Documentos recentemente liberados da CIA e das Forças Armadas
norte-americanas confirmam que, após a Segunda Guerra Mundial,
autoridades aliadas protegeram antigos nazistas e criminosos de guerras,
caso provassem que poderiam ser úteis e cooperativos.
"Sem dúvidas, o advento da Guerra Fria outorgou à inteligência
norte-americana novas funções, novas prioridades, e novos inimigos.
Prestar contas com alemães ou com seus colaboradores se tornou menos
urgente. Em alguns casos, isso se tornou até contraproducente", afirma o
relatório divulgado na última sexta-feira (10/12) pelo Arquivo Nacional
dos Estados Unidos.
"Apesar das variações, esses casos específicos apresentam um padrão: a
questão de capturar e punir criminosos de guerra se tornou menos
importante ao longo do tempo."
O relatório denominado Hitler's Shadow: Nazi War Criminals, US Intelligence and the Cold War
(A sombra de Hitler: criminosos de guerra nazistas, inteligência dos
EUA e a Guerra Fria), se baseia em informação considerada confidencial
até 2005 e veio a público graças ao Ato de Divulgação de Crimes de
Guerra Nazistas, um esforço de Washington com vista a uma posição mais
crítica sobre seus próprios segredos.
O documento lança um olhar sobre uma série de antigos membros da SS e
da Gestapo que escaparam da Justiça, com os Estados Unidos tolerando
essa escapada ou mesmo ajudando-os a fugir.
Rudolf Mildner, por exemplo, foi preso inicialmente em uma operação à procura de criminosos de guerra que pudessem levar a um movimento clandestino de resistência nazista.
As autoridades norte-americanas sabiam que Mildner havia pertencido à
Gestapo durante muito tempo, mas nunca o pressionaram para saber mais
detalhes sobre crimes da Gestapo contra judeus ou outros grupos.
Capturado e interrogado em Viena, as autoridades norte-americanas o
consideraram "muito confiável e cooperativo".
No entanto, um olhar mais detalhado sobre seu passado revelou que ele
ordenara a execução de 500 a 600 poloneses no campo de extermínio de
Auschwitz. Confrontado com as acusações, Mildner confessou e o relatório
menciona que ele tentou racionalizar suas ações, defendendo que eram
para "preservar a ordem e evitar sabotagem".
Posteriormente, países como a Polônia e o Reino Unido pediram a
extradição de Mildner. Mas de acordo com o relatório "localizar e punir
criminosos de guerra não estavam no topo das prioridades das Forças
Armadas norte-americanas no final de 1946."
Acredita-se que autoridades dos EUA o protegeram da extradição e
facilitaram até mesmo sua posterior fuga para a América do Sul, que se
tornou um refúgio para muitos criminosos de guerra nazistas fugindo da
Justiça.
O material recentemente liberado também lança luz sobre os planos da
Alemanha nazista no Oriente Médio, onde as lideranças do regime de
Hitler estabeleceram estreitos laços com o Grande Mufti de Jerusalém,
Amin Al-Husseini.
Husseini recebeu substancial apoio financeiro e logístico da Alemanha
nazista, que pretendia usá-lo para o controle da Palestina, uma vez que
a Alemanha tivesse derrotado o Reino Unido no Oriente Médio. Na época,
Husseini e Berlim se uniram principalmente por verem nos judeus um
inimigo comum.
Os arquivos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas recentemente
liberados definem que os Aliados sabiam o suficiente sobre o passado de
Husseini para considerá-lo um criminoso de guerra. Temendo a
perseguição, ele fugiu para a Suíça, onde as autoridades locais o
entregaram à França.
Por temer agitação política na Palestina, o governo britânico foi
contra levar Husseini a julgamento. Ele foi então morar na Síria e no
Líbano, sempre refutando acusações de ter tido laços com a Alemanha
nazista. Ele alegou que visitou Berlim somente para evitar a prisão
pelos britânicos.
Ex-nazistas empregados por serviços de espionagem ocidentais
No começo deste ano, a Alemanha liberou documentos da Stasi que
mostravam em detalhes como o serviço de inteligência da antiga Alemanha
Ocidental empregava antigos nazistas e criminosos de guerra em sua base
de pessoal. O serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental foi
formado com a ajuda dos aliados.
Como o bloco soviético se tornou o inimigo comum após 1945, diversos
historiadores afirmaram que autoridades aliadas aceitaram amplamente que
ex-nazistas escapassem da Justiça, caso suas habilidades se provassem
úteis para as novas frentes da Guerra Fria.
Autor: Andreas Illmer (ca)
Fonte: DEUTSCHE WELLE
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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