma adotaria para aliviar os
problemas gerados pelo real forte, fontes citaram a decisão tomada
nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar as
tarifas sobre 14 tipos de brinquedos importados, de 20 para 35 por
cento.
"Você verá mais medidas nessa linha (das tarifas sobre
brinquedos) nos próximos meses..., sempre respeitando nossas obrigações
internacionais (sob acordos comerciais)", disse a autoridade sênior, sem
especificar setores. "A defesa comercial é legítima", acrescentou.
A decisão de Lula é permitida sob as regras internacionais de
comércio por causa das provisões que permitem que o Brasil proteja a
indústria doméstica, disse uma autoridade do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A indústria brasileira de brinquedos, como muitas outras
manufatureiras nacionais, reduziu o número de vagas nos últimos anos,
apesar do crescimento econômico geral. O real valorizado deixou os
produtores locais incapazes de competir com as importações baratas da
China -- que agora responde pela maior parte das vendas de brinquedos no
mercado brasileiro, de acordo com a Associação Brasileira dos
Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).
A China é acusada por muitos outros governos, como os EUA, de manter sua moeda artificialmente depreciada.
As manufatureiras nacionais pedem há meses para o governo
aumentar as tarifas de importação em certos setores. Lula hesita a
fazê-lo em meio à expansão do consumo no último ano de sua Presidência e
à crescente relação comercial entre Brasil e China. A alta das tarifas
sobre brinquedos coincidiu com o fim do mandato de Lula e a passagem do
Natal.
Ainda assim, autoridades disseram que a continuidade da forte
entrada de dólares e os níveis menores de produção industrial ao longo
de 2010 fizeram a equipe econômica de Dilma ter uma abordagem mais
agressiva.
INCENTIVO TRIBUTÁRIO PARA BENS INTERMEDIÁRIOS E FINAIS
A elevação de tarifas, se realizada em grande escala e imitada
por outros países, pode espalhar temores de uma onda de protecionismo
que poderia atrapalhar a recuperação econômica global.
Porém, a decisão de manter o foco de curto prazo na atenuação das
consequências do real forte, ao invés de tentar enfraquecer
agressivamente a moeda, pode ter consequências secundárias positivas nas
ações e nos mercados de bônus.
O governo recorreu, nos últimos meses, a elevações do imposto
(IOF) sobre investimentos em bônus e ações locais como uma forma de
desencorajar o influxo de dólares. A possibilidade de taxar mais as
transações acionárias pressionou a Bovespa nos últimos meses, disse
Oliver Leyland, gerente de carteira de ações da Mirae Asset, em São
Paulo.
Para Leyland, a alta em certas tarifas "fazem algum sentido" como método para aliviar a pressão gerada pelo real.
Ele disse, no entanto, que a política pode acabar sendo "neutra
para o mercado", uma vez que tarifas mais elevadas em setores como aço
-- que ele considera um candidato "óbvio" -- podem acelerar a inflação
dos bens de consumo, erodindo lucros.
Dilma anunciou cortes moderados no Orçamento para 2011, que devem
ajudar a reduzir a pressão sobre a taxa de câmbio. Impostos mais baixos
e políticas que encorajem a inovação são outras ferramentas que a
presidente eleita pode utilizar para ajudar as indústrias locais a
recuperar competitividade em casa e no exterior.
"A melhor coisa (para enfraquecer o real) seria uma queda rápida
nos juros, claro", disse uma das fontes. "Mas nós reconhecemos que isso
não vai acontecer (no futuro próximo)."
As fontes disseram à Reuters que é provável que incentivos
tributários sejam implementados no curto prazo para manufatureiras de
alguns bens intermediários e finais, que foram especialmente
prejudicadas pelo real forte.
Fonte: REUTERS
"Nós vamos olhar para todas as partes da cadeia produtiva ...
para incentivar as exportações e reduzir o dano", disse uma autoridade.
(Reportagem adicional de Raymond Colitt)
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