Em fevereiro de 1943, quando a derrota de Estalingrado tornara
evidente que seria absurdo prosseguir a Segunda Guerra Mundial e que a
Alemanha não tinha como vencê-la, o ministro da Propaganda do Reich,
Joseph Goebbels, fez um comício no Sportpalast de Berlim, perguntando ao
microfone: "Vocês querem a guerra total?". "Sim", gritou a massa em
uníssono.
Grave transtorno de personalidade
Goebbels discursa para 100 mil pessoas em Zweibrücken, em 1934Esse era o ponto forte de Joseph Goebbels.
O ministro da Propaganda de Hitler sabia como mobilizar as massas, inflamá-las e manipulá-las a serviço da ideologia nazista. Eram famosas as suas incitações contra os judeus, com as quais ele preparara o terreno para a política de extermínio nacional-socialista.
Em sua biografia de 900 páginas Joseph Goebbels - Biographie,
o historiador Peter Longerich esboça, no entanto, um Goebbels bem
distinto do homem poderoso do regime nazista. Longerich foi o primeiro
historiador a investigar todos os diários de Goebbels que restaram. Em
suas anotações de 1924 até o seu suicídio em 1945, o político registrou
pensamentos, observações e acontecimentos, escrevendo assim uma
cronologia do nazismo através de uma ótica pessoal.
A partir desses testemunhos, Longerich reúne indícios de que Goebbels
sofria de um grave transtorno de personalidade. O grande propagador do
nazismo buscava de forma extrema o reconhecimento por parte de outras
pessoas, indica o historiador.
Uma possível origem disso pode ter sido a deficiência provinda de uma
doença da medula óssea em sua infância. Goebbels tinha baixa estatura e
era aleijado. Durante toda a vida, o estrategista de Hitler lutou por
reconhecimento, mesmo que se mostrasse forte e superior.
Uma religião chamada nacional-socialismo
Nascido na Renânia, uma região predominantemente católica, Goebbels
se afastou da religião desde cedo. E o nacional-socialismo acabou se
tornando para ele um substituto da religião. Seu novo redentor se
chamava Adolf Hitler.
"Ao que tudo indica, ele considerava Hitler realmente um enviado de
Deus, um homem com habilidades super-humanas", explica Longerich a
completa fixação de Goebbels em seu ídolo. O partido e Hitler lhe
propiciaram a ascenção social e o reconhecimento que ele ansiava. E
assim Goebbels se tornou o mais leal adepto e uma pessoa de absoluta
confiança do ditador nazista.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Em
sua biografia, Longerich traça a trajetória de Goebbels desde o início
de sua carreira fracassada como escritor e jornalista doutorado,
passando pela fase em que ele se tornou um agitador do movimento
nacional-socialista. O livro acompanha seu percurso como ministro da
Propaganda do Reich, uma função na qual procurou obter domínio completo
sobre a cultura e a opinião pública, e por fim como plenipotenciário da
"guerra total".
A receita de sucesso de Goebbels foi usar e aperfeiçoar os métodos da
agitação de massa empregados nas disputas eleitorais da República de
Weimar. Quanto à mídia, conseguiu mantê-la sob controle por meio da
censura.
Fixação em Hitler
Ao assumir o controle sobre todos os âmbitos da cultura, do teatro ao
cinema, passando pela música, ele se projetou como político cultural. O
biógrafo Longerich considera peculiar essa posição de poder que
Goebbels insistiu em assumir. "Embora ele certamente tenha sido a figura
dominante da propaganda nazista, nunca conseguiu controlar
absolutamente o aparato. Medido por seus próprios padrões de qualidade,
no fundo não foi tão longe".
Mas sem o ministro da Propaganda Goebbels, responsável por ter
estabelecido Hitler como uma "marca", a política nazista jamais teria
tido o alcance que teve. O estrategista recorreu ao lema "Um Führer – Um
Povo", usando virtuosamente as mídias novas da época, o rádio e o
cinema, como canais de manipulação.
Magda, esposa de Goebbels, com seus filhos, em 1928A
biografia de Longerich esboça o retrato de um homem que sacrificaria
tudo para obter reconhecimento e êxito, até mesmo sua própria família.
Em 1º de maio de 1945, poucos dias antes de Hitler se matar e de a
Alemanha capitular, Goebbels e sua mulher Magda cometeram suicídio.
Pouco antes, o casal assassinara seus seis filhos. Esse cínico
homicídio colocou um ponto final desesperado a uma vida de identificação
incondicional com Adolf Hitler.
Autora: Sigrid Hoff (sl)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: DEUTSCHE WELLE
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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